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Ano 5 - N° 244 - 22 de Janeiro de 2012

CLAUDIA GELERNTER
claudiagelernter@uol.com.br
Vinhedo, SP (Brasil)

 


Claudia Gelernter

Espíritas, precisamos falar sobre a morte 

Parte 2 e final

Depois, no momento do nascimento [sob o ponto de vista deste mundo], o Espírito é obrigado a deixar o estado de homeostase, típico do ventre materno, onde não lhe falta alimento, a temperatura é constante, os sons abafados, para entrar num outro mundo, muito mais agressivo, com necessidades, variações, ameaças. Apesar do acolhimento materno, as sensações desagradáveis são constantes neste novo contexto. 

Seguindo nosso desenvolvimento, vamos deixando a fase de bebês para nos tornarmos cada dia mais autônomos: aprendemos a nos comunicar, vamos construindo novos saberes através de nossas experiências e, dependendo do meio onde estivermos inseridos, mais as tendências que trazemos em nosso íntimo, podemos aprender a lidar com as perdas que vão acontecendo ao longo dos anos, de uma forma saudável.

Vamos crescendo fisicamente e, no âmbito psicológico, entre os seis e nove anos de idade, podemos compreender os três componentes básicos do conceito de morte: a universalidade, a não-funcionalidade e a irreversibilidade (Kovács, 1992). Aprendemos, sob o ponto de vista material, que todos morremos e que, quando isso acontece, não funcionamos mais [o corpo]. E que isso não tem volta... Não dá para “desmorrer”. (Kovács, 1992).

Em pouco tempo nos vemos às portas da adolescência. Novamente saímos de uma fase para entrar em outra, ainda mais complicada. Se até aqui possuíamos a proteção fornecida pelo que chamaremos de latência das tendências do material inconsciente³, a partir de agora nossas tendências eclodirão, rápidas e muita vez assustadoras. Temos de enfrentar o luto pelo corpo infantil perdido e ao mesmo tempo tentar dar conta daquilo que surge em nós, inesperadamente, impulsionando-nos para determinadas respostas emocionais, nunca imaginadas. É neste momento que muitos pais se perguntam: “Quem é este meu filho que não mais reconheço?”.

Da adolescência até a entrada no mundo adulto são poucos anos. Novos desafios à frente: o enfrentamento do mundo profissional, a constituição de uma nova família, os cuidados com os filhos que chegam etc. Todas as experiências encontram ressonância na Lei Maior – Lei Divina ou Natural – na qual estamos imersos. Portanto, tudo o que nos acontece até aqui e depois desta fase tem um porquê, um objetivo, uma meta que, se compreendida, tornar-se-á mais fácil de ser concretizada.

Seguimos a valsa da vida e, se ainda encarnados, tornamo-nos idosos. Vamos nos aproximando da reta final de nossa existência corporal, tendo de lidar com os lutos relacionados com esta fase, como, por exemplo, a aposentadoria, que altera radicalmente a identidade das pessoas. Precisamos deixar de ser esse ou aquele profissional [médico, advogado etc.] para nos apresentarmos ao mundo como ‘aposentados’. E junto desta perda da antiga identidade profissional, segue a perda de funções do corpo, da vitalidade, da mobilidade, da memória etc. Perde-se ainda, em muitos casos, a segurança material ou ainda o respeito dos familiares que veem nos idosos apenas um peso a ser carregado pela sociedade, sem nada de positivo a realizar pelo mundo [problema da cultura ocidental, como um todo].

Enfim, como pudemos perceber, se levarmos em conta apenas os ciclos naturais de desenvolvimento, teremos diversos lutos a serem elaborados, de acordo com a fase que estivermos vivenciando. Entretanto, em cada fase teremos de enfrentar não apenas as perdas relacionadas ao estágio em que nos encontramos, mas muitas outras que surgirão, inesperadas, a nos convocar fechamentos abruptos de situações, vivências, empenhos. Falo das diversas mortes simbólicas, além das de ordem física ou parental. Pessoas significativas que desencarnam ou que se afastam de nosso convívio, situações financeiras que se alteram, desligamentos profissionais, perda de objetos importantes etc. são alguns dos exemplos comuns do nosso cotidiano. A forma como lidamos com todos estes fechamentos é individual e depende, essencialmente, de nossa formação, de nossa capacidade para lidar com estes desafios existenciais.

Do luto normal ao patológico

Viktor Frankl, psiquiatra austríaco que teve contatos com Freud e Adler, tornou-se médico em 1930. Teve uma vida repleta de grandes desafios, sendo alguns deles impressionantes, como, por exemplo, sua prisão em campos de concentração nazistas. Era judeu, e foi prisioneiro de Auschwitz e Dachau, onde ficou detido por quase três anos. Ao ser libertado, descobriu que havia perdido quase toda sua família – foram mortos seu pai, sua mãe, sua esposa e seu irmão. Contou, em entrevista realizada na África do Sul, no ano de 1985, que quando esteve nestes campos vivenciou muitas dores físicas e emocionais, mas que, em contrapartida, percebeu a necessidade de se encontrar um sentido no sofrimento. Criador da logoterapia4, Frankl ensinava que o sentido da vida pode ser encontrado por uma pessoa através de três caminhos:

1) o exercício de um trabalho que seja importante, ou a realização de um feito, uma missão, que dependa de seus conhecimentos e de sua ação, e que faça com que a pessoa se sinta responsável pelo que faz;

2) o amor a uma pessoa ou a uma causa, uma ideia, o que estabelece uma responsabilidade para com a pessoa amada ou à causa defendida;

3) diante de um sofrimento inevitável, assumir uma postura de buscar um significado e utilidade para a dor, pois, através da experiência, cada pessoa pode contribuir para a vida de outras pessoas.

“Dentro de cada um de nós há celeiros cheios onde nós armazenamos a colheita da nossa vida. O significado está sempre lá, como celeiros cheios de valiosas experiências. Quer sejam as ações que fizemos, ou as coisas que aprendemos, ou o amor que tivemos por alguém, ou o sofrimento que superamos com coragem e resolução, cada um destes eventos traz sentido à vida. Realmente, suportar um destino terrível com dignidade e compaixão pelos outros é algo extraordinário. Dominar seu destino e usar seu sofrimento para ajudar os outros é o mais alto de todos os significados para mim.” (Frankl, 1985).

Portanto, para conseguirmos encontrar este significado maior, precisaremos compreender a importância das perdas em nossas vidas, retirando de tais experiências muito mais que a dor vivida, mas, acima de tudo, um porquê para esta dor existir e os possíveis caminhos, a partir de tal constatação.

No chamado ‘luto normal’, a pessoa elabora a perda, compreendendo que o ciclo se encerrou e, após um período de empobrecimento do mundo a seu redor, com certo sofrimento, o sujeito retoma a vida em suas mãos, buscando ligar-se afetivamente a outras pessoas ou atividades que tragam prazer. Um exemplo clássico são as viúvas que passam a se dedicar a uma causa religiosa. Este processo é tido como normal e as pessoas que aprendem a elaborar suas perdas desta forma [desde a infância] tendem a repetir esta maneira de vivenciarem as situações de luto por toda a vida.

Entretanto, existe outro tipo de luto, muito mais complicado, chamado de ‘luto patológico’.
Neste caso, a pessoa não consegue elaborar a perda satisfatoriamente. A não aceitação da finitude de uma fase ou de uma pessoa ou ainda de um objeto ou relacionamento pode levar o sujeito a um estado de prostração ou revolta constante. Em outros casos, rebaixa-se a autoestima e a pessoa descreve-se como não merecedora de nada de positivo que possa vir do mundo. Trata-se dos casos de melancolia, descritos por Freud em seu texto Luto e Melancolia, de 1914. Segundo o pai da psicanálise, nos casos da melancolia, a pessoa tem um empobrecimento do ego e não consegue dirigir sua energia, sua afetividade para outras pessoas ou atividades. (Freud, 1914). Podemos afirmar, sob a ótica do Dr. Viktor Frankl, que esta pessoa não conseguiu encontrar um sentido no sofrimento.

E, alinhavando com os conhecimentos espíritas, consideramos ainda que as experiências anteriores [de vidas passadas], aliadas à forma que a pessoa aprendeu a lidar com as perdas desde a primeira infância, acabam por orientar a maneira como elabora os tantos lutos que se sucedem durante a existência.

Aceitando a morte para melhorar a vida

Até aqui já falamos sobre a importância de uma educação para a morte, no sentido de se buscar um sentido para a vida. Cabe-nos dizer, ainda, que para isso temos à nossa disposição algumas ferramentas preciosas. Uma delas – o Espiritismo – amplia nossos horizontes à medida que nos descortina a realidade Espiritual – nossa verdadeira natureza, nossos objetivos e necessidades, a importância das relações interpessoais para o nosso desenvolvimento e do mundo à nossa volta, assim como os possíveis resultados destas relações conforme nossa atuação neste mundo. Sabemos, através da Doutrina Espírita, que somos seres em constante transformação, vivendo inúmeras existências, num ir e vir constante, e que, a cada uma destas existências, vamos nos tornando mais maduros, mais esclarecidos e, portanto, mais próximos da perfeição – objetivo final de todos nós.

Só quando aceitarmos nossa finitude, encarando-a de frente, conseguiremos refletir satisfatoriamente sobre a vida que levamos. Com isso não continuaremos mais ‘levando a vida’, mas passaremos a buscar compreender o que a vida realmente espera de nós. Deixaremos de ‘tocar os dias’, numa rotina impensada, como alienados existenciais, para atuarmos no mundo com objetividade, encontrando um sentido para cada nova experiência, sublimando sentimentos, transcendendo.

Só assim, libertos deste dogma ideológico que instituiu ao mundo o silêncio sobre as questões da morte, poderemos seguir adiante, livres para escolher com clareza e responsabilidade aquilo que realmente é importante para nós.



Notas: 

1. Distanásia é a prática pela qual se prorroga, através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um enfermo incurável. Também pode ser conhecida como “obstinação terapêutica”. (fonte: Wikipédia).

2. Tem-se verificado que alguns profissionais da saúde que não conseguem elaborar as perdas dos pacientes, tendo nelas um conceito de fracasso profissional, exigindo-se mais do que o possível [e ideal], podem apresentar a síndrome de Burnout (do inglês to burn out, queimar por completo), também chamada de síndrome do esgotamento profissional, assim denominada pelo psicanalista nova-iorquino, Freudenberger, após constatá-la em si mesmo, no início dos anos 1970. A dedicação exagerada à atividade profissional é uma característica marcante de Burnout, mas não a única. O desejo de ser o melhor e sempre demonstrar alto grau de desempenho é outra fase importante da síndrome: o portador de Burnout mede a autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional. O que tem início com satisfação e prazer termina quando esse desempenho não é reconhecido. Nesse estágio, necessidade de se afirmar, o desejo de realização profissional se transforma em obstinação e compulsão. (fonte: Wikipédia).

3. Segundo os Espíritos, a infância é o período da vida física mais importante para o aperfeiçoamento do Espírito encarnado, uma vez que suas tendências anteriores estão adormecidas em função do processo reencarnatório. É no período da adolescência, como nos esclarecem os Espíritos na pergunta 385 de O Livro dos Espíritos, que o Espírito encarnado começa a retomar suas características de Espírito eterno em processo de evolução. 

4. A Logoterapia é um sistema teórico – prático de psicologia, criado pelo psiquiatra vienense Viktor Frankl, que se tornou mundialmente conhecido a partir de seu livro "Em Busca de Sentido" (Um Psicólogo no Campo de Concentração), no qual expõe suas experiências nas prisões nazistas e lança as bases de sua teoria. De acordo com Allport, "trata-se do movimento psicológico mais importante de nossos dias". A Logoterapia é conhecida como a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, sendo a Psicanálise Freudiana a Primeira e a Psicologia Individual de Adler a Segunda. (fonte: Wikipédia)
 

Referências bibliográficas:

ARIÈS, P.; A História da Morte No Ocidente. Trad. P. V. Siqueira. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.

FRANKL, V.; A Descoberta de Um Sentido No Sofrimento, Entrevista na África do Sul, 1985, disponível no Youtube, http://www.youtube.com/watch?, acessado em 11 de setembro de 2011.

Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Editora Vozes, 1991.

FREUD, S.; Luto e Melancolia. Edição Standard Brasileiras das Obras Completas de Sigmund Freud, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1917 [1915]/1974.

KARDEC. A.; O Livro dos Espíritos, 1ª edição comemorativa do sesquicentenário, FEB, Rio de Janeiro, 2006.

KOVÁCS, M. J.; (org) Morte e Desenvolvimento Humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.
PAIVA, L.E.; A Arte De Falar Da Morte Para Crianças: A Literatura Infantil Como Recurso Para Abordar a Morte Com Crianças e Educadores. Aparecida, SP: Ideias e Letras, 2011.

PIRES, H.; Educação Para a Morte. São Bernardo do Campo: Correio Fraterno do ABC. 5ª edição, 1996.

QUINTANA, A.M.; Morte e Formação Médica: É Possível a Humanização?; in Santos (organizador), F.; A Arte de Morrer – Visões Plurais; Bragança Paulista. SP: Editora Comenius, 2009.

TORRES, W.C.; A Criança Diante da Morte: Desafios; São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, 1999.
 

(A primeira parte deste artigo foi publicada na edição passada desta revista.)


                                                


 

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