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Ano 4 - N° 163 - 20 de Junho de 2010

ALEXANDRE FONTES DA FONSECA
afonseca@puvr.uff.br
Volta Redonda, Rio de Janeiro (Brasil)

 
 

O que seria Pureza Doutrinária segundo o Espiritismo? 

(Parte 2 e final)

A pureza doutrinária, interpretada, como disse Jesus, em Espírito
e Verdade
, nada mais é do que vivenciar o Espiritismo
em toda e qualquer circunstância


Notem que os bons Espíritos, ao mesmo tempo que afirmam que as diferentes doutrinas espiritualistas possuem “acessórios sem fundamento” que as fazem parecer “contraditórias entre si”, dizem que o estudo delas não deve ser desprezado pois elas também contêm “verdades esparsas. Mas isso não significa que devemos importar práticas de outras doutrinas já que, como os bons Espíritos também disseram na mesma questão acima, “a ciência sagrada (...) dentro de um conjunto equívoco e, (...), emblemático ...”, e esses sistemas das filosofias antigas “(...) facilmente coordenáveis se vos apresentam, graças à explicação que o Espiritismo dá (...)”. Se o Espiritismo, como eles disseram, contém comunicações mais “completas e instrutivas”, qual a vantagem de utilizarmos conceitos e práticas oriundas de outras doutrinas espiritualistas que se acham dispersos e “em meio de acessórios sem fundamento”? Por acaso um médico opera um paciente utilizando os procedimentos do Séc. XV só porque algumas verdades eram conhecidas na época?  

4. O QUE SERIA PUREZA DOUTRINÁRIA SEGUNDO O ESPIRITISMO?

Podemos, agora, responder à questão apresentada no título deste artigo. Pureza Doutrinária, dentro do Movimento Espírita, nada mais é do que agir de acordo com o que ensina o Espiritismo.  

Não faz sentido verificar se a Doutrina Espírita é pura, pois isso é redundante. Não há necessidade de defender algo que já é bem constituído. PD não tem, portanto, efeito sobre a Doutrina Espírita em si. PD se aplica ao Movimento Espírita porque este representa a atitude das pessoas que o constituem e que precisam ter consciência se aquilo que estudam, praticam e vivenciam reflete os ensinamentos da Doutrina Espírita. Mas, como vimos nas sessões anteriores, o Espiritismo não condena estudos e práticas só por serem diferentes, mas pede discernimento e estudo para que tenhamos consciência do que estamos fazemos. Diante de novidades, é importante primeiro investigá-las de modo cuidadoso e profundo para não corrermos o risco de assimilarmos algo que não corresponda à verdade.  

Apesar disso parecer simples, a falta da clareza da linguagem (vide Introdução) levou a entendimentos equivocados a respeito da PD. Em decorrência disso, críticas se levantam à PD e, diante do exposto até aqui, a PD é, justamente, a solução dos questionamentos dos que a defendem e a combatem.  

A explicação para os equívocos realizados em nome da PD pode ser deduzida do que o Espiritismo ensina. No item 5 do Cap. VI do Evangelho segundo o Espiritismo7, o Espírito de Verdade assim se expressa com relação ao Cristianismo:  “No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram”. Da mesma forma, são de origem humana os erros que se têm cometido em nome da PD. O erro não está em defender PD, pois PD significa agir em conformidade com os ensinamentos espíritas que, por sua vez, são a expressão mais pura do Evangelho. Os companheiros que defendem a PD podem agir em desacordo com o seu real significado, e os companheiros que consideram a PD um excesso de zelo prejudicial ao desenvolvimento do Movimento Espírita assim o pensam em razão de equívocos e, talvez, abusos realizados em nome da PD. Como o Espiritismo nos ensina que não devemos julgar, em nome da PD também não se pode julgar. A Bondade Divina nos situou nas posições em que melhor podemos progredir e o erro, muitas vezes, faz parte do processo, não nos cabendo o julgamento do próximo. O que nos cabe é a defesa do que nós entendemos ser o correto, de acordo com o Espiritismo, e por isso devemos defender uma PD com amor, com vivência real do Evangelho à luz do Espiritismo.  

5. EXEMPLOS DE KARDEC 

Nessa seção apresentaremos dois exemplos significativos de Kardec sobre sua postura doutrinária, como espírita, perante algumas novidades. Esses exemplos servem como referência de PD segundo o Kardec. 

Primeiro, vamos citar a reação de Kardec ao ler as obras de Roustaing, Os Quatro Evangelhos. Kardec, em matéria na Revista Espírita de junho de 1866, assim se expressa quanto à sua apreciação geral: “É um trabalho considerado, e que tem, para os Espíritas, o mérito de não estar, sobre nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada por O Livro dos Espíritos e o dos médiuns”. Esse comentário é importante pois mostra a imparcialidade de Kardec frente às novidades, ao mesmo tempo que revela o exemplo de leitura crítica sem desrespeito.  

Adiante, ele demonstra sua prudência dizendo que: “Consequente com o nosso princípio, que consiste em regular a nossa caminhada sobre o desenvolvimento da opinião, não daremos, até nova ordem, às suas teorias, nem aprovação, nem desaprovação, deixando ao tempo o cuidado de sancioná-las ou de contradizê-las. Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais aos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, e que, em todos os casos, têm necessidade da sanção do controle universal, e até mais ampla confirmação não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita”. Esse comentário é um exemplo de aplicação da PD perante o novo assunto: ao invés de lançar anátema, Kardec se abstém de aprovar ou não, aguardando o desenvolvimento futuro em que os Espíritos poderiam confirmar ou não o conteúdo das obras de Roustaing.  

Kardec esclarece que se de um lado Os Quatro Evangelhos não se afastam dos princípios contidos em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, diferente se dá com as aplicações desses princípios a certos fatos. Daí Kardec cita o detalhe a respeito da proposta, contida na obra de Roustaing, de que o corpo de Jesus não era de carne, mas sim fluídico. Kardec, sobre isso, então, diz: “Sem dúvida, não há aí nada de materialmente impossível para quem conhece as propriedades do envoltório perispiritual; sem nos pronunciar pró ou contra essa teoria diremos que ela é ao menos hipotética, e que, se um dia ela fosse reconhecida errada, a base sendo falsa, o edifício desmoronaria”. Notem a honestidade de Kardec em reconhecer que a proposta não é de todo impossível. Mas, ao mesmo tempo, reconhece a importância dessa questão para todo um conjunto de explicações a respeito dos fenômenos realizados por Jesus. Apesar de conhecer objeções a essa proposta, e de considerar que ela é desnecessária para explicar os fatos realizados por Jesus, Kardec não a prejulga ou condena e propõe que se aguarde o futuro. Além disso, ele deixa claro que a obra contém outros pontos bons e que pode ser “consultada proveitosamente pelos Espíritas sérios”. 

Passados dois anos, Kardec publica A Gênese9 (1868) que retoma o assunto, agora, com mais estudo e conhecimento sobre a questão. No Cap. XV, itens de 64 a 67, sob o título “Desaparecimento do Corpo de Jesus”, Kardec mostra que além de desnecessária, a hipótese do corpo fluídico de Jesus não condiz nem com os fatos nem com a análise moral da situação. Reproduziremos apenas a conclusão de Kardec, ao final do item 66 do referido capítulo: “Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência”.         

O segundo exemplo que queremos mencionar decorre apenas de um comentário de Kardec sobre a proposta de alguns médicos de sua época de que a Homeopatia poderia curar males morais. Kardec, no artigo do mês de Março de 1867 da Revista Espírita expõe longo argumento sobre o assunto. Novamente, em resposta a uma carta de um médico homeopata, no número de Dezembro de 1867, Kardec novamente expõe seu argumento. Entretanto, ao final da matéria de Dezembro de 1867, Kardec diz que “Como em tudo, os fatos são mais concludentes do que as teorias, e são eles, em definitivo, que confirmam ou derrubam estas últimas, desejamos ardentemente que o Sr. doutor Grégory publique um tratado especial prático da homeopatia aplicada ao tratamento das moléstias morais, a fim de que a experiência possa se generalizar e decidir a questão”. (Grifos nossos.) Sabemos que, nos dias de hoje, diversos grupos espíritas realizam a prática de terapias alternativas dentro do centro espírita. Realmente, o Espiritismo não trata de terapias alternativas, nem mesmo de Homeopatia, mas o comentário de Kardec acima contém implicitamente uma orientação segura e de acordo com o caráter progressivo do Espiritismo, para quem deseja se dedicar à prática de tais terapias dentro do Movimento Espírita. O destaque em negrito resume a orientação de Kardec: ao invés de simplesmente usar tais terapias alternativas, aqueles que se interessam por elas devem buscar realizar trabalhos sérios de pesquisa, buscando “publicar tratados práticos” sobre o assunto, que possam ser analisados por outros estudiosos permitindo que a “experiência possa se generalizar e decidir” sobre sua validade como prática dentro do contexto das atividades espíritas. Acreditamos que tem faltado ao Movimento Espírita um pouco do espírito investigativo de Kardec e que se manifesta claramente na colocação acima. Se ele fosse contrário à pesquisa, ele não diria que os fatos é que poderiam decidir sobre a validade de uma questão.  

No caso específico da Homeopatia, cumpre esclarecer que Kardec apenas questionou a ideia dela poder curar males morais, o que estaria em desacordo com a mensagem do Evangelho de que somos responsáveis pelos nossos atos. Isso não significa que, em si, a Homeopatia não pudesse ser usada pelos bons Espíritos no trabalho de ajuda à saúde das pessoas. A Homeopatia é um tipo de terapia alternativa à alopatia que é aceita pelos conselhos de medicina no Brasil e no mundo, tem sido pesquisada de modo sério perante as ciências ortodoxas, e tem o apoio da Espiritualidade através do fato de que muitos centros espíritas contam com trabalhos de receituário mediúnico. Acreditamos que a generalização do uso de outras terapias ou práticas dentro do Movimento Espírita requer semelhante trabalho de pesquisa (material e espiritual), para que elas não se tornem práticas místicas, isto é, feitas sem saber como, por quê e para quê.  

Entretanto, diante do fato de que poucas pessoas conhecem os requisitos de um trabalho de pesquisa mais profundo (Kardec os conhecia muito bem), sugerimos àqueles que se interessam pelas terapias alternativas que contactem pesquisadores profissionais, que sejam espíritas, e que possam orientar um trabalho de pesquisa genuíno e que possa gerar os resultados de valor científico. Quem quiser conhecer uma introdução ao trabalho de pesquisa científica pode consultar as aulas de Ciência e Espiritismo10 publicadas entre os Boletins do GEAE de 483 a 500, especialmente as aulas de números 14 a 18. A realização desse tipo de trabalho investigativo (que enfatizamos ter sido um dos fortes exemplos de Kardec perante as novidades) não só estaria em sintonia com o Espiritismo, mas removeria a capa de misticismo em que muitas dessas práticas se envolvem. E, se ao final de vários trabalhos de pesquisa, se concluir que determinadas terapias não são necessárias dentro do contexto de atividades espíritas, não há nada do que se envergonhar em reconhecer e modificar atitudes.  

Ainda servem de exemplos interessantes, a postura prudente e imparcial de Kardec com relação ao surgimento de romances espíritas11,12 e o artigo de Kardec “Espiritismo Independente”, no número de Abril de 1866 da Revista Espírita.  

6. CONCLUSÃO 

Para ajudar no entendimento do que seria pureza doutrinária, segundo o próprio Espiritismo, utilizamos, ao longo do texto, a expressão “o Espiritismo” com destaque em negrito e no formato itálico. Isso foi feito com o propósito de realizar o seguinte teste: o significado de pureza doutrinária pode ser entendido bastando substituir a expressão “o Espiritismo”, pela expressão “pureza doutrinária”. Esse seria, a nosso ver, a melhor forma de entendermos o significado de pureza doutrinária segundo o Espiritismo. 

De modo a percebermos a preocupação da Espiritualidade com a fidelidade doutrinária, transcrevemos abaixo uma recomendação de Bezerra de Menezes6: “Enfrentais no momento dificuldades que se multiplicam. Tendes pela frente desafios inumeráveis. Lobos vestem-se de ovelhas para ameaçarem o rebanho. Permanecei vigilantes como estais demonstrando, a fim de passarmos às gerações do futuro a Doutrina dos Espíritos na pulcritude e nobreza com que a recebemos de Allan Kardec e dos Mensageiros que a compuseram”. (Grifos nossos.) Outras mensagens recentes da espiritualidade têm chamado a atenção para o cuidado com o Espiritismo como, por exemplo, a recente mensagem chamando os Espíritas à “fidelidade aos projetos do Espírito de Verdade”13

Se PD significa agir de acordo com o Evangelho, vamos incentivar a PD em nossas atividades espíritas. Os equívocos em torno do conceito de PD podem ser resumidos em duas palavras: orgulho e egoísmo. Orgulho e egoísmo estão por detrás das afirmativas em tom “rude”, do desrespeito e desprezo por quem pensa diferente e, também, ocorre com quem recebe críticas contrárias às suas ideias e não se dispõe a meditar sobre elas e discuti-las de modo saudável. Propomos a criação de uma campanha pela DEFESA DA PUREZA DOUTRINÁRIA COM AMOR (isso é redundante, mas ajuda a entender o objetivo principal). Não precisamos abrir mão da Doutrina Espírita para sermos fraternos uns com os outros e nos mantermos cada vez mais unidos.            
 

Nota: O autor agradece aos professores Dra. Maristela Olzon D. de Souza, Prof. Dr. Sylvio D. de Souza e ao amigo Carlos Iglesias (Editor do GEAE) pela leitura crítica deste trabalho e por valiosas discussões e sugestões.
 

Referências: 

[1] Frase original, em inglês, obtida do capítulo IV da referência [2]: “On the contrary, the chief profit we can derive in these problems from the progress of modern science is to learn how cautious we have to be with language and with the meaning of the words”.

[2] K. Wilber, Quantum Questions, Shambhala Publications, Boston, (2001).

[3] Frase original, em inglês, obtida do capítulo IV da referência [2]: “... Socrates was aware of how many misunderstandings can be engendered by a careless use of language, how important it is to use precise terms and to elucidate concepts before employing them”.

[4] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a. Edição, (1995).

[5] Emmanuel, Psicografia de Francisco C. Xavier, Pão Nosso, Editora FEB, 18a. Edição (1999).

[6] B. de Menezes, Psicofonia de Divaldo P. Franco, Reformador, Dezembro pp. 446-447 (2005).

[7] A. Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, Editora FEB, 112a. Edição (1996).

[8] A. Kardec, Os Evangelhos Explicados, Revista Espírita Jornal de Estudos Psicológicos Junho p. 19 (1866).

[9] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36ª Edição (1995).

[10] A. F. Da Fonseca, Aulas de Ciência e Espiritismo, Boletim do GEAE nos. 483 a 500 (2004-2005). Internet: http://www.geae.inf.br/pt/boletins/colecao.php.

[11] A. Kardec, Os Romances Espíritas, Revista Espírita Jornal de Estudos Psicológicos Dezembro p. 3 (1865).

[12] A. Kardec, Notícias Bibliográficas, Espírita, Revista Espírita Jornal de Estudos Psicológicos Março p. 17 (1866).

[13] Camilo, Psicografia de Raul Teixeira, Reformador, Janeiro pp. 30-31 (2006).

Publicado originalmente no Boletim do GEAE n. 529, 15 de Setembro de 2007 - http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae529.html.

 

Alexandre Fontes da Fonseca é professor de Física na Universidade Federal Fluminense, em Volta Redonda (RJ).
 


 


 

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