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Ano 3 - N° 133 - 15 de Novembro de 2009

RICARDO BAESSO DE OLIVEIRA 
kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil) 
 


 

Lições de um missionário

 Por tudo o que fez e pelo que não fez; por tudo que disse e por aquilo que não disse, D. Hélder Câmara pode ser considerado um missionário de Jesus reencarnado em terras brasileiras
 

Dom Hélder Câmara (foto) (1) completaria 100 anos de existência física este ano, se ainda estivesse reencarnado entre nós.

Considerado como o religioso mais importante do Brasil em diversas pesquisas de opinião realizadas por vários anos sucessivos e como o maior profeta da América Latina do século XX, pela maioria dos intelectuais católicos.

Culto, leitor voraz, de uma inteligência primorosa,  jamais  traiu os  ideais  de

simplicidade do evangelho. Conviveu com as pessoas mais influentes da época (compadre de Roberto Marinho) sem perder a simplicidade e sem deixar-se picar pela “mosca azul”.

Profeta da Teologia da Libertação antes mesmo que Gustavo Gutierrez apresentasse suas ideias em 1971, destacou-se como um dos bispos mais atuantes no Concílio Vaticano II (1962 a 1965).

Conselheiro pessoal de Juscelino, foi convidado a ser o primeiro prefeito de Brasília, tendo recusado o convite de forma discreta. Amigo de dois papas, João XXIII e Paulo VI, sempre denunciou os abusos da Igreja e sua conivência com os erros dos poderosos.

Arcebispo de Recife e Olinda por muitos anos, viveu junto dos carentes e necessitados, recusando habitar o palácio episcopal, preferindo uma casinha modesta junto de uma igreja, onde ele mesmo atendia ao telefone.  Recebeu 16 títulos de Doutor honoris causa das mais prestigiosas universidades europeias e americanas, mas se emocionava em todas as missas que rezava e fazia suas refeições em restaurantes modestos e botequins, cercados de fiéis por todos os lados.

Por tudo o que fez e pelo que não fez; por tudo que disse e por aquilo que não disse, pode ser considerado um missionário de Jesus reencarnado em terras brasileiras.

Aprendamos com ele.

Em certa ocasião, a polícia federal bateu à sua porta:

– Viemos oferecer-lhe uma equipe de segurança. Se o Senhor morrer em acidente ou for assassinado por um louco, a culpa recairá sobre o regime militar.

Dom Hélder achou graça com tamanho cuidado com a sua segurança. De fato, preocupação com a imagem do Brasil no exterior:

– Não carece. Já tenho três pessoas que cuidam muito bem da minha segurança.

Os delegados ficaram surpresos:

– Mas não consta dos nossos registros. Ninguém pode ter segurança privada, sem autorização oficial. Dê-nos os nomes deles.

O arcebispo aquiesceu:

– Pois não. São o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 

“Eu sou o jumentinho do Domingo de Ramos!”, disse ele
 a Madre Teresa de Calcutá
 

Uma noite, uma pobre família recorreu a ele:

– Seu bispo, a polícia levou nosso pai confundido com um bandido. Estão batendo muito nele.

Dom Hélder compareceu à delegacia.

– Seu bispo – exclamou o delegado –, o Senhor por aqui?

– Sim – respondeu Dom Hélder –, vim em busca do meu irmão.

– Seu irmão!?

– Está preso aqui. É o fulano!

O delegado ordenou a imediata libertação do preso.

– Mas os Srs. são tão diferentes – observou o delegado – na cor e no nome!

Dom Hélder não titubeou, disse a verdade que, talvez, o delegado não tenha captado:

– É que somos filhos do mesmo Pai.

Em uma de suas viagens, Dom Hélder se encontrou com Madre Teresa de Calcutá (foto). Numa conversa amiga, ela lhe perguntou: “Dom Hélder, como é que o senhor faz quando o povo o aplaude e bate palmas. Como reage o seu coração?” Ele sorriu e respondeu: “Eu sou o jumentinho do Domingo de Ramos!  As  palmas  do povo  não  são

para o jumentinho, mas para Jesus”!

Em sua posse como arcebispo de Recife e Olinda, disse:

– No Nordeste do Brasil, Jesus se chama Zé, Maria e Severino.

Quando um dos padres se aproximava dele e tratava-o por “senhor”, ele rebatia de imediato:

– Senhor é Deus! Nós somos irmãos e podemos nos chamar de “você”.

No Recife, encontrou um clero no qual havia padres conservadores. Nunca, ninguém pôde dizer que foi preterido ou marginalizado pelo arcebispo. Ele gostava de repetir:

– Se você concorda comigo, me confirma. Mas, se discorda, me ajuda mais porque me obriga a aprofundar o meu ponto de vista.

Um bom exemplo de como ele praticava isso aconteceu em 1969. Dom Hélder denunciou torturas praticadas contra prisioneiros. O Jornal do Comércio publicou uma entrevista com o vigário de uma paróquia central da cidade. O tal monsenhor dizia que o arcebispo defendia bandidos porque nunca foi vítima dos seus atos delinquentes. E concluía: “Seria bom que fosse assaltado e torturado para não defender mais a bandidos”.

Os irmãos da pastoral exigiram que Dom Hélder desse uma resposta à altura.

Ele defendeu o direito do padre manifestar sua opinião, escusando-se a resposta, com o seguinte argumento:

– Isso do qual me acusa não é justo, mas tenho outros pecados. Aceito a acusação do que não fiz para que Deus me perdoe algum mal que fiz. 

“Para nós, cristãos, a comunhão com o Pai parece mais simples, mas damos pouco de nós para vivê-la bem” 

Durante alguns anos, ele presidiu a missa da Festa de Nossa Senhora dos Prazeres. No segundo ano da festa, seu carro quebrara antes do Morro dos Guararapes. O arcebispo subiu a pé. Tomou uma das ladeiras de terra. E, no caminho, viu em uma casa que ali se reunia uma comunidade umbandista. Parou e entrou na casa. Cumprimentou todos, abençoou-os e se fez abençoar por eles. Depois, retomou o caminho e foi celebrar a missa da festa.

Consultado sobre isso, ele sorriu e respondeu que tinha uma profunda admiração a esses irmãos que suam, cansam, pulam e dançam a noite inteira para receber o Espírito. Concluiu: “Para nós, cristãos, a comunhão com o Pai parece mais simples e, entretanto, nós damos pouco de nós mesmos para vivê-la bem. Esses irmãos do xangô têm muito a nos ensinar”.

Conselho dado ao papa Paulo VI:

– Ah! Santo Padre, seria tão bom se o senhor pudesse fechar o Banco do Vaticano, o Banco de Roma, o Banco católico de Vêneto e pudesse doar todo o Vaticano para a Unesco, a serviço da cultura mundial! O senhor então iria descobrir uma casa pequena, uma casa de dimensão humana em Roma, e passaria a morar lá. Uma casa abrindo para uma praça, de maneira que o senhor pudesse receber peregrinos do mundo, recebê-los como gente! Como eu gostaria de vê-lo no meio do povo! O povo segurando o Papa, empurrando o Papa, todo mundo dando a mão ao Papa. Naturalmente, seus conselheiros dirão que não pode ser, que há perigo até de um atentado. Perdoe-me, Santo Padre, mas todas as noites eu peço para que o Papa um dia seja morto. Há tanto tempo que pastor não morre pelas suas ovelhas! 

 “Se não estou enganado, nós, homens de Igreja, deveríamos realizar dentro dela as mudanças
que exigimos da sociedade”
 

Alguns pensamentos de Dom Hélder: 

“Nunca se deve temer a utopia. Agrada-me dizer e repetir: quando se sonha só, é um simples sonho, quando muitos sonham o mesmo sonho, é já a realidade. A utopia partilhada é a mola da história.”

“No dia em que a juventude for comedida, prudente e fria como a velhice, o país morrerá de tédio.”

“Ai de nós se só aprovações e louvores encontrássemos em nosso caminho: acabaríamos acreditando no próprio valor, o que costuma ser o começo do fim.”

“Cheguei a pensar em minha infância que o Cristo talvez tivesse exagerado ao falar no perigo da riqueza. Hoje, sei que é dificílimo ser rico e conservar entranhas humanas.”

“Nós também temos nossas falhas e nossos pecados, pois encobrimos injustiças sociais gritantes com esmolas generosas e espetaculares.”

“O moralismo e o jurisdicismo fizeram muito mal na Igreja. São gravemente responsáveis pela partida de muitos, pela indiferença de um número ainda maior de outros, e pela falta de interesse dos que poderiam olhar a Igreja com simpatia, mas são tomados de desânimo diante de nosso farisaísmo.”

“Se não estou enganado, nós, homens de Igreja, deveríamos realizar dentro dela aquelas mudanças que exigimos da sociedade.”

“Com muita frequência, falamos em pecados, mas prefiro falar em fraquezas. Quanto mais se conhece as pessoas por dentro, melhor se percebe que existe bem mais fraqueza do que malignidade.”

“Digo a vocês: o ideal é ter as mãos de Marta e o coração de Maria.”

“Os que não creem têm em comum com os que creem que o Senhor acredita neles.”

“Gostaria de ser uma simples poça d’água para refletir o céu.”

“Quando dou comida aos pobres, chamam-me de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista.”

“Sempre e em todo lugar do mundo, se se procura viver verdadeiramente o Evangelho, corre-se o risco de dissabores.”

“O Criador não quer salvar somente a alma. Quer salvar o homem todo, corpo e alma, com herança no céu e na Terra também.”

“Há misérias gritantes, diante das quais não temos o direito de ficar indiferentes. Muitas vezes, o jeito é dar um atendimento imediato. Mas não venho ajudar ninguém a se enganar, pensando que basta um pouco de generosidade e de assistência social.”

“Na guerra contra a injustiça, oitenta por cento do tempo e dos esforços devem ser dedicados à mudança das estruturas e à promoção humana, mas os vinte por cento restantes devem estar disponíveis para socorrer os feridos, as vítimas da guerra.”
 

(1) Dom Hélder Pessoa Câmara (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909  Recife, 27 de agosto de 1999) foi bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife e um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro, pregava uma Igreja simples voltada para os pobres e a não-violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi o único brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz.



 

 

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