WEB

BUSCA NO SITE

Edição Atual
Capa desta edição
Edições Anteriores
Adicionar
aos Favoritos
Defina como sua Página Inicial
Biblioteca Virtual
 
Biografias
 
Filmes
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Mensagens na voz
de Chico Xavier
Programação da
TV Espírita on-line
Jornal
O Imortal
Estudos
Espíritas
Vocabulário
Espírita
Efemérides
do Espiritismo
Esperanto
sem mestre
Divaldo Franco
Site oficial
Raul Teixeira
Site oficial
Conselho
Espírita
Internacional
Federação
Espírita
Brasileira
Federação
Espírita
do Paraná
Associação de
Magistrados
Espíritas
Associação
Médico-Espírita
do Brasil
Associação de
Psicólogos
Espíritas
Cruzada dos
Militares
Espíritas
Outros
Links de sites
Espíritas
Esclareça
suas dúvidas
Quem somos
Fale Conosco
 
Especial Inglês Espanhol    

Ano 3 - N° 111 – 14 de Junho de 2009

JÁDER SAMPAIO
jadersampaio@uai.com.br
Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil)

 

Visão espírita das curas e passes na tradição
judaico-cristã

A imposição de mãos foi utilizada com frequência por Jesus, embora não haja relatos de passes (movimentação de mãos), e as obsessões foram quase totalmente tratadas com diálogos estabelecidos com os Espíritos que Jesus tratava com autoridade

 (2ª Parte) *
 

As curas dos apóstolos e os dons na comunidade cristã


O livro dos atos dos apóstolos contém a maioria das narrativas de curas efetuadas por eles. Ao contrário de Jesus, os apóstolos eram homens comuns, do povo, que muitas vezes chegaram a duvidar de Jesus. Embora Jesus os tivesse enviado em seu nome, vê-se que enquanto o Mestre vivia algumas vezes eles não conseguiam realizar sua tarefa, como é o caso do menino epiléptico citado anteriormente.

Tal era a centralidade de Jesus, que os sacerdotes do templo apostaram no fim do movimento cristão com o sacrifício do Mestre. Todos conhecem o episódio que sucede à prisão de Jesus, no qual Pedro inicialmente corta a orelha de Malco e posteriormente nega a Jesus por três vezes, conforme o próprio Mestre havia profetizado.

Ao contrário do que eles esperavam, estes homens continuaram cristãos, tomaram para si a tarefa de evangelização do mundo, converteram outros e mostraram capacidade de curar e de falar em línguas desconhecidas, muitas vezes interpretadas na linguagem evangélica como “dons do espírito”. (At. 2:38, At. 10:45, I Cor. 12:27-30.)

Quase todos os apóstolos foram martirizados, a maioria deles por Roma, dada a ameaça cultural ou talvez estranheza que o Cristianismo passou a representar ante os valores da civilização romana, além dos variáveis interesses políticos dos governantes.

Pedro (At. 3:1-10) cura um aleijado que esmolava na porta do Templo de Jerusalém com um olhar e um toque, pronunciando palavras que ficariam célebres: “Nem ouro nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareu, põe-te a caminhar.”

Ananias ora e impõe as mãos sobre a cabeça de Saulo, o perseguidor dos cristãos, a pedido de Jesus que lhe aparece. O judeu-romano recupera a visão. (At. 9:12-18)

Enviado a Roma para ser julgado, Paulo cura o pai de Públio (At. 28:7-9) na ilha de Malta, impondo as mãos sobre ele e orando. Este padecia de disenteria e febre. Depois do sucesso do apóstolo dos gentios, os cidadãos doentes da ilha passam a procurá-lo para serem tratados.

Outro fenômeno associado à imposição de mãos nas comunidades cristãs dos primeiros tempos é a indução de dons do Espírito (o “dom das línguas” e a “profecia”, entre outros), que o Espiritismo entende como sendo uma referência à mediunidade.

No livro de Atos dos Apóstolos (At. 8:14-17), Pedro e João impõem as mãos sobre os samaritanos e eles “recebem o espírito santo”. Igualmente, Paulo (At. 19:6) impõe as mãos sobre os cristãos de Éfeso e eles “recebem o Espírito Santo, profetizam e falam línguas estrangeiras”.

Ainda me é obscura a trajetória da prática de imposição de mãos entre os cristãos dos séculos vindouros. Com o advento da missa, a prática parece tornar-se cada vez mais simbólica, ficando as curas cada vez mais reservadas aos relatos das vidas dos santos, de papas e, curiosamente, dos reis cristãos. O Concílio de Trento consagrou a imposição de mãos como ato de ordenação e, mais recentemente, os neopentecostalistas no meio evangélico e a renovação carismática no meio católico utilizam a imposição de mãos com o objetivo de cura.

O toque de mãos dos reis cristãos

Frazer (1982) já havia proposto uma associação evolutiva entre o feiticeiro e o rei (aos reis da antiguidade atribuir-se-iam os poderes de um feiticeiro). Michaelus (1983, p. 70) afirma que os imperadores romanos Vespasiano (69-79 d.C.) e Adriano (117-138 d.C.) praticavam a imposição de mãos com fins curativos.

Os livros de hipnose situam a prática de os reis franceses tocarem os súditos para a cura a partir de Clóvis (496 d.C.), que foi o primeiro monarca a tornar-se cristão.

Gomes (2007) encontra esta informação nos livros de História da Medicina e ainda afirma que houve uma rixa entre franceses e ingleses sobre a origem desse poder real. Os ingleses defendem que a prática seria oriunda de Eduardo I (1272-1307), que tem registros de curas de pacientes com escrófula, tuberculose linfonodal, também conhecida como “Mal do Rei” ou “Doença das Alparcas” (que somariam 523 pessoas!).

O monarca mais conhecido na França pelo seu toque curador foi, contudo, Carlos V (1364-1380), e a prática se estendeu até Luís XVI (que teria tocado 2.400 pacientes em sua coroação, em 1775) e Carlos X (que tocou 121 doentes em 1824, segundo Gomes).

Oliveira (2006) descreve com base nos trabalhos de Marc Bloch (Os Reis Taumaturgos) a associação entre a lenda da Santa Âmbula e o poder régio de curar. Carlos V se intitulava cristianíssimo, e atribuía seu poder de curar a Deus, que o teria concedido à época da sua coroação porque ele teria sido ungido pelo óleo de Santa Âmbula. Este óleo teria sido dado “pelos céus” à França.

Os reis montavam um verdadeiro teatro, com a presença de representantes da igreja, que tinha como ponto alto a frase, anunciada pelo sacerdote: “O rei te toca, Deus te cura.” Cerimônia formal, na Inglaterra e na França, costumava-se anotar os nomes das pessoas que seriam tocadas pelos reis.

Ato político e formal, cada vez mais cercado de mitos e lendas, se algum benefício houvesse trazido à saúde dos participantes, ele certamente seria esquecido ou posto em dúvida com a Revolução Francesa e o Iluminismo Francês, inimigos do clero e da nobreza, assim como de tudo o que lhes dissesse respeito ou lhes sustentasse o prestígio.

A política temporal e eclesiástica se apropriou da imposição de mãos para cura e a esvaziou de seu sentido espiritual, destruindo-a aos olhos da nova inteligência que surgiu na Europa. Coube a Mesmer e aos seus discípulos fazer uma nova leitura, com pretensão científica e em bases supostamente naturais, dessa prática de tratamento, que ganhou status de medicina alternativa nos séculos XVIII e XIX.

Conclusões

De posse das informações, ainda que passíveis de uma pesquisa complementar mais profunda, já é possível realizar algumas análises.

Com relação ao conceito de doença, o Espiritismo fica em uma posição intermediária entre o ideário do Antigo Testamento e o materialismo científico contemporâneo. Se, por um lado, as doenças são passíveis de análise e tratamento com base em causas naturais, o Espiritismo advoga um componente espiritual a eles associado que funcionaria como uma espécie de catalisador. Esse componente não se reduz aos fenômenos psicológicos, que são ampliados pela ação dos Espíritos e das influências do perispírito no corpo da pessoa.

O Espiritismo não concebe uma divindade vingativa, a dar mostras de seu poder de forma voluntariosa adoecendo os que não se curvam aos seus desejos e ordens, como no Antigo Testamento. Esta concepção, se empregada por algum espírita, é fruto de confusão. Ele propõe um universo organizado de forma inteligente, regido por leis universais, que vão sendo apreendidas em seu significado pelo homem durante sua trajetória evolutiva, ao longo de diversas existências. A ignorância e os atos em dissonância com essas leis têm como consequência o sofrimento e a dor, que são sinais, reações, e não castigos divinos.

O sofrimento não tem apenas causas espirituais, mas causas passadas (no qual a reencarnação e a ideia de justiça divina têm um papel importante) e causas atuais, estas últimas geralmente esquecidas pelos espíritas contemporâneos, mas muito discutidas por Allan Kardec.

Desnecessário dizer que os sacrifícios e práticas rituais com a finalidade de perdão dos pecados pela divindade nenhum sentido fazem no contexto espírita. A ideia de lei de Deus, entendida como o texto bíblico, será substituída pela consciência moral da pessoa em confronto com a realidade, que muitas vezes é intuída, pensada e pesquisada por Espíritos superiores encarnados em diferentes culturas ocidentais e orientais. O Espiritismo valoriza a razão, a intuição e a percepção como meios para a construção do conhecimento.

Com relação ao Novo Testamento, do ponto de vista espírita, é difícil distinguir nos textos dos cristãos primitivos o que é lenda do que é fato, mas não é inverossímil acreditar que se tais curas se deram, deram-se por intermédio do que Kardec convencionou chamar de mediunidade de cura (diferentemente do magnetismo humano ou passes magnéticos). As curas são quase todas instantâneas ou a curto prazo e envolvem doenças crônicas, estados graves e mesmo sintomas mutiladores do organismo humano.

Nos casos de ressurreições, exceção feita à atribuída ao próprio Cristo, o que se pode especular são estados que na época de Kardec se costumava chamar de catalepsia e que mais recentemente a medicina prefere denominar como estados de coma profundo.

Kardec retira do mistério da fé e da ação divina direta o peso da explicação destes fenômenos e de outros, também incomuns ou raros, que ele próprio, os espíritas e os magnetizadores testemunharam em sua época. As curas e melhoras se dariam pela ação da transmissão do fluido vital e pela ação espiritual sobre o perispírito, principalmente; e sobre o corpo, eventualmente, das pessoas quando lhes são impostas as mãos e realizados passes.

A fé do paciente que procura passistas e médiuns de cura é a confiança na possibilidade da intervenção espiritual e na ação dos fluidos, que lhe propõe a harmonização dos pensamentos, a tranquilidade da alma e a disposição íntima para usufruir o bem-estar que essa técnica pode lhe proporcionar. Assim, o Espiritismo reabilita e dá um novo sentido para as práticas cristãs primitivas, despindo-as do ritualismo e do misticismo com que foram entendidas e modificadas no passar dos anos, propondo hipóteses explicativas da sua dimensão espiritual e resgatando sua espiritualidade e seu papel na saúde do homem contemporâneo.

 

Fontes bibliográficas:

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1985.

GOMES, Mauro. O toque das mãos do rei.
Disponível em http://www.pulmonar.org.br/blog/tuberculose/o-toque-das-maos-do-rei/. Acesso em 01/12/ 2007.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1978. [Edição Popular]

A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 1973.

MICHAELUS. Magnetismo Espiritual. Rio de Janeiro: FEB, 1983.

OLIVEIRA, Maria Izabel B. Morais. O milagre régio e o ciclo legendário em prol do fortalecimento do poder, no círculo de Carlos V França (1364-1380), Revista de História e Estudos Culturais, v.3, n. 1, jan/mar 2006.

* A primeira parte deste artigo foi publicada na edição anterior desta revista.


 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita