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Ano 2 - N° 75 - 28 de Setembro de 2008

KATIA FABIANA FERNANDES
kffernandes@hotmail.com
Londres (Inglaterra)

 

Dr. Andrew Powell:
 

“A Medicina, incluindo a psiquiatria, é essencialmente espiritual quando praticada como vocação” 
 

Apresentamos nesta edição uma entrevista especial com o Dr. Andrew Powell (foto), conceituado psiquiatra britânico, fundador do Grupo de Interesse Especial em  Espiritualidade e Psiquiatria do Royal College of Psychiatrists de Londres. Dr. Andrew é importante colaborador da BUSS – União das Sociedades Espíritas Britânicas – em vários eventos sobre medicina e espiritualidade realizados no Reino Unido e árduo defensor da importância da reaproximação desses dois pontos nos tratamentos médicos, principalmente no âmbito da psiquiatria.
 

O Consolador: Há quantos anos o senhor resolveu dedicar-se à psiquiatria utilizando-se da questão

espiritual para auxiliar nos tratamentos?

 

A Medicina, incluindo a psiquiatria, é essencialmente espiritual quando praticada como vocação. No entanto, isto nem sempre é reconhecido, dada a visão mecanicista sobre as doenças que caracteriza a medicina ocidental. Quando comecei a entender que a medicina consiste tanto em tratar quanto em curar – tratando o ser como um todo até a morte –, percebi que a espiritualidade pode, e deve, ser  um aspecto importante para um bom tratamento médico.
 

O Consolador: Como isso aconteceu? Houve algum fato interessante que tenha marcado essa fase de sua carreira?
 

Depois de me formar, me especializei em clínica geral. Esse foi um trabalho emocionante para um jovem médico, pois lutávamos contra a doença e fazíamos tudo no nosso alcance para frustrar a morte. Mas as pessoas morriam apesar dos nossos melhores esforços, e isso me fez questionar sobre a vida e a morte. Mais tarde, quando escolhi a psiquiatria, a morte ainda continuou a ser uma questão, embora de maneira diferente, na medida em que pacientes com depressão freqüentemente pensam na morte e quase sempre atentam contra a própria vida, às vezes com sucesso.

Para algumas pessoas, o problema da depressão é motivado pela bioquímica, e quando a medicação correta é aplicada a preocupação com a morte desaparece. Mas, no meu entender, isto se deve mais à dor emocional, que é aumentada devido ao afastamento do paciente de sua própria alma.

Após meu treinamento em psiquiatria geral, me especializei em psicoterapia analítica, individual e de grupo. Para problemas de natureza essencialmente psicológica, essas terapias são apropriadas. Mas, apesar da psicanálise nos ensinar muito sobre nós mesmos, ela não substitui o “conhecer” a nós mesmos, o que significa tornar-nos conscientes da natureza original de nossa alma. Quando comecei meu treinamento em psicodrama, e, mais tarde, em dar passes, percebi o poder em acessar a sabedoria inerente do “ser superior”, ou alma. Depois disso, me interessei realmente pelas terapias transpessoais, que têm a alma como centro, incluindo terapias de vidas passadas e liberação espiritual.
 

O Consolador: Sei que é difícil contar, mas quantos casos o senhor já atendeu até hoje?
 

Não posso responder a esta pergunta dessa maneira, porque espiritualidade em tratamento mental pode se apresentar de muitas maneiras e em níveis diferentes, às vezes sutilmente – pedindo ajuda silenciosa – até uma aproximação direta com pacientes interessados. (Devo frisar que sempre tentei trabalhar dentro dos valores e da crença espiritual que os pacientes trazem. Não é nosso propósito converter pessoas.)
 

O Consolador: Qual é a reação dos pacientes com relação a esse tipo diferente de tratamento?
 

Novamente, tenho que refazer a pergunta, pois não existe um tipo de tratamento. Mas falamos da maneira de ver toda uma vida e sua meta dentro de um plano maior. Para alguns, isto começa e termina em compaixão, perdão e desejo altruístico de ajudar outras pessoas – seja a família, a nação ou toda a raça humana. Para outros, significa viver a vida em relação à jornada da alma, com sua agenda, porque as dificuldades acontecem, e como a pessoa gostaria de sentir a respeito da sua vida quando ela estiver completa, e dai por diante.

Primeiramente, os problemas do ego necessitam ser tratados e só depois o caminho estará aberto para que o plano maior apareça, o que dará à vida um significado maior e mais rico até a sua conclusão.
 

O Consolador: Alguns de seus pacientes já pararam o tratamento com o senhor devido à sua visão da espiritualidade?    
 

Todo psiquiatra e psicoterapeuta teve pacientes que pararam o tratamento por várias razões. Particularmente em psicoterapia quando a pessoa percebe o trabalho que é pedido dela (com a ajuda do terapeuta) e não que o terapeuta tenha todas as respostas (a cura imaginada). Mas não consigo lembrar quando minhas explorações espirituais fizeram o paciente se sentir incomodado. E não deveria, pois é uma procura respeitável, sem respostas certas ou erradas, em que se está ajudando o paciente a achar a sua verdade.

Freqüentemente isso leva a perguntas maiores, como “Por que nasci? Por que preciso sofrer? qual a finalidade de tudo isso?” Na minha experiência, uma exploração com cuidado desses assuntos é bem-vinda. Como disse antes, progredimos para um método centrado na alma apenas quando isso parece mutuamente apropriado.

Como parte da historia espiritual, sempre pergunto se a pessoa acredita que a vida começa no nascimento e acaba com a morte. Essa é uma informação importante. Às  vezes a resposta é mais ou menos assim: “O senhor talvez pense que é bobagem, mas me pergunto se existe alguma coisa depois”. Então lhe e digo: “Suponha que exista. Como você imagina o que possa ser?” Muitas vezes isso é suficiente para que a pessoa comece a explorar a dimensão espiritual. Pacientes se sentem inseguros em falar sobre esses assuntos com psiquiatras porque eles sentem que muitos psiquiatras são céticos sobre esses assuntos.
 

O Consolador: Qual a reação de seus colegas psiquiatras em relação ao assunto?
 

Imagino que alguns pensem que isso seja uma bobagem. Mas respeito o trabalho de todos meus colegas, quando é feito com cuidado e interesse. Gosto de construir pontes por onde passo. Durante os anos tenho perdido amigos, mas tenho feito muitos outros, mas isso se aplica a qualquer trabalho que fazemos na vida. A coisa principal é não se preocupar com o que certas pessoas irão falar, mas agir com sã consciência.
 

O Consolador: Existem muitos médicos que se interessam em reaproximar a medicina da espiritualidade? Na sua opinião, por que isso ainda continua sendo desacreditado de certa forma por muitos profissionais?
 

Até hoje os médicos são treinados no modelo mecanicista da ciência, apesar das descobertas do século 20 sobre a relatividade, a mecânica quântica e recentemente a teoria das cordas. Intuitivamente, muitos médicos e outros profissionais da área da saúde sentem que isso não alcança o objetivo, e me sinto otimista que o clima começou a mudar, e pode melhorar muito. Mas isso só acontecerá, imagino, como parte de uma evolução maior na consciência humana. Sinto que neste ponto, o século 21 vai ser extremamente importante para a história da nossa espécie.

Eu comecei o Grupo de Interesse Especial da Espiritualidade e Psiquiatria no Royal College of Psychiatrists em 1999, inicialmente com o requisito de no mínimo 120 assinaturas. Hoje somos um grupo de 2.000 psiquiatras no Reino Unido (www.rcpsych.ac.uk/spirit), a maioria com um simples interesse em espiritualidade – o que não significa que eles têm treinamento de abordagem psico-espiritual – todavia, eles representam um em 7 psiquiatras no Reino Unido, o que já é um bom começo. O Royal College tem apoiado nosso trabalho e existe um folheto sobre saúde mental e espiritualidade num dos tópicos do menu da sua “homepage” (www.rcpsych.ac.uk). Temos recebido muitas respostas positivas de pessoas que usam os serviços de saúde mental e que ficaram encorajados de ver que a psiquiatria pode reconhecer e dar valor à espiritualidade. Temos também um livro sobre Espiritualidade e Psiquiatria que foi comissionado pelo “College” e deve ser publicado no fim deste ano.
 

O Consolador: Quando o senhor teve o primeiro contacto com o Movimento Espírita?
 

Faz mais ou menos 15 anos.
 

O Consolador: Quais livros espiritas o senhor já leu?
 

O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, Divaldo’s book “Obsession” e Nosso Lar, de Chico Xavier. 
 

O Consolador: Esses livros o auxiliaram ou o auxiliam de alguma maneira?
 

Sempre me sinto elevado e fortalecido lendo e aprendendo mais sobre espiritualidade; portanto esses livros formam parte valiosa da minha leitura extensiva durante muitos anos. Sinto que por causa da natureza limitada do intelecto humano – apesar do cérebro ser maravilhoso – tudo que podemos saber sobre o Espírito enquanto encarnados é como passado por um filtro. Eu gosto da visão quântica de que a vida na Terra é apenas uma das multiplicidades de “realidades virtuais”.  Para mim, o ponto essencial disso é que, quando o Espírito se manifesta como forma, somos compelidos a ter um relacionamento – portanto emocional e de desenvolvimento – com os desafios, e isto serve para o desenvolvimento da alma. 
 

O Consolador: O senhor acredita que exista uma relação entre o trabalho desenvolvido pelo senhor e o que a Doutrina Espírita ensina?  
 

Tenho interesse em todas as tradições de fé que existem. Cristianismo, Budismo e Taoísmo e todas as outras me influenciaram muito. O que mais me impressiona na Doutrina Espírita é a sua profunda ética espiritual e a humildade essencial. Mas, gostaria de dizer que todos os caminhos espirituais levam para o mesmo lugar, assim como todos os rios correm para o mar.
 

O Consolador: Se o senhor acredita que sim, em que pontos eles convergem?
 

Estamos no mesmo estuário.
 

O Consolador: No Seminário organizado pela BUSS (União Britânica das Sociedades Espíritas) em junho deste ano, Divaldo Franco brincou que o senhor é espírita. Como o senhor viu isso?
 

Dividir o dia com Divaldo foi um grande privilégio para mim. Senti que foi um encontro de almas. Possivelmente todas as pessoas que encontram o Divaldo se sintam da mesma maneira, mas fiquei muito comovido.
 

O Consolador: No Congresso sobre Medicina e Espiritualidade organizado pela BUSS no ano passado o senhor foi um dos palestrantes. Qual é a sua apreciação sobre aquele evento?

 

Eu gostei muito de ter tomado parte e a atmosfera estava muito boa. As apresentações clinicas e de pesquisas foram muito interessantes. Senti mesmo que os temas abrangentes da conferência criaram uma sensação de complementação, e isso é muito importante para a BUSS, se sua meta é criar um perfil de base que se estenda a várias áreas do Reino Unido.  
 

O Consolador: Em outubro próximo o senhor será o chairman do seminário “Working with Soul in Illness and in Health” que se realizará em Londres. Quais são suas expectativas para esse evento? (1)
 

Nunca fui bom em prever o futuro. Esse é um evento muito importante porque está sendo organizado pela British Union of Spiritist Societies (BUSS) e pela Spirit Release Foundation, organização na qual estou envolvido há muitos anos. Espero que as duas organizações se beneficiem em trabalhar juntas e tenho fé que os Espíritos nos guiaram para darmos o melhor de nós e fazer do evento um sucesso.     
 

(1) O seminário referido nesta pergunta ocorrerá nos dias 8 e 9 de outubro em Londres, no auditório da Sociedade das Indústrias Químicas, situado neste endereço: 14/15 Belgrave Square. Do evento participarão diversos confrades do Brasil, dentre os quais a presidente da Associação Médico-Espírita Internacional e do Brasil, Marlene Nobre; Alexander Moreira Almeida, Décio Iandoli Jr. e Sérgio Felipe de Oliveira. Outras informações nos sites www.buss.org.uk e www.spiritrelease.com.

Colaborou nesta entrevista e na tradução do seu texto para o idioma português a confreira Silvia Gibbons, de Londres.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita