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Ano 2 - N° 73 - 14 de Setembro de 2008

ARTHUR BERNARDES DE OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
Guarani, Minas Gerais (Brasil)


A caridade desinteressada nas advertências do Cristo

Jesus exortou-nos que fôssemos perfeitos em tudo o que fizéssemos, fazendo as coisas que nos competem da
melhor maneira possível, sem esquecer de dar de
graça ao próximo o que de graça recebemos
  

Jesus já havia repisado todas as advertências que ele julgara mais necessárias aos discípulos e que deviam constituir a base de seu ensino, direcionado a todos que o quisessem seguir.

Na parábola do julgamento, em que o Divino Senhor separa bodes de um lado e ovelhas do outro, deixara claro que o único caminho capaz de resolver o problema da paz entre os homens era o da caridade porque “fora da caridade não há como crescer.”

Insistira nisso com a bela imagem expressa na recomendação de que não deixássemos que a mão esquerda soubesse o que a direita estava entregando ao próximo. “Não saiba a mão esquerda o que dá a vossa mão

direita!” Significando isso que não ficássemos murmurando, arrependidos, sobre todo o bem que houvéssemos feito ao nosso semelhante. Tal qual o caso, que Machado de Assis relata,  do comerciante rico e do mujique  nas terras geladas da  Rússia.  “Quando o cavalo disparou, o comerciante pensou que fosse morrer. Nada   retinha no seu galope. Se caísse fatalmente morreria. A cabeça bateria nas pedras; inevitáveis o traumatismo craniano e  a morte ao final. Eis senão quando surge um mujique que, corajosamente, se antepõe ao cavalo, segura-o pelo cabresto e o  faz parar de correr. Foi um milagre! O comerciante, agradecido, tira da carteira uma nota de mil rublos e, agradecendo muito, passa-a ao camponês. O coitado quase caiu de susto. Nunca vira uma nota como aquela! E saiu pulando feliz, louco pra chegar em casa e mostrar pra mulher e pros filhos a dádiva recebida. Mil rublos! Uma fortuna!

O comerciante, ao vê-lo partir feliz, começou a pensar. “Acho que dei dinheiro demais. Mil rublos? Por que não 500? Ou 200? Talvez o pobre ficasse feliz com 100. Ou menos. Quem sabe, 10?... Ele ganha cinco rublos por dia... É... acho que  acabei dando dinheiro demais.”

Isso costuma acontecer com a gente. Na hora do entusiasmo a gente dá generosamente. Depois se arrepende. E começa a sofrer. Aconteceu comigo. Ninguém me convidava para ser padrinho de casamento. Meu irmão era padrinho de todo mundo. Eu já estava acostumado. Casamento? Já sei: meu irmão estará lá. Padrinho de novo. Eu já estava ficando complexado. Será que eu não sirvo para padrinho de casamento? Surpresa! Um dia apareceu um. Fiquei feliz. E prometi logo ao noivo: “dou-te uma geladeira!”.

Gente, uma geladeira naquela época era um presentaço. Hoje, não. Depois que surgiu a Casa Bahia, ela desmoralizou o presente. Qualquer um pode comprar lá uma geladeira pagando 20 reais por mês. Mas naquela época não.

Me arrependi logo. Mas tive que cumprir o prometido. E tome sofrimento.

Mais ou menos como diz Arthur Riedel, no seu livrinho admirável: “á pessoas que háhhá pessoas que acreditam que quem dá aos pobres empresta a Deus, mas costumam querer saber o que Deus vai fazer com o empréstimo”. Um cidadão pede um real para comprar um pão. A gente dá, mas logo adverte: “Olhe lá, estou dando para você comprar o pão. Não vá tomar cachaça não, ouviu?” 

“Ao que se sabe, depois de Jesus não apareceu
ninguém que ressuscitasse mortos”
 

Outros há que dão uma oferta à Igreja, ou a uma instituição beneficente, e compram um bilhete de loteria, pensando que vão ter a recompensa divina abocanhando o primeiro prêmio.

Outros deixam para dar na hora da morte, quando não têm mais como usufruir da fortuna acumulada, e a morte está batendo à porta. Fazem, então, um testamento deixando tanto para o Hospital, tanto para o Asilo, tanto para o Orfanato, tanto para a APAE.  Deixam, porque não podem levar.

Já nos havia Jesus advertido, também, sobre a presença, sempre, em todos os momentos da história, dos chamados falsos cristos e falsos profetas que, utilizando-se da boa fé das pessoas, conduzem-nas para a decepção e a desventura. Não apenas os que se servem da religião, conduzindo pessoas como rebanhos inconscientes para aventuras nefandas ou crimes inimagináveis. Falsos cristos e falsos profetas, também, na filosofia, na ciência, na política, na indústria, no comércio, na educação, na saúde, em toda parte. Sempre os houve. Exploradores e explorados. Por isso nos recomendou fôssemos prudentes como as serpentes e não acreditássemos em todos os profetas, verificando antes se eles eram profetas de Deus, pela análise de suas obras.

Exortou-nos que fôssemos perfeitos em tudo o que fizéssemos. Tal qual o Pai, que é perfeito em tudo em que o seu poder se manifesta.

Essa perfeição a que Jesus se referia é uma perfeição relativa. Significa fazermos tudo o que nos cabe fazer da melhor maneira possível. Não deixarmos nada sem fazer, ou fazer as coisas pela metade, por causa da pressa ou de outro motivo qualquer. É pra fazer? Então façamos da melhor maneira que nós sabemos. Demos o melhor de nós. Melhor, nós não saberíamos fazer. É isso que ele quer de nós.

Como coroamento, a recomendação final: “restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente recebestes”.

Um parêntese sobre o “ressuscitai os mortos”. Ao que se sabe, depois de Jesus não apareceu ninguém que ressuscitasse mortos. Parece que Pedro conseguiu isso uma vez. Houve, sim, depois deles casos de pessoas aparentemente mortas que, de repente, sem que ninguém participasse do fato, voltassem à vida. A literatura registra alguns casos. Interessante é o que aconteceu com uma figura conhecida nos meios literários. O Abade Prévost, autor do polêmico livro “Manon Lescaut”, já estava na mesa para o trabalho de necropsia, quando, sob o bisturi do cirurgião, readquiriu as energias vitais e acabou se salvando. 

“Ninguém pode fazer da mediunidade profissão,
porque ninguém é dono dos espíritos”
 

Outro caso patético é o do célebre poeta Scotto. Ele era cataléptico. Foi enterrado vivo durante uma crise, na ausência do servo que sabia de sua doença. Tirado da sepultura, seus familiares verificaram que morrera sufocado, tendo mordido, desesperadamente, os lábios.

De morte igual, morreram médicos, poetas, reis e imperadores, sem falar dos supostos mortos enterrados apressadamente nos horrores das epidemias e das guerras.

Emmanuel, em Renúncia, nos fala sobre o drama que foi, na França do Século XVII, a chegada da varíola aos lares franceses. Não se esperava a pessoa morrer. Enterrava-se logo com medo de a doença alastrar. Muita gente foi enterrada viva.

Kardec aproveitou a recomendação de Jesus e, no mesmo capítulo XXVI, tratou de  preces  pagas, lembrando a advertência do Mestre sobre o mau hábito dos escribas que, a pretexto de orar, devoravam as casas das viúvas.

Tratou ainda do episódio da expulsão dos que vendiam coisas dentro do Templo, num desrespeito flagrante à Casa do Senhor.

Mas a grande mensagem do capítulo é para o comportamento dos médiuns. Nenhum médium, de nenhuma forma, seja por motivo que for, deve obter vantagem financeira ou social do dom que Deus lhe deu para utilização em seu trabalho a favor da Humanidade.

Ninguém pode fazer da mediunidade profissão. Por uma razão simples. Ninguém é dono dos espíritos. Eles são independentes. Vêm quando querem e quando podem. Não há força humana capaz de garantir uma comunicação. Foi graças ao mediunismo profissional que proliferaram casos de fraudes que tanto mal fizeram à divulgação e aceitação da Doutrina.

Humberto de Campos conta-nos a história dramática de um médium brasileiro. 

Azarias era mecânico de automóvel. Grande mecânico e notável médium. Como sempre acontece, em torno de médiuns assim, nasce a adoração e abundam freqüentadores insaciáveis. Pessoas interessadas no favor dos espíritos envolvem o médium e o elogiam, e presenteiam, e bajulam e acabam por deles se tornarem donos. Querem utilizá-los, por isso, a qualquer hora. Vai-se a disciplina. Com Azarias deu-se que os tais “irmãos”, para tê-lo permanentemente à sua disposição, tiraram-no do emprego e lhe fizeram um salário. Cada irmão comparecia com uma parcela do salário ajustado. No princípio funcionou. Com o tempo, um pára de contribuir; depois outro; após, mais outro e daí a pouco está Azarias sem a ajuda dos patrocinadores e sem o emprego que perdeu. As dificuldades, rápido, batem à porta. Falta comida em casa. A luz, não paga, se apagou. O aluguel também. E as dificuldades se instalaram. Até que Azarias aceita o primeiro pagamento. Depois outro, mais outro. Em pouco tempo a desmoralização e o abandono. Os próprios companheiros que tanto o bajularam antes e que, afinal, foram os principais responsáveis pela sua derrocada, são os que agora dele falam mal abertamente.  A obsessão se instala. E o fim amargo se aproxima.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita