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Natural da capital paulista e residente em
Bragança Paulista, no interior do estado,
Annegret Feldmann Martinot (foto) possui
licenciatura português/inglês e alemão,
graduação em psicologia e formação em mediação,
facilitação de diálogo e formação de consenso.
Profissionalmente aposentada, atua como
professora de alemão e também em atendimentos
clínicos de psicologia. Nas lides espíritas
vincula-se à Casa da Bênção, na cidade onde
reside, em que atua na atividade de passes e
atendimento fraterno.
Como você conheceu o Espiritismo?
Conheci o Espiritismo através de uma grande
amiga, Thelma. Cresci e fui educada num lar
luterano, sempre participando das atividades
juntamente com minha mãe e irmã. Antes de
conhecer o Espiritismo, frequentei durante
alguns anos um instituto espiritualista, com um
enfoque muito forte na questão do
autoconhecimento e da reforma íntima. A
transição da religião luterana para o
Espiritismo aconteceu de maneira calma e gradual
ao longo de aproximadamente 10 anos, inclusive
conversando com o pastor sobre isso. Este pastor
era alguém muito especial e assim tudo foi
acontecendo com muita calma, tranquilidade e
paz.
O que mais lhe chamou atenção nesse contato
inicial?
Sem nenhuma dúvida, com toda certeza, a reforma
íntima e o autoconhecimento.
Fale-nos sobre a fé de sua mãe e, em especial,
do pequeno texto encontrado em seus pertences.
Bem, sobre a fé da minha mãe, penso que os
relatos acima falam por si. No texto “UMA
HORINHA COM DEUS”, não sabemos exatamente onde
ela estava quando escreveu, mas imaginamos que
talvez estivesse em uma sala de espera e entrou
em um momento de profunda reflexão, de conexão
espiritual, sendo que de alguma maneira ela
resumiu; a) na primeira parte ela fala
como cada um de nós pode ter, a qualquer momento
ou em qualquer circunstância, “uma horinha
com Deus”. b) Na segunda parte ela
menciona que ‘quer aproveitar estes minutos de
espera para lembrar que não está só’, ou seja,
ela fala de si mesma, da sua relação com Deus e
conclui dizendo ‘quero permanecer sempre em Tuas
Mãos’. c) Na terceira parte, ela
‘suplica pelo próximo que está encontrando
dificuldade para acertar na vida...’ e pede
orientação para que a ‘atitude dela o ajude a
aproximar-se de Deus e a reconhecer que não pode
haver felicidade sem ser em Deus, ou seja, ela
se disponibiliza como instrumento da paz de
Deus!
De seu histórico familiar, o que mais a marcou?
O exemplo de vida da minha mãe e a nossa
‘vulnerabilidade’ como seres humanos. Nossa vida
é como um fio, de um instante para o outro tudo
pode acabar!
Como você se interessou pela Comunicação Não
Violenta?
O meu primeiro contato com a Comunicação
Não Violenta (CNV)
aconteceu em 2011 e fiquei profundamente
impressionada. Identifiquei-me com a
apresentação inicial que dizia assim: “A CNV é
sobretudo um processo de entendimento, que busca
facilitar a harmonização das necessidades do
indivíduo com as de outras pessoas, de uma
maneira empática. Isso envolve uma mudança de
foco: dos erros do indivíduo e dos outros às
necessidades de todos”. Meu primeiro pensamento,
imediatamente após a leitura, foi: “É isso!
Todas as pessoas deveriam ter acesso a isso/
conhecimento disso!”.
A participação nos dois módulos, básico e
aprofundamento, foi um divisor de águas em minha
vida. A partir do momento em que iniciamos um
processo de aquisição de algum conhecimento, no
meu caso da CNV, a nossa responsabilidade em
relação a este conteúdo se amplia, pois este
conhecimento passa a compor o nosso repertório
pessoal: não há como negá-lo.
Em minha vida pessoal, ao longo dos anos – hoje
eu tenho 69 anos de idade – eu já vinha
observando – mesmo antes de conhecer a CNV –
quanto as relações entre as pessoas ficam
comprometidas e são prejudicadas por uma
comunicação deficiente e truncada. A partir da
tomada de conhecimento da CNV comecei a perceber
e entender que existe um foco muito forte em
relação aos julgamentos e muito frágil ou até
inexistente em relação à cooperação e ao apoio
mútuo, ao compartilhamento e à troca de
experiências, enfim. Por outro lado, constatei
que, ao me propor a uma mudança na minha
comunicação com o outro, foi-se estabelecendo em
todas as esferas da minha vida – familiar,
social e profissional - um padrão de convivência
pautado no respeito, na honestidade, na
dignidade, na compreensão, no acolhimento e no
apoio mútuo. Posso afirmar que, salvo raríssimas
exceções, a comunicação nos dois sentidos, de
mim para o outro e também do outro para mim, se
tornou mais rica e construtiva. Nesse sentido me
identifiquei de uma maneira plena e profunda com
a afirmação de KARL ROGERS, professor de
Marshall Rosenberg, criador da CNV, de que: “...
quanto mais me disponho a ser simplesmente eu
mesmo em toda a complexidade da vida e quanto
mais procuro compreender e aceitar a realidade
em mim mesmo e nos outros, tanto mais sobrevêm
as transformações (...), na medida em que cada
um de nós aceita ser ele mesmo, descobre não
apenas que muda, mas que as pessoas com quem tem
relações mudam igualmente” (ROGERS, 2009).
O interesse pelo tema CNV veio pelo fato de
abordar muitas pessoas, de alguma maneira todas
as pessoas, já que a comunicação é inerente ao
próprio ‘processo de vida’ de cada ser humano.
Seu TCC é público? Como os interessados podem
acessar seu conteúdo?
Sim, meu TCC é público e foi publicado na
revista da UNG (Universidade de Guarulhos-SP).
Ele pode ser acessado clicando-se neste LINK
Quanto mais pessoas tiverem acesso, tanto
melhor. Eu já distribuí meu trabalho para muitas
pessoas! E me coloco à disposição para qualquer
dúvida ou informação desejada!
De que maneira você associa a CNV à atividade
espírita?
Quando escrevi meu trabalho, eu o fiz
‘apaixonadamente’! Cada frase, cada trecho foi
um momento de reflexão e autoanálise de como eu
estava me situando naquele momento em relação ao
assunto. A CNV, como já mencionei, foi um
divisor de águas na minha vida. Quando escrevi,
eu já tinha feito o curso há quatro anos. Hoje
já são catorze anos, é um processo, um
aprendizado contínuo que se vai aprofundando à
medida que vamos ‘percebendo’,
conscientizando-nos de aspectos que antes não
nos eram conscientes. Logo de início, não a
associei à atividade espírita, mas justamente o
fato de me dar conta, de perceber este
‘aprendizado contínuo’ é que me fez relacionar a
CNV ao nosso caminho de reforma íntima, que é a
base e o fundamento da doutrina espírita.
Algo a acrescentar?
Nada a acrescentar, salvo dizer que minhas
palavras finais são de gratidão pela
oportunidade.

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