Especial

por Juan Carlos Orozco

O homem de bem

 

Esta reflexão aborda o homem de bem, tendo como referência os seus valores e atributos, o seu comportamento, as suas atitudes e as suas ações para com os semelhantes na prática do bem, demonstrando certo grau de elevação moral e espiritual alcançado, que se harmoniza com as leis de Deus.

Em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, na resposta à questão 918, pode-se reconhecer um homem de bem pelo seu progresso real, quando os seus atos na vida representam a prática da lei de Deus, já compreendendo antecipadamente a vida espiritual.

Kardec comenta que o homem de bem pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza, sendo portador do sentimento de caridade e amor ao próximo, fazendo o bem pelo bem, sem esperar retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.

Ele é bondoso, humanitário e benevolente para com todos, vendo-os como irmãos, sem distinção de raças e crenças, tratando-os com bondade e complacência.

É indulgente para com as fraquezas alheias, sabendo que também precisa da indulgência dos outros. Não é vingativo, perdoando quem lhe ofende.

Cabe destacar aqui que o homem de bem comentado por Kardec, consciente ou inconscientemente, religioso ou não, podendo até mesmo ser ateu, pratica a lei de justiça, amor e caridade, que se harmonizam com as leis de Deus, isso porque o mais importante são as suas atitudes e as suas ações na prática do bem pelo bem, como o Mestre Jesus ensinou em sua missão na Terra.

No processo evolutivo da Humanidade, todos estão destinados a seguir o caminho da perfeição em direção ao Pai, sendo que uns atingem esse estágio mais cedo e outros mais tarde, dependendo de como conduzem as suas vidas em pluralidade de existências.

O Espírito Miramez, no livro Filosofia espírita, na psicografia de João Nunes Maia, Volume XVIII, Capítulo 51 – Caracteres do espírito elevado, comenta a questão 918 de O Livro dos Espíritos, esclarecendo:

“Para reconhecer o Espírito elevado na escala espiritual, basta analisar a sua vida, porque a perfeição espiritual é o conjunto de todas as qualidades morais que a alma pode ter. Não basta somente ser bom; é necessário que se faça a bondade com amor, que se una amor com fraternidade, a fraternidade com a honestidade e essa com o trabalho digno. Assim, sucessivamente, a luz deve ser limpa de todas as trevas, para que a caridade não sofra interrupção.

O Espírito prova a sua elevação quando todos os seus atos de vida condizem com a lei de justiça e de amor. Quando antecipadamente compreende a vida espiritual, pode viver no Céu, mesmo pisando na Terra.

Verdadeiramente, o homem de bem é o que vive a lei de amor e de caridade, que esteja constantemente renunciando às coisas supérfluas e representa uma fonte de conhecimento, doando sempre ao que padece e ensinando aos ignorantes, é o que está sempre interrogando a sua consciência e analisando-se constantemente, buscando corrigir os seus maus pendores. Por onde passa, pratica a caridade e o amor ao próximo sem exigências pessoais. Ele anda por todos os caminhos, alegre, não blasfema quando a dor chega a sua porta, sacrifica todos os impulsos inferiores e não deixa lugar para os maus pensamentos.

É preciso que se veja irmãos em todos os seres, amando todas as coisas sem distinção. Se receberes o dom da riqueza, usa-a como sendo um empréstimo, sem desperdício, e comunga sempre com o bem que podes fazer. Tem complacência com os que não compreendem a verdade, esforçando-te no trabalho, onde a honestidade seja o clima de todos os deveres. Ignora a vingança e busca sempre perdoar, fazendo do perdão uma modalidade de amar, fazendo da fraternidade um meio de aproximação em todas as criaturas.

Não te esqueças de ativar a vida em toda parte com a lembrança de Jesus, porque somente Ele nos mostra Deus na sua realidade pura. Não te esqueças da citação evangélica da mulher adúltera, com sua lição imortal extraída por Jesus para a humanidade inteira. Deste modo, serás um homem de bem, influindo positivamente em toda a humanidade.

Granjeia amigos por toda parte, na verdadeira feição do Cristianismo. Sê atencioso com todas as crianças, transmitindo a elas tudo que a educação e o discernimento nos ensinou. Se compreenderes a lei e a praticares dentro da sua estrutura, podes acalmar todas as ventanias do mal que porventura surgirem em teu coração.”

Percebe-se pelos esclarecimentos de Miramez que os atos do homem de bem, em sua vida terrena, demonstram o seu grau de elevação espiritual, bastando analisar as suas qualidades morais em relação à lei de justiça, amor e de caridade.

 

O centurião de Cafarnaum e o homem de bem

A passagem evangélica do centurião de Cafarnaum caracteriza a ação do homem de bem:

“E o servo de um certo centurião, a quem este muito estimava, estava doente e moribundo. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo. E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: é digno de que lhe concedas isso. Porque ama a nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga. E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; e, por isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: vai; e ele vai; e a outro: vem; e ele vem; e ao meu servo: faze isto; e ele o faz. E, ouvindo isso, Jesus maravilhou-se dele e, voltando-se, disse à multidão que o seguia: digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé. E, voltando para casa os que foram enviados, acharam são o servo enfermo.” (Lucas, 7: 2-10)

Essa passagem é rica em beleza, com ensinamentos e exemplos para as nossas vidas no que se refere a ser uma pessoa de bem.

Antes da abordagem interpretativa, cabem alguns destaques a serem feitos: o pedido de auxílio a Jesus veio de um Centurião romano, militar do exército invasor; o beneficiado era um escravo; houve apoio dos anciãos ao pedido do Centurião, que o destacaram por suas qualidades morais; e a evidência da surpreendente fé do Centurião.

A força do bem marca as ações de todos os envolvidos nessa história.

O Centurião revelou-se uma pessoa de boa índole, respeitando as tradições culturais e religiosas dos habitantes daquela aldeia, subjugados ao domínio de César, conquistando-lhes a simpatia e a amizade.

O Centurião não se valeu da sua posição e tampouco fugiu aos seus deveres para cativar a comunidade de Cafarnaum pela construção de uma sinagoga.

Os representantes dos judeus revelaram sentimento de gratidão ao se dirigirem a Jesus sem considerar as diferenças religiosas para endossar o pedido do Centurião, afirmando: “é digno de que lhe concedas isso. Porque ama a nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga”. O benefício recebido do Centurião encontrou eco no coração daqueles judeus.

O maior benefício da graça concedida estava no reconhecimento daquele fato, que despertou a gratidão unindo o beneficiário ao benfeitor.

A forma de agir do Centurião e dos judeus indicou que pessoas de boa vontade conseguem superar as divergências pessoais e culturais para viverem em paz.

Além da força do bem, observou-se a intercessão em benefício de alguém: o Centurião intercedeu pelo criado, os anciãos intercederam pelo Centurião e Jesus intercedeu, junto a Deus, por todos.

O Cristo se deslocou até a residência do Centurião, que humildemente disse: “Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; e, por isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo”.

No final, ao enaltecer o homem de bem, Jesus afirmou: “Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé”.

Assim, o Centurião de Cafarnaum representa exemplo do homem de bem que, por força das suas qualidades morais e da fé que possuía, conseguiu transformar adversários em amigos, os quais se solidarizaram com ele num momento em que buscou auxílio de Jesus em benefício de um servo doente.

 

O homem de bem e os tesouros celestiais no coração

 “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração.” (Lucas, 6: 45)

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. (Mateus 6: 19-21)

Os ensinamentos dessas passagens evangélicas têm como foco o homem de bem e os bons tesouros, celestiais ou edificantes, que enchem o seu coração, e a boca que fala desses tesouros armazenados no coração. Dependendo dos bons ou maus tesouros guardados no coração, o homem será bom ou mau.

Jesus fala dos tesouros assentados no coração, porquanto ele simboliza os sentimentos, o órgão que constitui o verdadeiro termômetro das emoções e que está na dependência do centro vital chamado Cardíaco, que age sobre a circulação do sangue e a emotividade.

O coração está relacionado aos sentimentos humanos, bons ou ruins, abrigando a essência do ser, permitindo a aproximação entre Deus e os homens, e uma relação direta entre amor e espiritualidade, sendo o coração símbolo do sentimento de amor.

Jesus disse: “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem” (Mateus, 15: 10-11). Logo, o que sai da boca do homem é que o macula, porque procede do coração, tornando-o impuro, porquanto do coração é que partem os maus pensamentos e todas as blasfêmias e as maledicências interiores.

O período de regeneração da Humanidade é marcado por significativa transição moral e espiritual, sendo de fundamental importância trazermos o Cristo na mente e no coração, a fim de que não venhamos a sucumbir em nossas provações e expiações que nos desafiam a seguir em frente na prática do bem e na busca da perfeição.

Comece limpando o seu coração de todos os sentimentos inferiores que somente estacionam a evolução moral e espiritual, considerando que toda transformação terá de nascer no interior de cada ser, pois no coração é que se trava a verdadeira guerra de melhoria dos sentimentos. É preciso abrir as portas do coração e sair da estagnação alimentada pelos vícios arraigados em várias existências.

A pureza do coração evitará o endurecimento espiritual da alma, porque ela aquecerá e irradiará amor em todas as direções, estimulando a alegria dos bons e reduzindo a infelicidade dos nossos irmãos.

Por tudo isso, procure ser uma pessoa de bem, em que a fé, a boa vontade e a força do bem são combustíveis necessários para entendermos as engrenagens do Universo, em que somos fagulhas celestiais de energias geradas pelo cosmo divino e, a exemplo do Centurião de Cafarnaum, que possamos dizer humildemente: “Senhor não somos digno de que estreis em nossa morada, mas dizei uma palavra e seremos salvos!”

 

Bibliografia:

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Episódios diários.  10ª Edição. Salvador/BA: Editora LEAL, 2016.

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Florações evangélicas.  6ª Edição. Salvador/BA: Editora LEAL, 2020.

BIBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MIRAMEZ (Espírito); na psicografia João Nunes Maia. Filosofia espírita. Volume XVIII. 1ª Edição. Belo Horizonte/MG. Editora Fonte Viva, 1990.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I: orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita