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O
conflito no Rio de
Janeiro e o desafio
espiritual da paz
Faz mais de um mês, sim,
mas não é possível
ignorar a comoção e a
tristeza provocadas pela
operação policial
realizada no dia 28 de
outubro nos complexos do
Alemão e da Penha, na
zona norte do Rio de
Janeiro, que deixou mais
de 124 mortos, entre
civis e policiais,
deixando famílias em
desespero e uma cidade
inteira em silêncio. As
imagens, os relatos e os
números, que nos tocaram
profundamente, fazem-nos
pensar sobre o que está
acontecendo conosco,
enquanto sociedade.
Diante de um episódio
tão doloroso, o olhar
espírita nos convida a
enxergar além das
aparências. Cada vida
envolvida — seja de quem
atua na segurança, seja
de quem vive nas
comunidades — é uma
história espiritual, uma
alma em processo de
aprendizado, um filho de
Deus que busca evoluir.
O Espiritismo nos lembra
que nada acontece fora
das Leis Divinas, e que
todo acontecimento, por
mais difícil que pareça,
pode ser um chamado à
reflexão, à
solidariedade e à
transformação moral.
Jesus, em sua passagem
pela Terra, falou sobre
uma paz que o mundo
ainda não compreendeu
por inteiro.
“Bem-aventurados os
pacificadores, porque
serão chamados filhos de
Deus”, disse Ele. Essa
paz não nasce da
ausência de conflito,
mas da presença do amor.
Não se impõe pela força,
mas se constrói na
compreensão. E é essa
paz que o Evangelho nos
convida a cultivar — nas
atitudes, nos
pensamentos e nas
relações.
Quando vemos tragédias
como a que ocorreu no
Rio, é natural buscar
culpados. Mas o caminho
do Evangelho é
diferente: ele nos leva
a buscar
responsabilidades
compartilhadas. A
violência que explode
nas ruas começa, muitas
vezes, nas pequenas
violências que deixamos
crescer dentro de nós —
na indiferença, no
preconceito, na falta de
empatia, no desejo de
vingança. Cada gesto de
intolerância é uma
semente de conflito;
cada ato de compreensão
é uma semente de paz.
Não há paz coletiva sem
paz interior. E não há
transformação social sem
transformação
individual.
O Espiritismo nos mostra
que o mundo se melhora
quando o ser humano se
melhora. A regeneração
da Terra, tão esperada
por todos nós, não virá
apenas com mudanças
externas, mas com o
despertar moral de cada
espírito que aqui
reencarna para aprender
a amar.
Por isso, o convite do
momento é para olharmos
com humildade para nós
mesmos. O que temos
feito, no nosso
cotidiano, para
construir a paz? Como
reagimos diante das
diferenças? Como
tratamos o outro nas
redes sociais, nas
conversas, nas pequenas
situações da vida? O
Evangelho não nos pede
heroísmos, mas
constância. Ele nos pede
que sejamos instrumentos
de luz onde estivermos,
mesmo em gestos simples:
ouvir com atenção,
acolher com ternura,
respeitar quem pensa
diferente, agir com
honestidade e compaixão.
Também é papel da
juventude espírita
compreender que a paz é
fruto de justiça e
fraternidade. Quando o
Evangelho fala em amar o
próximo, fala também em
promover dignidade,
apoiar quem sofre e
buscar caminhos de
inclusão. Isso significa
valorizar a vida,
incentivar o diálogo,
apoiar quem precisa e
lutar, de forma
pacífica, por um mundo
mais equilibrado.
A operação que abalou o
Rio de Janeiro é um
retrato de uma realidade
complexa — uma sociedade
que tenta se defender da
violência, mas que ainda
precisa compreender o
valor profundo da vida e
o poder transformador do
amor. Nem sempre teremos
respostas fáceis, mas
sempre teremos a escolha
de agir com consciência
e coração.
O Espiritismo nos ensina
que, por trás de cada
acontecimento humano, há
lições espirituais.
Talvez a lição que este
momento nos traz seja a
de perceber que a paz
não será construída por
um lado só. Ela precisa
da união de todos: da
responsabilidade do
Estado, do compromisso
das famílias, da
dedicação das
instituições, da empatia
de cada cidadão.
O Cristo não veio
dividir — veio unir.
Ele não apontou culpados
— estendeu mãos.
E é essa postura que
precisamos aprender a
repetir.
Que a dor das famílias
cariocas nos toque o
espírito. Que a coragem
dos que atuam pela
segurança pública nos
inspire responsabilidade
e respeito. Que as
sombras da violência
despertem em todos nós o
desejo de ser luz.
A paz não é um presente
pronto. É uma construção
diária, feita tijolo a
tijolo — dentro de nós e
entre nós.
E cada um de nós é
chamado a ser um
construtor dela.
Felipe
Gallesco é gestor do
site Juventude Espírita.
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