Amizades espirituais
Diz Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, que os
melhores medianeiros são aqueles que se enganam menos,
por simpatizarem mais com os bons espíritos. Tal
simpatia, parece óbvio, é ao mesmo tempo semente e fruto
de verdadeiras amizades que se espraiam nos dois lados
da vida.
Por isso, merece especial atenção a relação entre os
médiuns e os espíritos elevados, qual a que envolveu a
médium Yvonne do Amaral Pereira e o Espírito Adolfo
Bezerra de Menezes, cujo aniversário de renascimento na
carne, ocorrido em 1831, no Ceará, comemora-se no dia 29
de agosto.
Eis uma razão para prestarmos uma humilde homenagem a
esse valoroso trabalhador do Bem, que na Terra é
reverenciado tanto como "o Kardec brasileiro", pelo
muito que fez em prol da Doutrina Espírita, quanto "o
médico dos pobres", por motivos evidentes.
Do ponto de vista do exercício mediúnico, a parceria
entre Yvonne e Bezerra produziu valiosos exemplares da
literatura espírita, que em muito enriqueceram o
panorama intelectual do movimento espírita brasileiro,
tanto pela beleza da expressão literária de cada obra
quanto por seu conteúdo doutrinário.
Pelas mãos da médium fluminense, nascida no município de
Valença (RJ), hoje rebatizado como Rio das Flores, e
desencarnada no Rio de Janeiro, em 1984, surgiram
preciosos trabalhos da lavra do prestimoso instrutor
espiritual, a exemplo de Dramas da Obsessão, A
Tragédia de Santa Maria e Nas Telas do Infinito -
este, em conjunto com o Espírito Camilo Castelo Branco,
também autor do clássico Memórias de um Suicida.
Mas, além de ditar suas obras, Bezerra colaborou com
Yvonne supervisionando vários trabalhos psicográficos,
como os livros Devassando o Invisível (assistência
do Espírito Charles, mentor da médium), A Família
Espírita, Evangelho aos Simples, A Lei de
Deus, Contos Amigos e O Livro de Eneida (assistência
de Charles e Léon Tolstoi).
Talvez tenha sido o nome venerando de Bezerra de Menezes
o facilitador da carreira literária espírita de Yvonne,
uma vez que Nas Telas do Infinito foi seu
primeiro livro publicado pela Federação Espírita
Brasileira - editora de todas as suas obras -, antes de Memórias
de um Suicida e Amor e Ódio.
Conforme a médium relata nas páginas de abertura de À
Luz do Consolador, sua submissão à FEB deveu-se a
conselhos de "meus amados Guias Espirituais Bezerra de
Menezes e Charles". Tais Espíritos, conta Yvonne, lhe
diziam: "Somente à Federação Espírita Brasileira confia
tuas produções literárias mediúnicas. Se, um dia, alguma
delas for rejeitada, submete-te: guarda-a, a fim de
refazê-la mais tarde, ou destrói-a. Mas, não a confies a
outrem".
Por tal razão, Yvonne jamais doou nenhum livro que tenha
psicografado às editoras que lhe solicitaram
publicações, até porque, conforme relata no livro, ela
amava e respeitava a Casa-Máter do Espiritismo no Brasil
"desde a minha infância".
Não era por acaso o conselho espiritual, uma vez que
Bezerra de Menezes havia sido, quando encarnado,
presidente da FEB em duas gestões diferentes, em 1889 e
1895, havendo desencarnado em pleno exercício do cargo.
Em seu livro Lindos Casos de Bezerra de Menezes (Ed.
LAKE), o autor Ramiro Gama registra uma mensagem de
nosso homenageado recebida através de Chico Xavier,
outro médium que soube honrar sua amizade com os
Espíritos. A mensagem, dirigida aos medianeiros, é uma
verdadeira receita de estreitamento dos laços de
amizade, pela prática da caridade.
Nela, o "médico dos pobres" recomenda: "Quem deseja a
verdadeira felicidade, há de improvisar a felicidade dos
outros; quem procura a consolação, para encontrá-la,
deverá reconfortar os mais desditosos da humana
experiência". Assim se acumularão tesouros no céu da
consciência, consoante a lição de Jesus, o Amigo Maior".
Francisco Muniz, expositor e
escritor espírita, reside em Salvador-BA.
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