O alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e de
causa multifatorial. Lamentavelmente, afeta milhões de
pessoas ao redor do mundo. Caracteriza-se pela
dependência do álcool e pelas consequências físicas,
emocionais e sociais/financeiras que ele traz para o
indivíduo e para aqueles ao seu redor.
O assunto veio à baila mais fortemente em decorrência da
novela global Vale Tudo (remake), em que a
personagem Heleninha Roitman exemplifica, de
maneira marcante, alguns dos aspectos que envolvem o
alcoolismo, mostrando como o consumo excessivo de álcool
pode afetar a vida de uma pessoa e o impacto de suas
escolhas nas relações interpessoais (independente de
posição social, como é o caso da personagem).
O alcoolismo é uma condição multifatorial, ou seja, suas
causas podem ser tanto biológicas quanto ambientais.
Entre os fatores biológicos, a predisposição genética
desempenha um papel relevante, já que pessoas com
histórico familiar de alcoolismo têm maior chance de
desenvolver a doença. Isto não quer dizer, obviamente,
que há um destino inevitável. Mas, sim, uma maior
vulnerabilidade da pessoa (maior propensão), que pode
ter uma experiência inicial com o álcool mais
“prazerosa” ou até mesmo desenvolver uma “tolerância”.
Do ponto de vista psicológico, traumas emocionais,
ansiedade, depressão e estresse podem ser gatilhos para
o consumo de álcool, com o indivíduo buscando na
substância uma forma de escape; uma fuga existencial;
uma anestesia dos sentidos (e das dores/decepções).
Na novela mencionada, Heleninha Roitman se vê
imersa em uma rotina de altos e baixos emocionais,
afetada por questões familiares, sociais e amorosas. O
alcoolismo dela não é algo que surge de um único evento,
mas é alimentado por uma série de fatores de estresse e
solidão, exacerbados pelas situações de sua vida (como a
suposta perda do irmão em um acidente de carro).
As consequências do alcoolismo são devastadoras, tanto
para o indivíduo quanto para os que o cercam. No caso
de Heleninha, vemos uma mulher bem-sucedida
financeiramente, uma artista plástica com potencial, mas
cujas escolhas começam a levar à perda de controle sobre
sua própria vida.
O alcoolismo, no caso dela, se torna um reflexo de sua
tentativa de lidar com suas emoções e frustrações. Ela
perde sua capacidade de equilibrar suas relações
profissionais e pessoais, afetando sua imagem pública e
até sua saúde mental e física.
Para além da ficção retratada, o alcoolismo pode causar
uma série de problemas de saúde, como doenças hepáticas,
cardiovasculares, neurológicas e psiquiátricas. O
isolamento social, a perda de vínculos familiares e a
incapacidade de manter um emprego ou uma vida social
equilibrada também são consequências diretas da
dependência do álcool.
Neste sentido, uma das formas mais eficazes de auxílio
para quem enfrenta o alcoolismo é o suporte dos
Alcoólicos Anônimos (AA). O AA é uma irmandade de
pessoas que se encontram para compartilhar suas
experiências, forças e esperanças, a fim de resolverem o
problema do alcoolismo em suas vidas. O apoio mútuo e a
troca de vivências são fundamentais para que o indivíduo
compreenda que não está sozinho na luta e que há formas
de se recuperar.
O programa de 12 passos do AA, que enfatiza a busca por
uma mudança espiritual e pessoal, tem se mostrado eficaz
ao longo dos anos para muitos dependentes alcoólicos.
Para Heleninha, a participação em um grupo como o
AA parece ser uma oportunidade de reverter sua
trajetória autodestrutiva (até o momento da redação
deste texto, parece ser o caminho acertado da personagem
em busca de melhor equilíbrio).
A aceitação de sua condição, a busca por perdão e a
vontade de mudar são passos essenciais para quem deseja
se recuperar do alcoolismo.
Além do AA, outras formas de tratamento para o
alcoolismo incluem a terapia individual ou em grupo,
tratamentos médicos, como desintoxicação e medicamentos
para auxiliar na abstinência, e a intervenção familiar,
que muitas vezes é um passo crucial para a pessoa
reconhecer a necessidade de ajuda.
É fundamental ter uma rede de apoio composta por
familiares, amigos e profissionais de saúde, que,
através do entendimento e acolhimento, ajudam a promover
a transformação de que tanto o paciente necessita.
O tratamento psicológico é crucial para identificar as
raízes do alcoolismo, como traumas emocionais e
dificuldades psicológicas, e auxiliar o paciente a lidar
com essas questões sem recorrer ao álcool. Programas de
reabilitação e suporte contínuo são vitais para garantir
que a pessoa se mantenha sóbria e consiga reconstruir
sua vida.
O alcoolismo, como exemplificado por Heleninha
Roitman em Vale Tudo, é uma doença complexa
que não se resolve apenas com a vontade de parar de
beber. Exigem-se um esforço constante, compreensão e a
busca por tratamentos adequados.
O AA e outras formas de apoio oferecem um caminho
possível para a recuperação, mas o processo é longo e
exige o comprometimento do indivíduo com sua saúde e
bem-estar. Heleninha, assim como tantas pessoas que
enfrentam a dependência, precisa de apoio, compreensão
e, acima de tudo, de sua própria vontade de mudar. É uma
jornada difícil, mas com a ajuda certa, a recuperação é
possível.
No capítulo Medida salvadora, do livro No
Mundo Maior, André Luiz apresenta a situação de
Antídio, personagem da obra, que é um alcoolista.
A despeito das inúmeras intervenções feitas por
Calderaro (mentor espiritual) em benefício da saúde de
Antídio, este tão logo se via recuperado ou em plena
saúde, volvia ao vício etílico.
O trecho a seguir expõe o quadro: “(...) mercê de sua
intervenção última; logo, porém, que se viu fortalecido,
tornou desbragadamente aos alcoólicos. A sede
escaldante, provocada pela própria displicência e pela
instigação dos vampiros que, vorazes, se lhe enxameiam à
roda, everteu-lhe o sistema nervoso. A organização
perispirítica, semiliberta do corpo denso pelos
perniciosos processos da embriaguez, povoa-lhe a mente
de atros pesadelos, agravados pela atuação das entidades
perversas que o seguem passo a passo” (XAVIER, LUIZ,
1995, pp. 192-193).
André, Calderaro e a entidade responsável por Antídio
foram até o local onde ele se encontrava. “Numa saleta
abafada, um cavalheiro de quarente e cinco anos
presumíveis jazia a tremer. Não conseguia manter-se de
pé” (XAVIER, LUIZ, 1995, p. 195).
Continua André a descrição da cena: “Antídio, doente e
desventurado, a despeito das condições precárias,
reclamava um copinho, sempre mais um copinho, que um
rapaz de serviço trazia, obediente. Tremiam-lhe os
membros, denunciando-lhe o abatimento. Álgido suor lhe
escorria da fronte e, de vez em quando, desferia gritos
de terror selvagem. Em derredor, quatro entidades
embrutecidas submetiam-no aos seus desejos.
Empolgavam-lhe a organização fisiológica,
alternadamente, uma a uma, revezando-se para
experimentar a absorção das emanações alcoólicas, no que
sentiam singular prazer. Apossavam-se particularmente
da estrada gástrica, inalando a bebida a
volatilizar-se da cárdia ao piloro. A cena infundia
angústia e assombro. Estaríamos diante de um homem
embriagado ou de uma taça viva, cujo conteúdo sorviam
gênios satânicos do vício?” (p. 196).
Caro leitor, cara leitora, Antídio era um pai de
família, responsável pela esposa e duas crianças. Mas, a
fuga da responsabilidade; a fuga de si mesmo, fazia-o
mergulhar no vício e prejudicar a si próprio e aos
familiares.
Ele corria o risco de apodrecer num hospício e seus
familiares ficariam sem um suporte para a própria
subsistência. Diante da gravidade da situação, Calderaro
optou por torná-lo mais enfermo, ou seja, prendê-lo-ia
ao leito do hospital, para que não pudesse, ao menos
temporariamente, voltar ao vício e colocar sua
reencarnação em perigo e prejudicar seus familiares (que
mereciam um suporte financeiro do pai).
“Calderaro encetou complicado serviço de passes, ao
longo da espinha dorsal. O enfermo aquietou-se, pouco a
pouco, na velha poltrona em que se mantinha. O
Assistente passou a aplicar-lhe eflúvios luminosos sobre
o coração, durante vários minutos. Notei que essas
emissões se concentraram gradativamente no órgão
central, que em certo instante acusou parada súbita.
Antídio parecia prestes a desencarnar, quando o
orientador lhe restituiu as energias, em movimentação
rápida. Premido pelo fenômeno circulatório, que lhe
valeu tremendo choque, o desditoso amigo pôs-se a pedir
auxílio em altos brados. Havia tamanha inflexão de dor,
na voz lamentosa, que grande número de pessoas se
aproximaram, penalizadas” (XAVIER, LUIZ, 1995, p. 198).
Um cavalheiro chamou o serviço de socorro para Antídio.
A partir daquele momento, Antídio seria portador de uma
problemática cardíaca que segundo Calderaro duraria de
dois a três meses. E “debalde usará a valeriana e outras
substâncias medicamentosas, em vão apelará para
anestésicos e desintoxicantes. No curso de algumas
semanas conhecerá intraduzível mal-estar, de modo a
restabelecer a harmonia do cosmo psíquico. Experimentará
indizível angústia, submeter-se-á a medicações e
regimes, que lhe diminuirão a tendência de esquecer as
obrigações sagradas da hora e lhe acordarão os
sentimentos, devagarinho, para a nobreza do ato de
viver. (...) As mesmas Forças Divinas que concedem ao
homem a brisa cariciosa, infligem-lhe a tempestade
devastadora... Uma e outra, porém, são elementos
indispensáveis à glória da vida” (XAVIER, LUIZ, 1995,
pp. 198-199).
Sem qualquer laivo de ditadura moral (dizendo o que
você, leitor ou leitora, deve fazer), esses apontamentos
são para reflexão; para autoanálise e moderação diante
dessa indústria bilionária dos etílicos; do marketing muito
bem engendrado para captar mais viciados; da pressão
social, enfim.
Vale a pena arriscar o primeiro gole?
E se você se vê diante de uma situação difícil ou de
algum familiar envolto pelos vapores das taças
ilusórias, por que não pedir ajudar? Por que não tentar?
Abaixo, deixo os dados do AA, certamente eles têm muito
a oferecer e auxiliar nesse processo de autolibertação.
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oficial
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Referência:
XAVIER, Francisco Cândido; LUIZ, André
(espírito). No mundo maior. 20. ed. Federação
Espírita Brasileira – FEB. Brasília – DF: 1995.