Especial

por Marcos Paulo de Oliveira Santos

Alcoolismo

 

O alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e de causa multifatorial. Lamentavelmente, afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Caracteriza-se pela dependência do álcool e pelas consequências físicas, emocionais e sociais/financeiras que ele traz para o indivíduo e para aqueles ao seu redor.

O assunto veio à baila mais fortemente em decorrência da novela global Vale Tudo (remake), em que a personagem Heleninha Roitman exemplifica, de maneira marcante, alguns dos aspectos que envolvem o alcoolismo, mostrando como o consumo excessivo de álcool pode afetar a vida de uma pessoa e o impacto de suas escolhas nas relações interpessoais (independente de posição social, como é o caso da personagem).

O alcoolismo é uma condição multifatorial, ou seja, suas causas podem ser tanto biológicas quanto ambientais. Entre os fatores biológicos, a predisposição genética desempenha um papel relevante, já que pessoas com histórico familiar de alcoolismo têm maior chance de desenvolver a doença. Isto não quer dizer, obviamente, que há um destino inevitável. Mas, sim, uma maior vulnerabilidade da pessoa (maior propensão), que pode ter uma experiência inicial com o álcool mais “prazerosa” ou até mesmo desenvolver uma “tolerância”.

Do ponto de vista psicológico, traumas emocionais, ansiedade, depressão e estresse podem ser gatilhos para o consumo de álcool, com o indivíduo buscando na substância uma forma de escape; uma fuga existencial; uma anestesia dos sentidos (e das dores/decepções).

Na novela mencionada, Heleninha Roitman se vê imersa em uma rotina de altos e baixos emocionais, afetada por questões familiares, sociais e amorosas. O alcoolismo dela não é algo que surge de um único evento, mas é alimentado por uma série de fatores de estresse e solidão, exacerbados pelas situações de sua vida (como a suposta perda do irmão em um acidente de carro).

As consequências do alcoolismo são devastadoras, tanto para o indivíduo quanto para os que o cercam. No caso de Heleninha, vemos uma mulher bem-sucedida financeiramente, uma artista plástica com potencial, mas cujas escolhas começam a levar à perda de controle sobre sua própria vida.

O alcoolismo, no caso dela, se torna um reflexo de sua tentativa de lidar com suas emoções e frustrações. Ela perde sua capacidade de equilibrar suas relações profissionais e pessoais, afetando sua imagem pública e até sua saúde mental e física.

Para além da ficção retratada, o alcoolismo pode causar uma série de problemas de saúde, como doenças hepáticas, cardiovasculares, neurológicas e psiquiátricas. O isolamento social, a perda de vínculos familiares e a incapacidade de manter um emprego ou uma vida social equilibrada também são consequências diretas da dependência do álcool.

Neste sentido, uma das formas mais eficazes de auxílio para quem enfrenta o alcoolismo é o suporte dos Alcoólicos Anônimos (AA). O AA é uma irmandade de pessoas que se encontram para compartilhar suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolverem o problema do alcoolismo em suas vidas. O apoio mútuo e a troca de vivências são fundamentais para que o indivíduo compreenda que não está sozinho na luta e que há formas de se recuperar.

O programa de 12 passos do AA, que enfatiza a busca por uma mudança espiritual e pessoal, tem se mostrado eficaz ao longo dos anos para muitos dependentes alcoólicos. Para Heleninha, a participação em um grupo como o AA parece ser uma oportunidade de reverter sua trajetória autodestrutiva (até o momento da redação deste texto, parece ser o caminho acertado da personagem em busca de melhor equilíbrio).

A aceitação de sua condição, a busca por perdão e a vontade de mudar são passos essenciais para quem deseja se recuperar do alcoolismo.

Além do AA, outras formas de tratamento para o alcoolismo incluem a terapia individual ou em grupo, tratamentos médicos, como desintoxicação e medicamentos para auxiliar na abstinência, e a intervenção familiar, que muitas vezes é um passo crucial para a pessoa reconhecer a necessidade de ajuda.

É fundamental ter uma rede de apoio composta por familiares, amigos e profissionais de saúde, que, através do entendimento e acolhimento, ajudam a promover a transformação de que tanto o paciente necessita.

O tratamento psicológico é crucial para identificar as raízes do alcoolismo, como traumas emocionais e dificuldades psicológicas, e auxiliar o paciente a lidar com essas questões sem recorrer ao álcool. Programas de reabilitação e suporte contínuo são vitais para garantir que a pessoa se mantenha sóbria e consiga reconstruir sua vida.

O alcoolismo, como exemplificado por Heleninha Roitman em Vale Tudo, é uma doença complexa que não se resolve apenas com a vontade de parar de beber. Exigem-se um esforço constante, compreensão e a busca por tratamentos adequados.

O AA e outras formas de apoio oferecem um caminho possível para a recuperação, mas o processo é longo e exige o comprometimento do indivíduo com sua saúde e bem-estar. Heleninha, assim como tantas pessoas que enfrentam a dependência, precisa de apoio, compreensão e, acima de tudo, de sua própria vontade de mudar. É uma jornada difícil, mas com a ajuda certa, a recuperação é possível.

No capítulo Medida salvadora, do livro No Mundo Maior, André Luiz apresenta a situação de Antídio, personagem da obra, que é um alcoolista.

A despeito das inúmeras intervenções feitas por Calderaro (mentor espiritual) em benefício da saúde de Antídio, este tão logo se via recuperado ou em plena saúde, volvia ao vício etílico.

O trecho a seguir expõe o quadro: “(...) mercê de sua intervenção última; logo, porém, que se viu fortalecido, tornou desbragadamente aos alcoólicos. A sede escaldante, provocada pela própria displicência e pela instigação dos vampiros que, vorazes, se lhe enxameiam à roda, everteu-lhe o sistema nervoso. A organização perispirítica, semiliberta do corpo denso pelos perniciosos processos da embriaguez, povoa-lhe a mente de atros pesadelos, agravados pela atuação das entidades perversas que o seguem passo a passo” (XAVIER, LUIZ, 1995, pp. 192-193).

André, Calderaro e a entidade responsável por Antídio foram até o local onde ele se encontrava. “Numa saleta abafada, um cavalheiro de quarente e cinco anos presumíveis jazia a tremer. Não conseguia manter-se de pé” (XAVIER, LUIZ, 1995, p. 195).

Continua André a descrição da cena: “Antídio, doente e desventurado, a despeito das condições precárias, reclamava um copinho, sempre mais um copinho, que um rapaz de serviço trazia, obediente. Tremiam-lhe os membros, denunciando-lhe o abatimento. Álgido suor lhe escorria da fronte e, de vez em quando, desferia gritos de terror selvagem. Em derredor, quatro entidades embrutecidas submetiam-no aos seus desejos. Empolgavam-lhe a organização fisiológica, alternadamente, uma a uma, revezando-se para experimentar a absorção das emanações alcoólicas, no que sentiam singular prazer. Apossavam-se particularmente da estrada gástrica, inalando a bebida a volatilizar-se da cárdia ao piloro. A cena infundia angústia e assombro. Estaríamos diante de um homem embriagado ou de uma taça viva, cujo conteúdo sorviam gênios satânicos do vício?” (p. 196).

Caro leitor, cara leitora, Antídio era um pai de família, responsável pela esposa e duas crianças. Mas, a fuga da responsabilidade; a fuga de si mesmo, fazia-o mergulhar no vício e prejudicar a si próprio e aos familiares.

Ele corria o risco de apodrecer num hospício e seus familiares ficariam sem um suporte para a própria subsistência. Diante da gravidade da situação, Calderaro optou por torná-lo mais enfermo, ou seja, prendê-lo-ia ao leito do hospital, para que não pudesse, ao menos temporariamente, voltar ao vício e colocar sua reencarnação em perigo e prejudicar seus familiares (que mereciam um suporte financeiro do pai).

“Calderaro encetou complicado serviço de passes, ao longo da espinha dorsal. O enfermo aquietou-se, pouco a pouco, na velha poltrona em que se mantinha. O Assistente passou a aplicar-lhe eflúvios luminosos sobre o coração, durante vários minutos. Notei que essas emissões se concentraram gradativamente no órgão central, que em certo instante acusou parada súbita. Antídio parecia prestes a desencarnar, quando o orientador lhe restituiu as energias, em movimentação rápida. Premido pelo fenômeno circulatório, que lhe valeu tremendo choque, o desditoso amigo pôs-se a pedir auxílio em altos brados. Havia tamanha inflexão de dor, na voz lamentosa, que grande número de pessoas se aproximaram, penalizadas” (XAVIER, LUIZ, 1995, p. 198).

Um cavalheiro chamou o serviço de socorro para Antídio. A partir daquele momento, Antídio seria portador de uma problemática cardíaca que segundo Calderaro duraria de dois a três meses. E “debalde usará a valeriana e outras substâncias medicamentosas, em vão apelará para anestésicos e desintoxicantes. No curso de algumas semanas conhecerá intraduzível mal-estar, de modo a restabelecer a harmonia do cosmo psíquico. Experimentará indizível angústia, submeter-se-á a medicações e regimes, que lhe diminuirão a tendência de esquecer as obrigações sagradas da hora e lhe acordarão os sentimentos, devagarinho, para a nobreza do ato de viver. (...) As mesmas Forças Divinas que concedem ao homem a brisa cariciosa, infligem-lhe a tempestade devastadora... Uma e outra, porém, são elementos indispensáveis à glória da vida” (XAVIER, LUIZ, 1995, pp. 198-199).

Sem qualquer laivo de ditadura moral (dizendo o que você, leitor ou leitora, deve fazer), esses apontamentos são para reflexão; para autoanálise e moderação diante dessa indústria bilionária dos etílicos; do marketing muito bem engendrado para captar mais viciados; da pressão social, enfim.

Vale a pena arriscar o primeiro gole?

E se você se vê diante de uma situação difícil ou de algum familiar envolto pelos vapores das taças ilusórias, por que não pedir ajudar? Por que não tentar? Abaixo, deixo os dados do AA, certamente eles têm muito a oferecer e auxiliar nesse processo de autolibertação.


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Referência:

XAVIER, Francisco Cândido; LUIZ, André (espírito). No mundo maior. 20. ed. Federação Espírita Brasileira – FEB. Brasília – DF: 1995.

    

     
     

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