Lições de Jesus na casa de Marta
Encontramos esse episódio no Evangelho de Lucas,
capítulo 10, versículos 38 a 42, único evangelista a
narrar essa passagem. O povoado de Betânia — atualmente
Al-Eizariya (Cisjordânia) — encontra-se entre Jerusalém
e Jericó. Em suas peregrinações, Jesus tinha por hábito
visitar os amigos Marta, Maria e Lázaro (o cataléptico),
que moravam na citada aldeia.
Dentro daquele lar, o Messias deparou a atarefada Marta,
incomodada com a irmã Maria, sentada, ouvindo o Mestre.
Ela repreendeu a atitude da irmã e pediu ao Nazareno
para interferir. Jesus a advertiu:
— Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com
muitas coisas; porém, uma só é necessária. Maria
escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.[1]
Primeira lição: “Uma
só coisa é necessária”.
O Mestre não repreendeu os afazeres domésticos de Marta,
mas utilizou-se daquelas preocupações excessivas da
anfitriã com a matéria (algo provisório) para
transmitir-lhe um ensinamento em relação aos valores e
bens materiais. Muitos indivíduos, preocupados em
acumular ou resolver questões de ordem material, se
detêm em negócios, tarefas ou compromissos os quais
poderiam ser adiados. Muitos, nesses momentos,
aferram-se ao consumismo descontrolado e são
surpreendidos, depois, na angústia do vazio deixado por
essas alegrias efêmeras. Relembramos, a propósito, as
questões 715, 716 e 717 de O Livro dos Espíritos,
no capítulo que trata da Lei de Conservação: O
necessário e o supérfluo.
Segunda Lição: “A melhor parte, e esta não lhe será
tirada”.
O Mestre aproveitou a ocasião e enalteceu a atitude de
Maria, que lhe sorvia as palavras e ensinos,
incorporando-os ao seu patrimônio espiritual. Maria —
como um ser imortal — nutria-se do que lhe somaria em
aquisições promissoras.
Destacamos aqui o capítulo XVI de O Evangelho segundo
o Espiritismo — “Não se pode servir a Deus e
a Mamon”. Nas Instruções dos Espíritos, Pascal define a
verdadeira propriedade do Espírito. Segundo ele, o
patrimônio espiritual pode ser estabelecido em três
itens: a inteligência, os conhecimentos e as qualidades
morais. Pascal assinala que esse patrimônio é do
Espírito, o princípio inteligente, valores inalienáveis
que ele traz consigo ao reencarnar e leva consigo quando
desencarna.
Essa segunda lição — “a melhor parte não lhe será
tirada” — enaltece o verdadeiro valor que devemos dar no
sentido lato de aquisições promissoras; por
conseguinte, a narrativa evangélica deixa bem claro que
os afazeres do cotidiano são válidos; todavia, sem os
devidos exageros. Por conseguinte, Marta representa as
pessoas que somente se preocupam com os cuidados
materiais. Maria, por seu turno, exemplifica os seres
virtuosos que se satisfazem com muito pouco. A
espiritualização é o que lhes importa em termos de
aquisições e valores morais.
Roni Ricardo Osorio Maia reside em Volta Redonda (RJ).