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por Roni Ricardo Osorio Maia

 

Lições de Jesus na casa de Marta


Encontramos esse episódio no Evangelho de Lucas, capítulo 10, versículos 38 a 42, único evangelista a narrar essa passagem. O povoado de Betânia — atualmente Al-Eizariya (Cisjordânia) — encontra-se entre Jerusalém e Jericó. Em suas peregrinações, Jesus tinha por hábito visitar os amigos Marta, Maria e Lázaro (o cataléptico), que moravam na citada aldeia.

Dentro daquele lar, o Messias deparou a atarefada Marta, incomodada com a irmã Maria, sentada, ouvindo o Mestre. Ela repreendeu a atitude da irmã e pediu ao Nazareno para interferir. Jesus a advertiu:

— Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.[1]


Primeira lição
: “Uma só coisa é necessária”.

O Mestre não repreendeu os afazeres domésticos de Marta, mas utilizou-se daquelas preocupações excessivas da anfitriã com a matéria (algo provisório) para transmitir-lhe um ensinamento em relação aos valores e bens materiais. Muitos indivíduos, preocupados em acumular ou resolver questões de ordem material, se detêm em negócios, tarefas ou compromissos os quais poderiam ser adiados. Muitos, nesses momentos, aferram-se ao consumismo descontrolado e são surpreendidos, depois, na angústia do vazio deixado por essas alegrias efêmeras. Relembramos, a propósito, as questões 715, 716 e 717 de O Livro dos Espíritos, no capítulo que trata da Lei de Conservação: O necessário e o supérfluo.


Segunda Lição: “A melhor parte, e esta não lhe será tirada”.

O Mestre aproveitou a ocasião e enalteceu a atitude de Maria, que lhe sorvia as palavras e ensinos, incorporando-os ao seu patrimônio espiritual. Maria — como um ser imortal — nutria-se do que lhe somaria em aquisições promissoras.

Destacamos aqui o capítulo XVI de O Evangelho segundo o Espiritismo  “Não se pode servir a Deus e a Mamon”. Nas Instruções dos Espíritos, Pascal define a verdadeira propriedade do Espírito. Segundo ele, o patrimônio espiritual pode ser estabelecido em três itens: a inteligência, os conhecimentos e as qualidades morais. Pascal assinala que esse patrimônio é do Espírito, o princípio inteligente, valores inalienáveis que ele traz consigo ao reencarnar e leva consigo quando desencarna.

Essa segunda lição — “a melhor parte não lhe será tirada” — enaltece o verdadeiro valor que devemos dar no sentido lato de aquisições promissoras; por conseguinte, a narrativa evangélica deixa bem claro que os afazeres do cotidiano são válidos; todavia, sem os devidos exageros. Por conseguinte, Marta representa as pessoas que somente se preocupam com os cuidados materiais. Maria, por seu turno, exemplifica os seres virtuosos que se satisfazem com muito pouco. A espiritualização é o que lhes importa em termos de aquisições e valores morais.


Roni Ricardo Osorio Maia reside em Volta Redonda (RJ).

 


[1] Bíblia Sagrada -Ed. Pastoral - Paulus.

 
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita