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por Juan Carlos Orozco

O sábado e as convenções humanas

 

“Então Jesus disse: o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Assim, pois, o Filho do homem é Senhor até mesmo do sábado.” (Marcos, 2: 27-28)


A respeito dessa passagem evangélica, o Espírito Emmanuel, no livro Pão Nosso, capítulo 30 – Convenções, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, esclarece que o sábado simboliza convenções organizadas para o serviço humano, em que muitos por esse dia sacrificam todas as possibilidades de elevação espiritual, antes da própria obediência a Deus.

Emmanuel complementa que essas convenções definem, catalogam, especificam e enumeram, mas não devem tiranizar a existência. Elas foram dispostas para lhe servir de maneira justa e construtiva, sem se converter em cárcere.

Convenções são preceitos e formalidades criadas pelos seres humanos, acordos estabelecidos entre indivíduos, grupos, organizações ou sociedades, para regular comportamentos, estabelecer regras, normas ou definir obrigações, que desaparecem com o tempo. Muitas dessas convenções podem implicar em práticas exteriores para padrões de comportamentos em diversas áreas e situações.

Cairbar Schutel, no livro Parábolas e ensinos de Jesus, em “O sábado e o templo”, expressa que o sábado é um dia convencional para designar o sétimo da semana, pertencente à Terra, assim como o dia e a noite, sem relação com as coisas do mundo espiritual.

Antônio Luiz Sayão, em Elucidações evangélicas, sobre “O dia de sábado. Culto do sábado”, ensina que Moisés instituiu o sábado como meio de refrear a avareza, a cobiça, a ambição e a desumanidade dos senhores de escravos e animais, que não permitiam descansar das fadigas do trabalho cotidiano. Por conseguinte, a sua instituição representava medida destinada a proteger o corpo do esgotamento resultante do excesso de trabalho, sem criar embaraço ou inibir a prática do bem.

Hoje, o dia dedicado ao descanso é o domingo.

Sayão complementa que a instituição do sábado, como tantas outras práticas, cultos externos e cerimônias com que o homem ocupa o seu tempo, nenhuma importância ou valor têm, para aquele que queira compreender em espírito e verdade o que disse Jesus.

Emmanuel, no livro O Consolador, na resposta à questão 130, esclarece que o descanso semanal deve ser consagrado pelo homem às expressões de espiritualidade da sua vida, sem se dar, porém, a qualquer excesso no domínio da letra, nesse particular, porque, após a palavra de Moisés, devemos ouvir a lição do Senhor, esclarecendo que “o sábado foi feito para o homem e não o homem par ao sábado”.

Jesus curava aos sábados

Allan Kardec, no livro A Gênese, capítulo XV, item 23, esclarece:

“Jesus como que fazia questão de operar suas curas em dia de sábado, para ter ensejo de protestar contra o rigorismo dos fariseus no tocante à guarda desse dia. Queria mostrar-lhes que a verdadeira piedade não consiste na observância das práticas exteriores e das formalidades; que a piedade está nos sentimentos do coração. Justificava-se, declarando: ‘Meu Pai não cessa de trabalhar até ao presente e eu também trabalho incessantemente.’ Quer dizer: Deus não interrompe suas obras, nem sua ação sobre as coisas da natureza, em dia de sábado. Ele não deixa de fazer que se produza tudo quanto é necessário à vossa alimentação e à vossa saúde; eu lhe sigo o exemplo.”

Assim, Jesus contradizia a tradição religiosa da época de que o bem deveria ser realizado em dias específicos, fruto da interpretação literal e equivocada a respeito da determinação mosaica: “seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu servo, nem tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o Senhor o dia de sábado e o santificou” (Ex 20:9-11).

Nesse contexto, em outra passagem evangélica, temos: “Mas ele, conhecendo bem os seus pensamentos, disse ao homem que tinha a mão mirrada: levanta-te e fica em pé no meio. E, levantando-se ele, ficou em pé. Então, Jesus lhes disse: uma coisa vos hei de perguntar: é lícito nos sábados fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar?” (Lucas, 6: 8-9).

Jesus lança aos escribas e fariseus a questão acerca se é lícito fazer bem ou fazer mal nos sábados, ou salvar a vida ou matar nesse mesmo dia, objetivando suas reflexões a esse respeito, considerando que aqueles religiosos eram de crenças com grande zelo por práticas exteriores.

Em outra passagem, depois de Jesus ter realizado uma cura, temos: “Por isso os judeus perseguiram a Jesus, porque fazia estas coisas nos sábados. Mas Jesus disse-lhes: meu Pai não cessa de agir até agora e eu também; por isso, pois, os judeus procuravam com maior ânsia tirar-lhe a vida, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” (João, 5: 16-18)

Com a cura do paralítico em um sábado, os fiéis observadores dos dias, das horas, das práticas exteriores e ritos de sua Igreja revoltaram-se contra Jesus por haver violado o sábado e quiseram impedir o curado de levar a sua cama.  

Aqueles fiéis religiosos eram cegos de Espírito, cegos guiados por cegos, que deliberaram em perseguir a Jesus sob o pretexto de que ele curara num sábado.

Os cegos de Espírito se julgam aptos bastante para ser guia de cegos das coisas do Espírito, porquanto estes são incapazes de enxergar as verdades divinas, em que o orgulho é a catarata que cobre a visão.

Por analogia com um cego físico guiando outro cego, para o cego de Espírito, o Mestre ensina a consequência: “se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova”. 

Antes de conhecermos Jesus, estávamos cegos para as verdades espirituais que a Palavra oferece aos olhos, porquanto os cegos espirituais não conseguem reconciliar-se com Deus: “Porque vendo, eles não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem. Neles se cumpre a profecia de Isaías: Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão” (Mateus, 13: 13-14).

Assim, “Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do fim que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé” (José, Espírito protetor. Bordeaux, 1862)

Seja bom todos os dias da semana!

 

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 29ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita