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O
sábado e as convenções humanas
“Então Jesus disse: o sábado foi feito por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado. Assim, pois, o
Filho do homem é Senhor até mesmo do sábado.” (Marcos,
2: 27-28)
A
respeito dessa passagem evangélica, o Espírito Emmanuel,
no livro Pão Nosso, capítulo 30 –
Convenções, na psicografia de Francisco Cândido Xavier,
esclarece que o sábado simboliza convenções organizadas
para o serviço humano, em que muitos por esse dia
sacrificam todas as possibilidades de elevação
espiritual, antes da própria obediência a Deus.
Emmanuel complementa que essas convenções definem,
catalogam, especificam e enumeram, mas não devem
tiranizar a existência. Elas foram dispostas para lhe
servir de maneira justa e construtiva, sem se converter
em cárcere.
Convenções são preceitos e formalidades criadas pelos
seres humanos, acordos estabelecidos entre indivíduos,
grupos, organizações ou sociedades, para regular
comportamentos, estabelecer regras, normas ou definir
obrigações, que desaparecem com o tempo. Muitas dessas
convenções podem implicar em práticas exteriores para
padrões de comportamentos em diversas áreas e situações.
Cairbar Schutel, no livro Parábolas e ensinos de
Jesus, em “O sábado e o templo”, expressa que o
sábado é um dia convencional para designar o sétimo da
semana, pertencente à Terra, assim como o dia e a noite,
sem relação com as coisas do mundo espiritual.
Antônio Luiz Sayão, em Elucidações evangélicas,
sobre “O dia de sábado. Culto do sábado”, ensina que
Moisés instituiu o sábado como meio de refrear a
avareza, a cobiça, a ambição e a desumanidade dos
senhores de escravos e animais, que não permitiam
descansar das fadigas do trabalho cotidiano. Por
conseguinte, a sua instituição representava medida
destinada a proteger o corpo do esgotamento resultante
do excesso de trabalho, sem criar embaraço ou inibir a
prática do bem.
Hoje, o dia dedicado ao descanso é o domingo.
Sayão complementa que a instituição do sábado, como
tantas outras práticas, cultos externos e cerimônias com
que o homem ocupa o seu tempo, nenhuma importância ou
valor têm, para aquele que queira compreender em
espírito e verdade o que disse Jesus.
Emmanuel, no livro O Consolador, na resposta à
questão 130, esclarece que o descanso semanal deve ser
consagrado pelo homem às expressões de espiritualidade
da sua vida, sem se dar, porém, a qualquer excesso no
domínio da letra, nesse particular, porque, após a
palavra de Moisés, devemos ouvir a lição do Senhor,
esclarecendo que “o sábado foi feito para o homem e não
o homem par ao sábado”.
Jesus curava aos sábados
Allan Kardec, no livro A Gênese, capítulo XV,
item 23, esclarece:
“Jesus como que fazia questão de operar suas curas em
dia de sábado, para ter ensejo de protestar contra o
rigorismo dos fariseus no tocante à guarda desse dia.
Queria mostrar-lhes que a verdadeira piedade não
consiste na observância das práticas exteriores e das
formalidades; que a piedade está nos sentimentos do
coração. Justificava-se, declarando: ‘Meu Pai não cessa
de trabalhar até ao presente e eu também trabalho
incessantemente.’ Quer dizer: Deus não interrompe suas
obras, nem sua ação sobre as coisas da natureza, em dia
de sábado. Ele não deixa de fazer que se produza tudo
quanto é necessário à vossa alimentação e à vossa saúde;
eu lhe sigo o exemplo.”
Assim, Jesus contradizia a tradição religiosa da época
de que o bem deveria ser realizado em dias específicos,
fruto da interpretação literal e equivocada a respeito
da determinação mosaica: “seis dias trabalharás, e
farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do
Senhor, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem
teu servo, nem tua serva, nem o teu animal, nem o teu
estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em
seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo
que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto,
abençoou o Senhor o dia de sábado e o santificou” (Ex
20:9-11).
Nesse contexto, em outra passagem evangélica, temos: “Mas
ele, conhecendo bem os seus pensamentos, disse ao homem
que tinha a mão mirrada: levanta-te e fica em pé no
meio. E, levantando-se ele, ficou em pé. Então, Jesus
lhes disse: uma coisa vos hei de perguntar: é lícito nos
sábados fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou
matar?” (Lucas, 6: 8-9).
Jesus lança aos escribas e fariseus a questão acerca se
é lícito fazer bem ou fazer mal nos sábados, ou salvar a
vida ou matar nesse mesmo dia, objetivando suas
reflexões a esse respeito, considerando que aqueles
religiosos eram de crenças com grande zelo por práticas
exteriores.
Em
outra passagem, depois de Jesus ter realizado uma cura,
temos: “Por isso os judeus perseguiram a Jesus,
porque fazia estas coisas nos sábados. Mas Jesus
disse-lhes: meu Pai não cessa de agir até agora e eu
também; por isso, pois, os judeus procuravam com maior
ânsia tirar-lhe a vida, porque não somente violava o
sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai,
fazendo-se igual a Deus.” (João, 5: 16-18)
Com
a cura do paralítico em um sábado, os fiéis observadores
dos dias, das horas, das práticas exteriores e ritos de
sua Igreja revoltaram-se contra Jesus por haver violado
o sábado e quiseram impedir o curado de levar a sua
cama.
Aqueles fiéis religiosos eram cegos de Espírito, cegos
guiados por cegos, que deliberaram em perseguir a Jesus
sob o pretexto de que ele curara num sábado.
Os
cegos de Espírito se julgam aptos bastante para ser guia
de cegos das coisas do Espírito, porquanto estes são
incapazes de enxergar as verdades divinas, em que o
orgulho é a catarata que cobre a visão.
Por
analogia com um cego físico guiando outro cego, para o
cego de Espírito, o Mestre ensina a consequência: “se
um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova”.
Antes de conhecermos Jesus, estávamos cegos para as
verdades espirituais que a Palavra oferece aos olhos,
porquanto os cegos espirituais não conseguem
reconciliar-se com Deus: “Porque vendo, eles não veem
e, ouvindo, não ouvem nem entendem. Neles se cumpre a
profecia de Isaías: Ainda que estejam sempre ouvindo,
vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo,
jamais perceberão” (Mateus, 13: 13-14).
Assim, “Tende, pois, a fé, com o que ela contém de
belo e de bom, com a sua pureza, com a sua
racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega
filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o
amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque
acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas
compenetrados do fim que vos apontamos e dos meios que
vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem
desfalecimento: os milagres são obras da fé” (José,
Espírito protetor. Bordeaux, 1862)
Seja bom todos os dias da semana!
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
EMMANUEL (Espírito); (psicografado por)
Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 29ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
EMMANUEL (Espírito); (psicografado por)
Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto
Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações
evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino
de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O
Clarim, 2016.
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