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por Cláudio Bueno da Silva

 

Nos tempos da jardineira


Aos doze anos tive um professor chamado Sídney Puls. Na escola do bairro, eu fazia o que na época se chamava “admissão ao ginásio”, um ano de preparação para entrada no curso secundário.

Ali passei alguns meses, até que minha mãe me transferiu para outra escola, no centro da cidade onde morávamos. Não esqueço as palavras do professor Sídney ao saber da transferência. Lamentava a perda de um bom aluno, que ia indo muito bem, mas enfim, se era conveniente a medida, que fosse implementada.

Fiquei empolgado com a mudança, pois teria que pegar ônibus e estudaria na então mais importante escola da cidade. Deixaria para trás vários colegas, mas o sentimento de independência foi mais forte em mim. Completei ali quatro anos do secundário e mais três do então “colegial”.

Décadas mais tarde, garimpando livros numa livraria-sebo, me deparei com um livreto contendo histórias curtas de um tal Sídney Puls: Nos tempos da jardineira. Folheei o pequeno volume à cata de informações sobre o autor. Nada encontrei. Não acreditei, porém, que pudesse ser um homônimo, não com aquele nome.

Um tanto emocionado, pensei em como a vida pode nos apresentar certas circunstâncias curiosas. Pura casualidade, pois aquele “achado” não tinha outro propósito a não ser o de me fazer lembrar do dedicado professor da minha infância, e descobrir que ele era também escritor.

Adquiri o livro e guardo-o até hoje. Nas páginas iniciais o autor fez imprimir uma dedicatória enigmática, reproduzindo um pensamento do Eclesiastes, 7:10: “Não digas: ‘Por que os tempos passados eram melhores que os de agora?’ pois não é a sabedoria que te inspira essa pergunta”.

Certamente, muitos leitores de Nos tempos da jardineira concordaram com esse pensamento bíblico, que lhes dava a certeza de que o agora e o que está por vir são sempre melhores.

Mas será também certo pensar com o Eclesiastes, que não se aprende verdadeiramente só com a vida presente projetada para o futuro. A consulta ao passado tem muito a nos ensinar, principalmente quando a utilizamos como referência, como comparação ao que se vive hoje. O passado está repleto de avisos, recados, lições. A história de qualquer um está impregnada do seu passado.

Está claro que, tendo em vista a lei de progresso, não se deve estagnar a mente no que passou. Mas, para crescer com consistência, será sempre útil avaliar a experiência acumulada anteriormente. 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita