Se não der, abstenha-se!
O conselho foi dado por Pascal. Consta do capítulo XXXI
– Dissertações Espíritas, item XIII, de O
Livro dos Médiuns.
O que se vai ler abaixo é a transcrição integral do
compacto texto, por si só muito claro e objetivo. Após a
transcrição, destaco alguns pontos muito didáticos.
Veja:
“Quando quiserdes receber comunicações de bons
Espíritos, importa vos prepareis para esse favor pelo
recolhimento, por intenções puras e pelo desejo de fazer
o bem, tendo em vista o progresso geral. Porque,
lembrai-vos, que o egoísmo é causa de retardamento a
todo progresso. Lembrai-vos de que se Deus permite que
alguns dentre vós recebam o sopro daqueles de seus
filhos que, pela sua conduta, souberam fazer-se
merecedores de lhe compreender a infinita bondade, é que
ele quer, por solicitação nossa e atendendo às vossas
boas intenções, dar-vos os meios de avançardes no
caminho que a ele conduz. Assim, pois, médiuns!
aproveitai dessa faculdade que Deus houve por bem
conceder-vos. Tende fé na mansuetude do nosso Mestre;
ponde sempre em prática a caridade; não vos canseis
jamais de exercitar essa virtude sublime, assim como a
tolerância. Estejam sempre as vossas ações de harmonia
com a vossa consciência e tereis nisso um meio certo de
centuplicardes a vossa felicidade nessa vida passageira
e de preparardes para vós mesmos uma existência mil
vezes ainda mais suave. Que, dentre vós, o médium que
não se sinta com forças para perseverar no ensino
espírita, se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa
a luz que o ilumina, será menos escusável do que outro
qualquer e terá que expiar a sua cegueira.”
Destaco didaticamente:
1 – Veja as condições: “(...) importa vos
prepareis para esse favor pelo recolhimento, por
intenções puras e pelo desejo de fazer o bem (...)” –
Para receber comunicações dos Bons Espíritos;
2 – Previnamo-nos: “(...) o egoísmo é causa de
retardamento a todo progresso (...)”. Considere o
progresso geral a que nos comprometemos todos, em nome
da causa do Evangelho.
3 – Guia seguro: “(...) Tende fé na mansuetude do
nosso Mestre; ponde sempre em prática a caridade; não
vos canseis jamais de exercitar essa virtude sublime,
assim como a tolerância (...)” – Tais virtudes nos
previnem de quedas morais.
4 – Não podemos perder de vista: “(...) Estejam
sempre as vossas ações de harmonia com a vossa
consciência (...)” – Uma questão de coerência.
5 – Orientação sábia: “(...) Que, dentre vós, o
médium que não se sinta com forças para perseverar no
ensino espírita, se abstenha (...)”. Notemos o detalhe: perseverar
no ensino espírita.
6 – Conclusão natural: “(...) não fazendo
proveitosa a luz que o ilumina, será menos escusável do
que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira
(...)”. A luz do conhecimento e do compromisso deve
reverter em favor coletivo.
Há que considerar que somos todos mais ou menos
médiuns e que, portanto, a orientação de Pascal não
é exclusiva para médiuns ostensivos, mas cabe a qualquer
tarefeiro espírita, de vez que nosso compromisso é com a
Causa de Jesus.
Sempre temos que pensar, repensar e refletir sobre
nossas ações e iniciativas. O compromisso é grave e se
não tivermos forças para perseverar no ensino espírita,
é melhor abster-se.
Esse perseverar no ensino espírita abre um
universo de desdobramentos. Paremos para pensar no que
cabe na expressão ensino espírita. O que
entendemos verdadeiramente sobre a expressão? Como a
compreendemos, a vivemos, a praticamos? É algo para
profunda e contínua reflexão.
E, por outro lado, esse abster-se não é
sinônimo de abandono das tarefas, o que também vai
afligir a consciência, mas pensar antes de agir, ou, em
outras palavras e sob outro ângulo, agir com
discernimento e prudência.
Para concluir, convido o leitor a meditarmos juntos na
expressão que finaliza o texto: expiar a sua
cegueira. Não vou continuar na reflexão, mas
antes convidamos a todos nós uma justa e honesta
apreciação da expressão, num exercício interior de
despertamento para nossas próprias realidades, ao invés
das ilusões que ainda alimentamos.
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