Especial

por Jorge Leite de Oliveira

Espírito e Matéria

 

Na questão número 27 d’O livro dos espíritos, lemos que Deus, espírito e matéria fazem parte da trindade universal dos elementos da Natureza. São esses os três elementos fundamentais, princípio de tudo o que existe, sob a direção suprema do Criador, a quem Jesus chamou de Pai. Jesus Cristo é o ser mais perfeito que Deus designou para governar nosso planeta. Intermediário entre o espírito e a matéria, o fluido universal  é responsável pela coesão da matéria que, sem sua ação se dispersaria. É o fluido universal ou fluido cósmico que dá propriedades à matéria.

Ao elemento material é preciso juntar o fluido universal (ou cósmico), que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, muito grosseira para que o Espírito possa exercer alguma ação sobre ela. Embora, sob certo ponto de vista, se possa classificar o fluido universal como elemento material, ele se distingue desse por propriedades especiais. Se o fluido cósmico fosse realmente matéria, não haveria razão para que o Espírito também não fosse. O fluido está colocado entre o Espírito e a matéria e é suscetível, pelas suas inúmeras combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que não conhecemos senão uma ínfima parte.

Esse fluido cósmico, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e jamais adquiriria as propriedades que a gravidade lhe dá.

Na subquestão 27a, Kardec deseja saber se o fluido universal é o mesmo que eletricidade. Em resposta, é informado de que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamamos “fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente”. Desse modo, o fluido universal, seja qual for o nome que lhe demos, é sempre o intermediário entre o espírito e a matéria, que os Espíritos afirmam ser independente, embora seja por meio dele que o Espírito se manifeste. Sobre esses elementos, espírito e matéria, oferecemos ao leitor o soneto que intitulamos justamente Espírito e matéria:

 

Tudo que engloba volume no espaço:

Sólidos, líquidos, gases e plasmas[1],

Todo o tipo de massa em pleno estado

É matéria, insensível à ação de miasmas.

 

Mas além da matéria, está uma alma,

Espírito encarnado, desterrado

Das esferas sublimes e mais altas;

Retorna corrigindo seu passado.

 

Criado simples, mas ignorante,

É por efeito do seu livre-arbítrio

Que o Espírito se eleva ou se rebaixa.

 

E só por sua escolha operante

No bem, vence a matéria vil o Espírito,

Que se eleva e não mais à Terra baixa.

 

O poema acima se inicia com a informação sobre o conceito do que seja matéria, ou seja, todo o tipo de massa que ocupa lugar no espaço, embora os Espíritos nos informem que a matéria existe em condições que a ciência humana ainda não pode identificar. A matéria pode estar nestes quatro estados: sólido, líquido, gasoso e plasmático, que tomamos aqui, metonimicamente, como fluido universal, haja vista ter descoberto a Ciência que o plasma se encontra em todo o Universo, assim como os Espíritos afirmam ocorrer com o que denominaram fluido universal ou fluido cósmico.

A ciência denomina plasma ao quarto estado da matéria existente em abundância no Universo; aqui ele é tratado figuradamente como sinônimo de “fluido universal”, por suas características semelhantes em seu aspecto “semimaterial” ou intermediário, como ocorre com o plasma em determinadas circunstâncias.

Sobre o plasma, o Espírito André Luiz diz o seguinte: “O fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo Sábio. Nesse elemento primordial, vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano" (ANDRÉ LUIZ, 2003, p. 19).

Conclui André o primeiro capítulo dessa obra extraordinária, dizendo:

 

Cabe-nos assinalar, desse modo, que, na essência, toda a matéria é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação, cujas leis nos conservam e prestigiam o bem praticado, constrangendo-nos a transformar o mal de nossa autoria no bem que devemos realizar, porque o Bem de todos é o seu Eterno princípio.

Compete-nos, pois, anotar que o fluido cósmico ou plasma divino é a força em que todos vivemos, nos ângulos variados da Natureza, motivo pelo qual já se afirmou, e com toda a razão, que “em Deus nos movemos e existimos”[2] (ANDRÉ LUIZ, 2003, p. 24)

 

Percebemos, pois, que, ao se referir ao plasma, o Espírito André Luiz trata do fluido universal, também conhecido como fluido cósmico.

Em seguida o autor do soneto, informa sobre o Espírito, que encarnado está submisso à matéria, pela necessidade de evoluir. Ao se referir à condição de desterrado, o soneto refere-se à sua descida do plano espiritual à Terra, mesmo que o Espírito já haja alcançado alto grau de evolução, para expiação de seu passado. A palavra “desterrado”, contrariamente ao entendimento de afastado da terra, metaforicamente significa afastado do plano espiritual.

Para superar a necessidade de encarnar é que o Espírito somente se desata da injunção material, após inúmeras encarnações em que exercita seu livre-arbítrio, na escolha do bem. Então, conclui o último verso do soneto que o Espírito “Se eleva e não mais à Terra baixa, ou seja, torna-se puro, consequentemente, não mais necessitando reencarnar.

É quando o Espírito passa a executar missões de grande elevação, no trabalho sempre grato a ele, como cocriador com Deus, tendo, pois, por missão auxiliá-lo na formação dos mundos. Também a esses Espíritos puros, como ocorre com Jesus Cristo, é concedida a missão de governadores de mundos, auxiliando-se mutuamente nessa função. Sua felicidade é permanente, e sua atuação é incessante, pois para eles o trabalho jamais é algo penoso e, sim, prazeroso.

 

Referência:

ANDRÉ LUIZ (Espírito). Evolução em dois mundos. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2003.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. 1. ed. 3. imp. São Paulo: Paulus, 2004.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. – 13. imp. Brasília: FEB, 2023.

MUNDO EDUCAÇÃO. Link - Mundo educação. Acesso em 17 jul. 2025.

 


 

[1] O plasma, novo estado da matéria descoberto pela Ciência, nada mais é, a nosso ver, que o fluido universal em seu aspecto “energético” ou físico, que, assim como os cientistas descobriram e é estudado pela Ciência atual, existe como matéria universal.  Foi descoberto pelo físico Sir William Crookes, em 1879, que a ele se referiu como “matéria radiante”.

Em 1928, Irving Langmuir deu-lhe o nome pelo qual é conhecido atualmente: plasma. (InMundo educação. Acesso em 17 jul. 2025. No soneto, “plasma” é citado metaforicamente como fluido universal.

[2] Paulo, Atos, 17: “24O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, o Senhor do céu e da terra não habita em templos feitos por mãos humanas. [...] 28 Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos vossos [poetas], aliás, já disseram: Porque somos também de sua raça.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita