Publicação espírita brasileira pioneira
Agora em julho (*) transcorrem 156 anos do lançamento da
primeira publicação espírita brasileira com idioma
totalmente em português.
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Em julho de 1869 – doze anos após a publicação de O
Livro dos Espíritos, em Salvador, na Bahia, foi
lançado O Écho d’Além-Túmulo – Monitor do
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Espiritismo no Brasil. |
O periódico tinha como responsável o jornalista Luís
Olympio Telles de Menezes e contava com 56 páginas cada
edição. Foi pioneiro na imprensa espírita brasileira,
chegando a circular, inclusive, em Nova Iorque, Londres,
Paris, Lyon, Madrid, Barcelona, Sevilha, Bolonha e
Catânia.
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Luís Olympio Telles de Menezes (1828-1893),
professor primário, estenógrafo, funcionário da
Assembleia Legislativa e |
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Oficial da Biblioteca Pública da Bahia. Falava
inglês, francês, castelhano e latim. |
Colaborou
com os periódicos: Diário da Bahia, Jornal da Bahia,
A Época Literária, como redator e diretor. Escreveu
o romance Os dois rivais; foi membro do Instituto
Histórico da Bahia. Em 1857, fundou o Conservatório
Dramático da Bahia, onde teve contato com os fenômenos
espíritas e, na busca de entendimento, passou a se
corresponder com espíritas franceses, entre eles, o
Codificador Allan Kardec. Fundou em 17 de setembro de
1865, em Salvador, o Grupo Familiar do Espiritismo, o
primeiro ligado à Doutrina Espírita, no Brasil. Em 1866,
publicou Filosofia Espiritualista, tradução da
parte inicial de O Livro dos Espíritos, tendo
sido impressos mil exemplares, que se esgotaram nos
primeiros meses.
De conteúdo didático, O Écho d’Além-Túmulo transcrevia
artigos da Revue Spirite, páginas de O Livro
dos Espíritos, e tinha por objetivo apresentar e
desmistificar a visão errônea que se tinha da Doutrina
Espírita. Seus pilares eram o lema da Revolução
Francesa: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Não
possuía fins lucrativos e parte das suas vendas
destinava-se à causa abolicionista.
O Écho d’Além-Túmulo foi
citado duas vezes na Revue Spirite. Em outubro de
1869, na seção “Novos jornais estrangeiros”: “O Eco
D’Além-Túmulo, monitor do Espiritismo no Brasil,
publicado mensalmente na Bahia, em língua portuguesa, em
cadernos de 60 páginas in-octavo, sob a direção do Sr.
Luiz Olympio Telles de Menezes, membro do Instituto
Histórico da Bahia”.1
Na edição seguinte, em novembro de 1869, na seção
“Bibliografia: O ECO DE ALÉM-TÚMULO Monitor do
Espiritismo na Bahia (Brasil) Diretor: Sr. Luiz Olympio
Telles de Menezes”, com o texto (trechos): “Num dos
últimos números da Revista anunciamos o aparecimento de
uma nova publicação espírita em língua portuguesa, na
Bahia (Brasil), sob o título de L’Écho Spirite
d’Outre-Tombe (O Eco de Além-Túmulo, monitor do
Espiritismo no Brasil). Mandamos traduzir o primeiro
número desse jornal, a fim de que os nossos leitores
dele se inteirem com perfeito conhecimento de causa. As
passagens seguintes, extraídas de O Eco de Além Túmulo,
provarão, melhor do que longos comentários, o ardente
desejo do Sr. Luiz Olympio, de concorrer eficaz e
rapidamente para a propagação dos nossos princípios, […]
ao qual nos apressamos imediatamente a endereçar vivas
felicitações, pela iniciativa corajosa de que nos dá
prova. Com efeito, é preciso grande coragem de opinião
para criar num país refratário como o Brasil, um órgão
destinado a popularizar os nossos ensinamentos. A
clareza e a concisão do estilo, a elevação dos
sentimentos ali expressos, são para nós uma garantia do
sucesso dessa nova publicação. A introdução e a análise
que o Sr. Luiz Olympio faz, do modo pelo qual os
Espíritos nos revelaram a sua existência, pareceram-nos
bastante satisfatórias”.2
A seção com a longa resenha é assinada por A. Desliens,
Secretário-Gerente do Comitê de Administração da Revue
spirite. Trata-se de Armand Theodore Desliens.
Nas informações biográficas de Luís Olympio, consta que
apesar de ter formação católica, ele via no Espiritismo
uma forma de resgate do cristianismo primitivo dentro da
própria Igreja Católica. Por isso, surgiram entraves e
inconvenientes ao associar sua proposta com o surgimento
do jornal espírita, o que causou problemas pois, à
época, o Catolicismo era a religião oficial do Estado,
conforme estabelecido pela Constituição brasileira de
1824. Cedendo às pressões, o jornalista encerrou as
atividades de O Écho d'Álem-Túmulo e mudou-se
para o Rio de Janeiro.
Todavia com o Grupo Familiar de Espiritismo e com o
periódico, Luís Olympio lançou as bases para a chegada e
a sedimentação da Doutrina Espírita no Brasil.
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Em expressiva homenagem caracterizada por emissão de
selo postal, no ano de 1969, os Correios do Brasil
emitiram selo em homenagem ao centenário da imprensa
espírita no |
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Brasil, com estampa do fundador Luís Olympio
Telles de Menezes. |
(*) Este artigo foi escrito em 23 de
julho último.
Bibliografia:
1) Kardec, Allan. Trad. Bezerra, Evandro
Noleto. Bibliografia – Novos jornais estrangeiros. Revista
espírita: Jornal de estudos psicológicos. Ano XII,
n. 10, out. 1869. Rio de Janeiro: FEB.
2) Idem. Op. cit. ano XII, n. 11, nov.
1869.
Antonio Cesar Perri de Carvalho, ex-presidente
da Federação Espírita Brasileira, é jornalista, escritor
e um dos mais respeitados divulgadores do Espiritismo no
Brasil.