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Formado em Artes Visuais e Comunicação Visual,
pela UFG, com MBA em Gestão de Negócios (IBMEC),
Pós em Antropologia (FAVENI), e atuando
profissionalmente como Gerente de Marketing,
Juliano Pimenta Fagundes (foto) nasceu em
Goiânia (GO), onde também reside. Vinculado à
CEEE - Casa Espírita Estudantes do Evangelho
(primeira casa espírita de Goiânia), IGESE -
Instituto Goiano de Estudos Espíritas e ACELEG -
Academia Espírita de Letras de Goiás, integra a
Diretoria nas três instituições. Conheçamos sua
vivência espírita.
Como conheceu o Espiritismo?
Vim de família espírita, sou espírita de
terceira geração. Meu avô materno tornou-se
espírita ainda na década de 1950 e minha mãe
vinha dessa educação. No entanto, quando fiz 1
ano de idade, meu pai apresentou comunicação de
uma entidade que se apresentou como um "preto
velho" e devido a isso meus pais acabaram por se
filiar à Umbanda, frequentando um centro perto
de onde morávamos à época. Lá meu pai passou a
trabalhar mediunicamente e quando passei a
frequentar reuniões mediúnicas e ter contato
constante com as manifestações espirituais e
fenômenos físicos, ainda criança. Costumo
brincar que tenho 48 anos de idade, mas 47 de
frequência em reuniões mediúnicas. Mas eu não
era espírita, apesar de meu pai ter várias obras
espíritas em casa. Fui conhecer o Espiritismo
somente quando conheci minha atual esposa, isso
há 23 anos, que era espírita desde a infância.
Como foi a percepção e educação da
mediunidade?
Tive uma mediunidade muito ativa na infância,
com percepções espirituais fortes e que me
confundiam. Tenho ainda hoje várias lembranças
de infância, de coisas que não sei se
aconteceram materialmente ou somente
espiritualmente. Minha casa era um ambiente
muito aberto a essas questões e meus pais nunca
duvidaram dessas percepções. No entanto, por
volta de 12 anos de idade, com a adolescência,
essas percepções desapareceram por completo,
inclusive minhas lembranças do passado melhoram
nessa época, ficam mais nítidas. A mediunidade
só foi retornar muito depois, quando tinha 30
anos de idade: já estava casado e passamos a
frequentar e trabalhar em uma casa espírita
antiga aqui de Goiânia, a Casa da Sopa,
inclusive a mesma em que minha esposa havia sido
evangelizada e tinha muitas amizades.
Quantos livros publicados? Todos pela
psicografia?
Atualmente conto com 15 obras publicadas, a
grande maioria espírita. Tenho obras editadas e
comercializadas diretamente na Amazon, mas tenho
contrato com 3 editoras: FEEGO Editora, EME
Editora e Editora Vida e Consciência. Obras
psicografadas são apenas 3. Pela EME tenho 5
obras campeãs de venda, que são fruto de
pesquisas e investigações variadas,
antropológicas, históricas e espíritas.
O que gostaria de relatar das experiências na
psicografia e na psicofonia?
Minha primeira mediunidade que se manifestou
após a maturidade, em reunião mediúnica, foi a
psicografia. São tantas histórias! Produzi
mensagens e cartas consoladoras em grande
quantidade por vários anos, inclusive
psicografei mensagens de espíritos conhecidos
como Bezerra de Menezes. Minha primeira obra
mediúnica publicada foi com a FEEGO Editora. Eu
já atuava como trabalhador do Congresso Espírita
do Estado de Goiás e um dia levei os originais
para a presidente da época, Ivana Raisky,
avaliar junto ao conselho editorial. A obra foi
aceita e logo publicada. Inclusive todo o
projeto gráfico foi meu, fiz todo o design,
inclusive para ilustrar a obra encontrei uma
modelo que era idêntica ao Espírito Célia, que
escreveu a história. Foi o primeiro romance
mediúnico publicado pela FEEGO. A segunda obra
publicada foi pela Vida e Consciência, da
família Gasparetto, e foi quando vivi uma das
minhas experiências mais poderosas com os
espíritos. Certo dia acordei de manhã e percebi
um espírito me aguardando. Se apresentou como
Aires e me perguntou o que eu achava de
"publicar uma obra pela editora Vida e
Consciência?". Mentalmente aceitei o desafio e
assim trabalhamos por alguns meses. Nessa mesma
época, na empresa passei a trabalhar com uma
nova gerente, que descobri ser irmã do Marcelo
César, autor muito reconhecido da Vida e
Consciência. Ela me pôs em contato com o irmão,
que me passou o contato da Tânia Lins, que
repassou os originais da obra ao Luís
Gasparetto, que amou a obra. Em seis meses o
livro estava publicado. Quanto à psicofonia,
veio logo em seguida à psicografia, e atuo com
ela em reuniões de desobsessão.
E o trabalho de passes?
É muito natural o trabalhador espírita atuar
como passista. No entanto as atividades
espíritas acabaram por me encaminhar para me
qualificar melhor nesse sentido. Atuei durante
vários anos em trabalhos de cura espiritual e as
grande ferramentas eram o passe e as
irradiações. Era um trabalho muito intenso que
me ensinou como sentir fisicamente o fluxo de
energia. Hoje tenho muita consciência do quanto
doo e sei exatamente quando a emanação começa e
termina. Isso me motivou a desenvolver um
trabalho de cura espiritual em nossa casa,
Estudantes do Evangelho, que funciona no prédio
da FEEGO em Goiânia e conta com a direção
espiritual de Dias da Cruz, ex-presidente da
FEB. Em complemento ministro cursos de teoria e
prática do passe em Goiânia.
Como palestrante, qual sua principal
percepção, sua e do público que está ouvindo?
Faço palestras há 10 anos e atualmente atendo 9
casas espíritas. Atuo tanto nas consideradas
casas "tradicionais" da capital, como o
Estudantes do Evangelho, a Irradiação Espírita
Cristã e o Lar de Jesus, quanto em algumas
pequenas casas da periferia. São públicos muito
diversos, no entanto eu tenho percepções que me
parecem ser de caráter geral: a primeira é que
as pessoas não querem apenas ouvir ou aprender,
elas querem, também sentir: soltar o "fardo" das
dificuldades, chorar, orar, se entregar, sentir
Deus, sentir a espiritualidade, sentir algo ali
que não sentem fora, querem se emocionar de
alguma forma e a palestra é um caminho para essa
imersão no espiritual. A segunda é que percebo
que elas querem alguém que lhes mostre onde está
o Espiritismo no mundo, na realidade da vida
fora da letra, alguém que traduza o mundo pela
lente espiritual. E a terceira é que elas querem
acesso ao conhecimento "incomum", querem algo
mais do que entender o que é perdão ou dos
deveres morais. Dou até um exemplo: há alguns
dias fui convidado a falar sobre o livro Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho; que é um
livro que traz muitas "novidades" sobre a
história do Brasil e contraria muito da visão
social hegemônica que impera hoje. Trouxe alguns
pontos principais e um deles foi a visão
antimarxista que Humberto de Campos convida o
espírita a ter. Foi impressionante a recepção do
público, fizeram fila para falar comigo,
elogiando o conteúdo e dizendo que "não sabia
que o Espiritismo tinha esse tipo de orientação"
e que "sentia carência de conteúdo espírita
realmente direcionado sobre a atualidade". O
medo tornou muitos oradores omissos quanto ao
conteúdo trazido por Kardec ou Chico Xavier e as
palestras espíritas em sua maioria giram em
círculos sobre os mesmos assuntos. Não me
assustou nem um pouco os resultados do IBGE, o
espírita hoje não me parece querer falar da
verdade ou do conteúdo das obras, prega o que
mais é leve e agrada, sem tocar em pontos mais
complexos. Muitas pessoas saem sem resposta do
centro espírita e vão para outras religiões,
procurar o que seguir de forma clara e direta.
Temos medo de falar de temas comuns do
Evangelho, como a nossa fé enquanto terceira
revelação e das características que tornam a
doutrina tão especialíssima.
E o trabalho de intérprete de libras? Qual a
experiência colhida nessa atividade?
Na primeira casa espírita em que trabalhei, a
Casa da Sopa, o filho do dirigente era surdo e
alguns amigos surdos frequentavam e ajudavam lá.
Uma intérprete voluntária ministrava "aulas"
para os voluntários. Me interessei e vi que
tinha extrema facilidade. Fiz o curso e me
ofereci como voluntário do Congresso Espírita do
Estado de Goiás, onde sou intérprete há 14 anos
juntamente com essa amiga da Casa da Sopa. Mas
eu percebo que esse espaço de atuação ainda está
fora da alçada do movimento espírita. Em 14 anos
dividindo o palco com Divaldo Franco, Alberto
Almeida, Rossandro Klinjey, Haroldo Dutra e
outros, nunca nenhum espírita se interessou em
nos auxiliar como intérprete ou sequer conhecer
sobre LIBRAS. Em comparação, os Testemunhas de
Jeová têm um trabalho mundial imenso voltado aos
surdos. Têm até igrejas para surdos. Eles
traduziram todo o novo testamento para vídeos em
LIBRAS e tem um dicionário de sinais cristãos
magnífico. Vivendo essa realidade eu vejo que o
movimento espírita ainda é muito seletivo e não
se interessa por muitas demandas sociais que a
igreja evangélica abraça fortemente como causa.
Novamente repito, os resultados do IBGE não me
impressionaram nem um pouco.
Como antropólogo, que ligação se lhe destaca
entre o Espiritismo e a Antropologia?
Quando comecei a estudar Antropologia, me
assustei. O encaixe é perfeito. Minha obra Causa
e Origem dos Nossos Males vem dessa
percepção. O que o Espiritismo explica é
endossado pela Antropologia. O que a
Antropologia tem como mistério, o Espiritismo já
explicou. Tem coisas surpreendentes. Quando os
Espíritos nos explicam na Lei de Adoração, que a
fé em Deus é inata, algo indissociável de "ser
humano" e que nunca houve uma sociedade sem
religião ou crença espiritual, isso não era
compreendido à época. Tivemos inclusive
pensadores como Nietzsche ou Marx que buscaram
refutar toda e qualquer ideia minimamente
espiritual, criando doutrinas materialistas
brutais e ainda muito fortes na atualidade.
Quando então Malinowski, Lévi-Strauss e Eliade
no século XX disseram a mesma coisa que os
espíritos no século XIX, ou seja, que a fé em
Deus é inata, algo indissociável de "ser humano"
e que nunca houve uma sociedade sem religião ou
crença espiritual, refutando Nietzsche e Marx
com evidências de trabalho de campo junto de
vários povos primitivos, me parece algo a ser
estudado! Mas os exemplos são tantos que tive
que escrever um livro a respeito.
E o que diria, nestes tempos de comunicação
tão veloz, sobre a comunicação social espírita?
Fui, durante breves anos, coordenador da área de
comunicação social espírita da FEEGO. Considero
muito importante a divulgação de cursos,
estudos, bem como a transmissão de palestras,
realização de lives e atividades de
interesse geral nas redes. Essa divulgação é
imprescindível e necessária. No entanto, lanço o
alerta de que estudos on-line não formam um bom
espírita. As redes são complementos. Verdadeiros
espíritas só se formam na convivência, no
enfrentamento das diferenças interpessoais, no
corpo a corpo na casa espírita, na prática
mediúnica, na vivência entre pares.
Fale-nos de sua atividade nas instituições
espíritas a que está filiado.
Na FEEGO, entre 2024 e 2025, estive como
coordenador doutrinário do Congresso Espírita,
fui responsável por desenvolver os temas a serem
abordados pelos palestrantes. Também compus a
comissão central do Congresso e fui intérprete
em LIBRAS durante o evento. Atuei ainda como
professor de oratória. Atualmente estou, como se
diz, em stand by até que venha o convite
para novo ciclo de atividades, afinal o trabalho
em federativa normalmente é muito dinâmico, mas
nem sempre ininterrupto. No IGESE estou na
diretoria, mas o IGESE é uma instituição
espírita virtual, então tentamos manter nossas lives interessantes.
Atualmente contamos com lives de
excelente audiência, como o Falando de
Espiritismo, às segundas, com direção de Adriano
Máscimo que traz convidados de todo o Brasil; De
Moisés a Kardec, um estudo realizado por Jorge
Elarrat, Álvaro Mordechai, Severino Selestino e
Denise Balod, o programa do Otaciro Rangel às
sextas e o Estudando com Jesus domingo pela
manhã, onde ministro alguns estudos. Enfim, na
CEEE estou na diretoria, mas também dirijo um
grupo mediúnico às segundas, trabalho
mediunicamente às terças e ainda coordeno a área
de atendimento espiritual e o tratamento
espiritual da casa. Também sou palestrante da
casa e ministro alguns cursos, como o de passes
e oratória.
Suas palavras finais.
Apenas gratidão!

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