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por Eder Andrade

 

Tragédia anunciada


Quanto maior a compreensão de um homem, mais alto é o débito dele para com a Humanidade; quanto mais sábio, mais rico para satisfazer aos impositivos de cooperação no progresso universal. 
Emmanuel. Vinha de luz, cap. 150.


Muitas pessoas acreditam que a simples orientação, informação de um possível equívoco é o suficiente para se evitar problemas futuros graves. Mas na verdade, isso só seria possível se as pessoas orientadas fossem indivíduos amadurecidos moralmente para compreender a extensão dos erros que poderão vir a cometer. Vivemos em uma sociedade onde a referência para felicidade sempre foi a posse dos bens materiais e os gozos dos prazeres do mundo.

A grande maioria dos encarnados necessita vivenciar experiências de acertos e erros para compreenderem a extensão de certas atitudes em suas vidas. Um simples alerta de advertência nem sempre é suficiente para que um indivíduo consiga ter o alcance de entendimento e evitar um erro na convivência com os semelhantes.

No século XVIII, os iluministas franceses afirmavam que a educação era o caminho mais adequado para se evitar recair em erros ou se enveredar por trilhas tortuosas, pois educando os jovens talvez fosse possível, evitar punir os adultos pelas escolhas erradas em momentos futuros.

Allan Kardec nos chama a atenção para o apego demasiado aos valores materiais, ao longo da História da Humanidade quando escreveu:

“O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais. Sede sinceros: proporciona a riqueza uma felicidade sem mescla? Quando tendes cheios os cofres, não há sempre um vazio no vosso coração?” (1)

A manutenção do sentimento aos apegos, dificulta uma educação das nossas emoções, pois as pessoas valorizam mais o ter e não o ser. O apego e acúmulo de bens materiais é uma âncora que prende o homem ao mundo material e favorece as paixões pelas emoções e valores transitórios.

A sociedade moderna voltada para o culto aos valores materiais, não consegue romper sentimentos atávicos de repetição de padrões de comportamento ou pensamentos, uma tendência a repetir experiências e aprendizados que não conseguiram superar em vidas passadas.

Chico Xavier em suas oportunas orientações nos deixou a seguinte mensagem:

“Às vezes a sombra interior é tamanha, que tens a ideia de haver perdido o próprio rumo. Entretanto, não esmoreças. Deus não te abandonará. Abrace o dever que a vida te assinala. Serve e ora e o céu te socorrerá...”. (2)

 

A compreensão dos valores espirituais, implica em uma profunda transformação na maneira de pensar e agir. Não basta apenas conhecer a verdade, é necessário viver e dar exemplos de boa vontade e testemunhos de transformação, nas atitudes do dia a dia.

Emmanuel procura nos apresentar uma reflexão para ajudar a ressignificar nossa maneira de pensar, quando escreveu:

“De portas abertas à glória do ensino, a Terra, nas linhas de atividades carnal, é, realmente, uma universidade sublime, funcionando, em vários cursos e disciplinas, com dois bilhões de alunos, aproximadamente, matriculados nas várias raças e nações.

Para a maioria dessas criaturas, necessitadas de experiência nova e mais ampla, a reencarnação não é somente um impositivo natural, mas também um prêmio pelo ensejo de aprendizagem.

Cada nação possui tarefa específica no aprimoramento do mundo. E ainda mesmo quando os blocos raciais, em desvairo, se desmandam na guerra, movimentam-se à procura de valores novos no próprio engrandecimento”. (3)

O orgulho, a vaidade e a prepotência, foram as chagas que conduziram os povos a guerras devastadoras, principalmente desde o Período Napoleônico até a Segunda Guerra Mundial. Emmanuel na obra A Caminho da Luz já antevia a catástrofe que a Humanidade passaria e organizou uma retrospectiva histórica para chamar atenção das possíveis consequências que a Humanidade teria de remediar, quando organizou essa obra. (4)

O mentor espiritual do Chico Xavier nos mostra através de suas narrativas nesse livro, que a sociedade tem a tendência de fazer a manutenção de um sistema de crenças que acaba se tornando a única verdade com que passam a enxergar a realidade espiritual, dificultando o rompimento de um modelo preestabelecido, que recebemos da nossa cultura familiar transgeracional, podendo até determinar um forte atavismo. Essa seria uma explicação sociológica para a manutenção de certos comportamentos sociais.

Como não conseguem ou até não desejam romper com esse modelo cristalizado de crenças, acabam se apegando aos sentimentos atávicos de repetição de comportamentos e passam a viver em um grande círculo vicioso que não conseguem romper ou sair, até que a dor e o sofrimento desperte um desejo diferente.

Um verdadeiro ciclo infinito, onde o stop geralmente ocorre pela dor ou em pouquíssimos casos por um insight, uma intuição súbita ou uma iluminação promovida pelo amadurecimento do senso moral do espírito, auxiliado pelo conhecimento espírita, que acelera a capacitação daqueles que assim desejarem dar um outro sentido às suas vidas.


Referências:

1) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; Cap. XVI - Desprendimento dos bens terrenos - it. 14. Ed. FEB.

2) Xavier, Francisco Cândido; Recados do Além (1978); Cap. 49 - O Auxílio virá (Emmanuel); Ed. IDEAL

3) Xavier, Francisco Cândido; Roteiro (1952); Cap. 9 - O grande educandário (Emmanuel); Ed. FEB.

4) Xavier, Francisco Cândido; A Caminho da Luz (1938); Ed, FEB.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita