Ontem a agressora, hoje a vítima
“Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o
homem semeia, isso mesmo colherá.” (Paulo,
Gálatas 6.)
A senhora Claudia procurou o Centro Espírita em
busca de ajuda. Sua filha Norma, de apenas 17
anos de idade, já havia tentado o suicídio por
três vezes. Percorreu consultórios médicos,
tratamento psicológico e psiquiátrico sem
qualquer resultado prático. A jovem insistia em
dizer que não tinha razão alguma para viver,
tinha um comportamento estranho e que, ao
completar 18 anos, colocaria fim a sua vida.
Narrava seu drama entre lágrimas e lamentações,
num profundo desespero, pois que não vislumbrava
uma forma de socorrer a filha amada.
Acolhida fraternalmente no reduto da Casa
Espírita, recebeu carinho e atenção. A ela foi
orientado que junto com Norma passasse a
frequentar palestras e a tomar passes, e, dentro
do possível, que participassem dos estudos
evangélicos e doutrinários sob a ótica da
Doutrina Espírita.
As duas aceitaram o aconselhamento.
Pouco tempo depois, na sessão mediúnica
realizada semanalmente pelo Centro Espírita, um
irmão desencarnado se apresentou raivoso e
agressivo.
- Estou com muito ódio de vocês. Agora ela é uma
coitadinha, jovenzinha ingênua que precisa de
socorro, pobre criatura, como está sofrendo, que
ironia!... Todos penalizados com o seu drama.
Não conhecem a víbora que estão acariciando.
Interessante, quando ela articulou aquela trama
contra mim vocês não estavam lá para me
defender. Deus também não estava, então o
caminho permaneceu aberto e livre para que ela
fizesse o que bem entendesse. Eu os odeio e, se
não a deixarem, eu e meus aliados vamos
agredi-los também.
- Calma, meu irmão, interveio o orientador
daquelas ações mediúnicas. Estamos aqui para
ajudá-lo e para socorrer você também, pois
estamos registrando seu sofrimento, sua dor...
- Agora? Agora é tarde e ela está em minhas mãos
e não vou deixá-la por nada neste mundo.
- Não é assim que resolvemos nossos problemas,
meu irmão, a vingança é uma ação que mais fere
ao que executa do que a vítima. Queremos
ajudá-lo também...
- Se querem mesmo me ajudar deixe que vá embora,
pois tenho muito o que fazer com ela. Pensa que
é fácil ser traído pela criatura que você mais
ama. Eu era um jovem muito rico. A morte de meu
pai, muito cedo, deixou-me uma fortuna
incalculável. Éramos eu e minha mãe. Ela surgiu
em minha vida, também jovem, bela, atraente e eu
me apaixonei. Minha mãe, com a sensibilidade que
todas as mães possuem, me advertia sobre os
perigos que corria. Ela percebeu e eu não as
intenções daquela jovem. Casamo-nos e algum
tempo depois, em viagem junto com dois cunhados,
transportando uma quantia grande de dinheiro,
fomos comprar outra propriedade. Essa foi minha
última viagem; assassinaram-me.
Ela herdou tudo, jogou minha mãe nos últimos
cômodos da casa e a tratou como uma indigente,
até seus últimos dias.
Eu a amava profundamente. Agora, vou levá-la ao
suicídio. Quase consegui, falta bem pouco. Eu a
trarei para junto de mim, então ela conhecerá a
minha vingança. Não tenho razão? Eu a amava....
eu a amava...
Entre ódio, dor e desespero o nosso irmão caiu
num choro profundo...
- Meu irmão... Você não a amava, você a ama
ainda. Vamos mudar a direção da sua força e com
a ajuda de Deus criaremos outras perspectivas.
Vamos ajudar a sua amada a reequilibrar-se, e
então, daqui a algum tempo, melhor ajustada,
poderá voltar para você, com propostas sadias.
Nosso irmão continuava a chorar evidenciando
cansaço, fadiga e desolação. Então foi possível
com preces e vibrações atingir seu coração,
irradiar sobre sua mente, criando condições para
um socorro mais efetivo. Nesse instante, mais
calmo, conseguiu ver sua mãe ao seu lado e,
abraçando-se a ela, aceitou o socorro proposto.
*
Passado algum tempo, em conversa com a senhora
Claudia, ela confidenciou que Norma obteve
melhora significativa e que não mais havia
falado em suicídio.
Ambas continuam frequentando as atividades do
Centro Espírita. Obviamente, se perseverarem,
paulatinamente solucionarão tal pendência.
Dentro da lei de causa e efeito, ação e reação,
a agressora de ontem enquadrada como vítima de
hoje e o evangelho de Jesus atuando em favor de
todos.