De início, seria oportuno esclarecer que na
atualidade a melhor forma de se expressar é Terapia
de vida passada, embora haja outras opções
muito comuns para designar esta terapia
alternativa, como Terapia de vidas passadas ou Terapia
de vivências passadas. E a razão é muito
simples, a primeira também abrange o passado
desta vida e não apenas de outras existências,
como sugerem as duas últimas.
Tema pouco debatido no meio
espírita, possui diretrizes seguras sobre como
devemos entendê-lo e se devemos,
corriqueiramente, utilizá-lo e com quais
propósitos.
É sempre oportuno alinhar verdadeiras opiniões
espíritas sobre estes assuntos que provocam
discussões intermináveis, pois Espíritos mais
lúcidos delinearam e registraram diversos
esclarecimentos sobre o modo como deveríamos
enxergar e viver esta importante Lei de Deus: a
regressão de memória, base para a aplicação da Terapia
de vida passada.
A possibilidade de acessar o passado e, para
alguns, até o futuro, já era vivenciada nos
tempos antigos, muito antes do desenvolvimento
da técnica da hipnose que viabiliza muitas
experiências de regressão, praticadas em
consultórios nos tempos modernos – provocada -,
afinal sempre houve sonâmbulos – mecanismo
natural. Em relação ao futuro, basta rever a
quantidade de profecias confirmadas ao longo de
nossa História, para se convencer de que sempre
foi possível adentrar o futuro, claro dentro de
certos limites.
Este fenômeno de
acessar o passado tem por base, para os
encarnados, a emancipação da alma - provocada
pela hipnose ou pelo magnetismo, e espontâneo,
este uma atividade anímica -, conforme a
Doutrina Espírita registou, afirmando ser
possível, durante o estado sonambúlico captar: [...]
vagas lembranças, quer da existência atual, quer
das anteriores.1
Não há diferença no estado de sonambulismo
obtido em consultório por meio da hipnose ou do
magnetismo, para aquele experimentado em estado
de vigília ou durante o sono. O que distingue um
do outro é o fator motivador, pois o primeiro é
provocado, enquanto o outro acontece de forma
natural, conforme se confirma em:
O chamado sonambulismo magnético tem alguma
relação com o sonambulismo natural?
“É a mesma coisa,
a não ser pelo fato de ser provocado.”2
Ainda em obras básicas temos:
Podemos ter algumas revelações sobre as nossas
vidas anteriores?
“Nem sempre. Contudo, muitas pessoas
sabem o que foram e o que faziam. Se lhes fosse
permitido dizê-lo abertamente, fariam
extraordinárias revelações sobre o passado.”3 (negritamos)
Nesta questão poderíamos destacar o Nem
sempre, pois indica que se houvesse o uso
indiscriminado de técnicas para se fazer
regredir a memória ao passado, a resposta talvez
fosse, Sempre, toda a vez que se
provocasse este fenômeno.
Destacando agora a segunda obra básica:
Os Espíritos podem dar-nos a conhecer nossas
existências passadas?
“Deus algumas vezes permite que elas vos sejam
reveladas, conforme o objetivo. Se for para
vossa edificação e instrução, as revelações
serão verdadeiras e, nesse caso, feitas quase
sempre espontaneamente e de modo inteiramente
imprevisto. Ele, porém, jamais o permite
para satisfação da vã curiosidade.”4 (negritamos)
Considerando estes princípios doutrinários
iniciais, entre muitos outros, nos deteremos
agora na opinião de espíritas e de outros
Espíritos sobre o tema em exame, em ordem
cronológica, em uma pesquisa não exaustiva:
O Consolador -
1940:
Seria lícito investigarmos com os Espíritos
amigos, as nossas vidas passadas? Essas
revelações, quando ocorrem, traduzem
responsabilidades para os que as recebem?
Se estais submersos em esquecimento temporário, esse
olvido é indispensável à valorização de
vossas iniciativas. Não deveis provocar esse
gênero de revelações, porquanto os amigos
espirituais conhecem melhor as vossas
necessidades e poderão provê-las em tempo
oportuno, sem quebrar o preceito da
espontaneidade exigido para esse fim. [...]5 (negritamos)
Nesta referência destaca-se a opinião de
Emmanuel de que o olvido é indispensável.
Nosso Lar -
1944:
A senhora [Sra. Laura desencarnada] recordou o
passado logo após sua vinda, ou esperou o
concurso do tempo?
Antes de tudo, é indispensável nos despojarmos
das impressões físicas. As escamas da
inferioridade são muito fortes. É preciso grande
equilíbrio para podermos recordar, edificando.
Em geral, todos temos erros clamorosos, nos
ciclos da vida eterna. Quem lembra o crime
cometido costuma considerar-se o mais
desventurado do Universo; e quem recorda o crime
de que foi vítima, considera-se em conta de
infeliz, do mesmo modo.6
Embora este relato se prenda ao mundo
espiritual, destaca-se que mesmo durante a vida
verdadeira, o esquecimento ainda perdura para
muitos.
Vinha de Luz –
1952:
Quem possua forças e luzes para conhecer
experiências fracassadas, compreendendo a
própria inferioridade, talvez aproveite algo de
útil, relendo páginas vivas que se foram. Os
aprendizes desse jaez, contudo, são ainda raros,
[...]7
Observa-se que Emmanuel não invalida a
existência da possibilidade, mas ressalta que
são raros os que estão capacitados a adentrar o
passado com utilidade, contudo, o que se propõe
nestes dias modernos, é o uso da técnica
indiscriminadamente. Basta consultar a WEB e
confirmar a quantidade de instituições –
espíritas e não espíritas -, clínicas ou
consultórios especializados e capacitados na
execução deste processo.
Ação e Reação –
1956:
Mas o Instrutor (Druso) prosseguiu: – Sob a
hipnose nossa memória pode regredir e
recuperar-se por momentos. Isso, porém, é um
fenômeno de compulsão... E em tudo convém
satisfazer à sabedoria da Natureza.8
Note-se que esta orientação foi resposta a uma
indagação sobre o esquecimento do passado no
plano espiritual, e o destaque, mais uma vez,
foi em relação à naturalidade ou espontaneidade
do fenômeno.
Conduta Espírita –
1960:
[...] qualquer
informação nesse sentido deve ser espontânea por
parte do Plano Superior, que julga acertadamente
quanto ao que mais convém à responsabilidade.9
Esperança e luz –
1993:
Se fomos trazidos à Terra para esquecer o nosso
passado, valorizar o presente e preparar em
nosso benefício o futuro melhor, porque
provocar a regressão da memória do que fomos ou
fizemos, simplesmente por questões de
curiosidade vazia, ou buscar aqueles que foram
nossos companheiros, a fim de regressar aos
desequilíbrios que hoje resgatamos? (negritamos)
[...]
Por que efetuar a regressão da memória,
unicamente para chorar a lembrança dos
pretéritos episódios infelizes, ou exibirmos
grandeza ilusória em situações que, por simples
desejo ou leviana retomada de acontecimentos,
fomos protagonistas, [...].10
Coletânea Folha Espírita Vol. II –
1997:
Saulo Gomes, repórter do programa televisivo
Pinga Fogo da extinta TV Tupi, entrevistou Chico
Xavier sobre o tema regressão de memória e
Terapia de Vivências Passadas, o médium
uberabense enfatizou a necessidade de se aproveitar
o presente para a conquista de um mundo melhor.
Afirmou que o Centro Espírita não é o lugar
para experiências dessa natureza. Segundo
crê, a TVP é mais indicada na análise para o
progresso da Ciência, devendo ser restrita ao
campo da psicanálise.11 (negritamos)
Em palestra proferida pelo saudoso Divaldo
Franco sobre: Seria correto ou permitido pela
espiritualidade fazermos regressões de vidas
passadas para nos curarmos de algum problema da
atual existência?
Ele, em resumo, respondeu:
Não há qualquer vínculo entre TVP e a Doutrina
espírita. Está inclusa em Terapias alternativas.
Os bons Espíritos sugerem homeopatia,
alopatia..., para nos ajudar, mas não é
Espiritismo, este está completo na Codificação.
Esta terapia alternativa está baseada na 4ª
Força ou Psicologia Transpessoal, e a
espiritualidade apoia tudo que visa ao bem da
Humanidade. Contudo, não trazer qualquer destas
terapias para dentro do Centro, pois o
tratamento espírita permanece: Desobsessão, água
magnetizada, passe, palavra de conforto. Cristal
terapia, regressões a vidas passadas..., devem
ser operadas por técnicos. Deve ser praticada
por profissionais formados na área: médico,
psicólogo, psiquiatra, psicanalista (que não são
médiuns e nem espíritas), além de terem feito
curso específico na área. Evitemos os modismos.
Se desejar fazer, como proposto pela psicóloga
Dra. Maria Júlia Prieto Peres, façam por conta
própria. Mas se for espírita lembre-se do
esquecimento do passado. Se o Espírito possui
determinados conflitos pessoais, ou de
comportamento, a TVP pode ajudar, mas nem sempre
resolve. Identificar o mal não implica em sua
remoção ou cura, se assim fosse, nós
ludibriaríamos a reencarnação. As terapias
alternativas são muito valiosas, cromoterapia ou
qualquer outro método, todavia, usem os
técnicos. Há riscos em despertar recordações,
sem bem resolvê-las, pois se somarão ao conflito
que já existe.12
Cremos que, diante do exposto, a recomendação de
uso da Regressão de Memória, na atualidade,
ainda se prenderia a demonstrar a existência do
Espírito, a lei da reencarnação e a lei de causa
e efeito.
Aguardemos um pouco mais que esta Humanidade
esteja mais bem preparada para conhecer o seu
passado, antes de descortiná-lo sem condições
íntimas de enfrentá-lo face a face.
Referências:
1 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de
Evandro Noleto Bezerra. pt. 2, cap. VIII, q.
425.
2 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de
Evandro Noleto Bezerra. pt. 2, cap. VIII, q.
426.
3 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de
Evandro Noleto Bezerra. pt. 2, cap. VIII, q.
395.
4 KARDEC,
Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de
Evandro Noleto Bezerra. Perguntas sobre as
existências passadas e futuras. it. 290. q.
15.
5 XAVIER,
Francisco Cândido. O Consolador. Pelo
Espírito Emmanuel. IV. Espiritismo. Prosélitos.
q. 370.
6 XAVIER,
Francisco Cândido. Nosso Lar. Pelo
Espírito André Luiz. Continuando a palestra.
cap. 21.
7 XAVIER,
Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo
Espírito Emmanuel. Fermento velho. cap.
64.
8 XAVIER,
Francisco Cândido. Ação e reação. Pelo
Espírito André Luiz. Comentários do Instrutor.
cap. 2.
9 VIEIRA,
Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito
André Luiz. Perante as Revelações do Passado
e do Futuro. cap. 40.
10 XAVIER,
Francisco Cândido. Esperança e luz.
Espíritos diversos. São Paulo: CEU. Regressão
da memória. Pelo Espírito Emmanuel.
11 Nobre,
Marlene Rossi Severino. Coletânea Folha Espírita
Vol. II. 1997. Restrições da TVP. cap.
71.
12 Para
acessar a palestra, clique neste LINK