Especial

por Rogério Miguez

Terapia de vida passada - TVP

 

De início, seria oportuno esclarecer que na atualidade a melhor forma de se expressar é Terapia de vida passada, embora haja outras opções muito comuns para designar esta terapia alternativa, como Terapia de vidas passadas ou Terapia de vivências passadas. E a razão é muito simples, a primeira também abrange o passado desta vida e não apenas de outras existências, como sugerem as duas últimas.

Tema pouco debatido no meio espírita, possui diretrizes seguras sobre como devemos entendê-lo e se devemos, corriqueiramente, utilizá-lo e com quais propósitos.

É sempre oportuno alinhar verdadeiras opiniões espíritas sobre estes assuntos que provocam discussões intermináveis, pois Espíritos mais lúcidos delinearam e registraram diversos esclarecimentos sobre o modo como deveríamos enxergar e viver esta importante Lei de Deus: a regressão de memória, base para a aplicação da Terapia de vida passada.

A possibilidade de acessar o passado e, para alguns, até o futuro, já era vivenciada nos tempos antigos, muito antes do desenvolvimento da técnica da hipnose que viabiliza muitas experiências de regressão, praticadas em consultórios nos tempos modernos – provocada -, afinal sempre houve sonâmbulos – mecanismo natural. Em relação ao futuro, basta rever a quantidade de profecias confirmadas ao longo de nossa História, para se convencer de que sempre foi possível adentrar o futuro, claro dentro de certos limites.

Este fenômeno de acessar o passado tem por base, para os encarnados, a emancipação da alma - provocada pela hipnose ou pelo magnetismo, e espontâneo, este uma atividade anímica -, conforme a Doutrina Espírita registou, afirmando ser possível, durante o estado sonambúlico captar: [...] vagas lembranças, quer da existência atual, quer das anteriores.1

Não há diferença no estado de sonambulismo obtido em consultório por meio da hipnose ou do magnetismo, para aquele experimentado em estado de vigília ou durante o sono. O que distingue um do outro é o fator motivador, pois o primeiro é provocado, enquanto o outro acontece de forma natural, conforme se confirma em:

O chamado sonambulismo magnético tem alguma relação com o sonambulismo natural?

“É a mesma coisa, a não ser pelo fato de ser provocado.”2

Ainda em obras básicas temos:

Podemos ter algumas revelações sobre as nossas vidas anteriores?

Nem sempre. Contudo, muitas pessoas sabem o que foram e o que faziam. Se lhes fosse permitido dizê-lo abertamente, fariam extraordinárias revelações sobre o passado.”3 (negritamos)

Nesta questão poderíamos destacar o Nem sempre, pois indica que se houvesse o uso indiscriminado de técnicas para se fazer regredir a memória ao passado, a resposta talvez fosse, Sempretoda a vez que se provocasse este fenômeno.

Destacando agora a segunda obra básica:

Os Espíritos podem dar-nos a conhecer nossas existências passadas?

“Deus algumas vezes permite que elas vos sejam reveladas, conforme o objetivo. Se for para vossa edificação e instrução, as revelações serão verdadeiras e, nesse caso, feitas quase sempre espontaneamente e de modo inteiramente imprevisto. Ele, porém, jamais o permite para satisfação da vã curiosidade.”4 (negritamos)

Considerando estes princípios doutrinários iniciais, entre muitos outros, nos deteremos agora na opinião de espíritas e de outros Espíritos sobre o tema em exame, em ordem cronológica, em uma pesquisa não exaustiva:


O Consolador
 - 1940:


Seria lícito investigarmos com os Espíritos amigos, as nossas vidas passadas? Essas revelações, quando ocorrem, traduzem responsabilidades para os que as recebem?

Se estais submersos em esquecimento temporário, esse olvido é indispensável à valorização de vossas iniciativas. Não deveis provocar esse gênero de revelações, porquanto os amigos espirituais conhecem melhor as vossas necessidades e poderão provê-las em tempo oportuno, sem quebrar o preceito da espontaneidade exigido para esse fim. [...]5 (negritamos)

Nesta referência destaca-se a opinião de Emmanuel de que o olvido é indispensável.

 

Nosso Lar - 1944:


A senhora [Sra. Laura desencarnada] recordou o passado logo após sua vinda, ou esperou o concurso do tempo?

Antes de tudo, é indispensável nos despojarmos das impressões físicas. As escamas da inferioridade são muito fortes. É preciso grande equilíbrio para podermos recordar, edificando. Em geral, todos temos erros clamorosos, nos ciclos da vida eterna. Quem lembra o crime cometido costuma considerar-se o mais desventurado do Universo; e quem recorda o crime de que foi vítima, considera-se em conta de infeliz, do mesmo modo.6

Embora este relato se prenda ao mundo espiritual, destaca-se que mesmo durante a vida verdadeira, o esquecimento ainda perdura para muitos.

 

Vinha de Luz – 1952:


Quem possua forças e luzes para conhecer experiências fracassadas, compreendendo a própria inferioridade, talvez aproveite algo de útil, relendo páginas vivas que se foram. Os aprendizes desse jaez, contudo, são ainda raros, [...]
7

Observa-se que Emmanuel não invalida a existência da possibilidade, mas ressalta que são raros os que estão capacitados a adentrar o passado com utilidade, contudo, o que se propõe nestes dias modernos, é o uso da técnica indiscriminadamente. Basta consultar a WEB e confirmar a quantidade de instituições – espíritas e não espíritas -, clínicas ou consultórios especializados e capacitados na execução deste processo.

 

Ação e Reação – 1956:


Mas o Instrutor (Druso) prosseguiu: – Sob a hipnose nossa memória pode regredir e recuperar-se por momentos. Isso, porém, é um fenômeno de compulsão... E em tudo convém satisfazer à sabedoria da Natureza.
8

Note-se que esta orientação foi resposta a uma indagação sobre o esquecimento do passado no plano espiritual, e o destaque, mais uma vez, foi em relação à naturalidade ou espontaneidade do fenômeno.

 

Conduta Espírita – 1960:

[...] qualquer informação nesse sentido deve ser espontânea por parte do Plano Superior, que julga acertadamente quanto ao que mais convém à responsabilidade.9

 

Esperança e luz – 1993:

Se fomos trazidos à Terra para esquecer o nosso passado, valorizar o presente e preparar em nosso benefício o futuro melhor, porque provocar a regressão da memória do que fomos ou fizemos, simplesmente por questões de curiosidade vazia, ou buscar aqueles que foram nossos companheiros, a fim de regressar aos desequilíbrios que hoje resgatamos? (negritamos)

[...]

Por que efetuar a regressão da memória, unicamente para chorar a lembrança dos pretéritos episódios infelizes, ou exibirmos grandeza ilusória em situações que, por simples desejo ou leviana retomada de acontecimentos, fomos protagonistas, [...].10

 

Coletânea Folha Espírita Vol. II – 1997:


Saulo Gomes, repórter do programa televisivo Pinga Fogo da extinta TV Tupi, entrevistou Chico Xavier sobre o tema regressão de memória e Terapia de Vivências Passadas, o médium uberabense enfatizou a necessidade de se aproveitar o presente para a conquista de um mundo melhor. Afirmou que o Centro Espírita não é o lugar para experiências dessa natureza. Segundo crê, a TVP é mais indicada na análise para o progresso da Ciência, devendo ser restrita ao campo da psicanálise.11 (negritamos)

 

Em palestra proferida pelo saudoso Divaldo Franco sobre: Seria correto ou permitido pela espiritualidade fazermos regressões de vidas passadas para nos curarmos de algum problema da atual existência?

Ele, em resumo, respondeu:

Não há qualquer vínculo entre TVP e a Doutrina espírita. Está inclusa em Terapias alternativas. Os bons Espíritos sugerem homeopatia, alopatia..., para nos ajudar, mas não é Espiritismo, este está completo na Codificação. Esta terapia alternativa está baseada na 4ª Força ou Psicologia Transpessoal, e a espiritualidade apoia tudo que visa ao bem da Humanidade. Contudo, não trazer qualquer destas terapias para dentro do Centro, pois o tratamento espírita permanece: Desobsessão, água magnetizada, passe, palavra de conforto. Cristal terapia, regressões a vidas passadas..., devem ser operadas por técnicos. Deve ser praticada por profissionais formados na área: médico, psicólogo, psiquiatra, psicanalista (que não são médiuns e nem espíritas), além de terem feito curso específico na área. Evitemos os modismos. Se desejar fazer, como proposto pela psicóloga Dra. Maria Júlia Prieto Peres, façam por conta própria. Mas se for espírita lembre-se do esquecimento do passado. Se o Espírito possui determinados conflitos pessoais, ou de comportamento, a TVP pode ajudar, mas nem sempre resolve. Identificar o mal não implica em sua remoção ou cura, se assim fosse, nós ludibriaríamos a reencarnação. As terapias alternativas são muito valiosas, cromoterapia ou qualquer outro método, todavia, usem os técnicos. Há riscos em despertar recordações, sem bem resolvê-las, pois se somarão ao conflito que já existe.12

Cremos que, diante do exposto, a recomendação de uso da Regressão de Memória, na atualidade, ainda se prenderia a demonstrar a existência do Espírito, a lei da reencarnação e a lei de causa e efeito.

Aguardemos um pouco mais que esta Humanidade esteja mais bem preparada para conhecer o seu passado, antes de descortiná-lo sem condições íntimas de enfrentá-lo face a face.

 

Referências:

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. pt. 2, cap. VIII, q. 425.

2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. pt. 2, cap. VIII, q. 426.

3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. pt. 2, cap. VIII, q. 395.

4 KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Perguntas sobre as existências passadas e futuras. it. 290. q. 15.

5 XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. IV. Espiritismo. Prosélitos. q. 370.

6 XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz. Continuando a palestra. cap. 21.

XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. Fermento velho. cap. 64.

8 XAVIER, Francisco Cândido. Ação e reação. Pelo Espírito André Luiz. Comentários do Instrutor. cap. 2.

9 VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. Perante as Revelações do Passado e do Futuro. cap. 40.

10 XAVIER, Francisco Cândido. Esperança e luz. Espíritos diversos. São Paulo: CEU. Regressão da memória. Pelo Espírito Emmanuel.

11 Nobre, Marlene Rossi Severino. Coletânea Folha Espírita Vol. II. 1997. Restrições da TVP. cap. 71.

12 Para acessar a palestra, clique neste LINK

 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita