Artigos

por Ricardo Orestes Forni

 

Sabem, mas não fazem


Os discípulos reunidos em torno de um mestre oriental bebiam dos seus ensinamentos para o enriquecimento espiritual.

Um deles, procurando uma fórmula para sintetizar o que todos ouviam, perguntou o que era preciso fazer para engrandecer a vida.

O mestre respondeu que era necessário amar sempre a todos os seres da criação. Acrescentou em seguida que também era preciso nunca fazer o mal a nenhum deles.

O discípulo, julgando ser aquela colocação muito óbvia, argumentou que aquela orientação até crianças sabiam.

O mestre, olhando-o complacentemente, concluiu com um leve sorriso que era verdade, até crianças sabiam, mas, infelizmente, a maioria dos adultos não procedia dessa forma.

Sempre que retornamos a uma nova existência por misericórdia de Deus, trazemos a incumbência de depositar em nossa caminhada o amor ao próximo na proporção que nossas imperfeições nos possibilitem.

Nenhum professor vai exigir de um aluno que principia no aprendizado de ler e escrever que ele demonstre a teoria da relatividade de Einstein.

Da mesma forma, conhecendo as nossas limitações como Espíritos ainda no início dos primeiros passos em direção à perfeição possível de ser atingida, não serão exigidas de nós semeaduras que marquem com um trajeto de luz nossa passagem pelo mundo dos encarnados.

Para os Espíritos pequenos em termos de evolução, passos pequenos nas atitudes voltadas ao bem geral, entendendo que os anjos de hoje foram em seu longo trajeto evolutivo o que somos no momento atual da nossa evolução.

Aliás, essa realidade está contida no O Livro dos Espíritos, em que é revelado na questão 540 a Kardec que tudo evolui na Natureza, desde o átomo até o arcanjo, que um dia foi átomo também.

A dificuldade de pautarmos pela linha do correto, do amor ao próximo, da elaboração íntima de um homem novo que busca, mesmo a duras penas, distanciar-se do homem velho, objetivo pelo qual retornamos à existência terrestre, está muito bem abordada por Joanna de Ângelis no novo livro psicografado por Divaldo Franco, Sendas Luminosas, LEAL editora, em página intitulada Desafios ao Ideal.

Vale destacar o primor desse livro não somente em seu conteúdo, como sempre são os livros dessa Benfeitora, mas no aspecto externo de uma beleza que chama a atenção. Parece até que foi um presente de aniversário ao digno trabalhador de Jesus comemorando seus noventa e oito anos em sua passagem vitoriosa pelo mundo atual.

Ensina Joanna que a perseverança, em qualquer realização superior, exige vasta cópia de resistência contra o desânimo e todos os demais agentes de perturbação que conspiram vigorosamente em favor do abandono do empreendimento abraçado.

E continuando seus ensinamentos encontramos que não é diferente quando se está envolvido pelos ideais grandiosos do bem, que pretendem instalar na Terra o período da paz e do progresso.

Enquanto os obstáculos surgem de fora para dentro através dos arautos do pessimismo, dos defensores de que não tem mais solução, de que a maioria segue por caminhos não recomendáveis, os ataques, apesar de atingir os menos preparados, ainda não se caracterizam pelas armas mais poderosas com as quais se combate a regeneração do ser imortal e, por consequência, a do planeta como um todo em seu sentido moral.

As piores agressões, os apelos mais sinistros e altamente perigosos procedem do interior do próprio ser que se debate entre o homem velho e o aceno do homem novo nas fronteiras da paz, do amor e da felicidade para a qual foi colocado na Vida imortal o princípio inteligente que transitou pelos diversos reinos da natureza agregando aprendizado em sua caminha evolutiva.

Enquanto o apóstolo Paulo revelava que tinha um espinho na carne, muitos Espíritos na atualidade do planeta Terra possuem um espinheiro encorpado a dificultar a marcha evolutiva, o que é de se esperar devido ao aumento do retorno a novas experiências no plano físico da existência de almas endividadas perante a própria consciência.

O orgulho, a vaidade e egoísmo que proporcionam os prazeres imediatos, embora fugazes do mundo, levantam-se bradando para que o status quo seja mantido na falsa impressão de que isso os conduzirá a um esconderijo seguro perante a própria consciência em dívidas perante as Leis de amor do Universo.

Aninha-se em sua intimidade junto a esses três pilares de quedas graves do ser imortal, agarrando-se aos convites que a matéria direciona a ele com promessas de uma felicidade que se dilui como a bruma frágil se dissipa aos primeiros raios do sol de uma nova manhã.

Ensina Joanna no livro anteriormente mencionado que ninguém transita poupado pelo campo da autoiluminação. Enquanto não se lhe instalem as claridades íntimas, a permanência da treva da ignorância propicia-lhe oportunidade para a manifestação dos agentes destrutivos.

Jesus, que não tinha nenhum obstáculo interior a ser vencido na prática do amor incondicional demonstrado pela sua presença em um corpo físico para convidar a todos a essa conquista de si mesmos, teve a maior das agressões que um ser revestido de matéria densa pode sofrer com a sua destinação ao sacrifício extremo na cruz.

No entanto, rogou o perdão para a nossa ignorância e, numa prova de que ainda pede ao Pai por esse mesmo desconhecimento imenso de que ainda somos portadores, continua de braços abertos, não mais na cruz do sacrifício, mas na mensagem do Amor que nos aguarda a todos para que retornemos como filhos pródigos conduzidos pelo rebanho do Divino Pastor, para que possamos comemorar a vitória do homem novo sobre o homem velho, quando, então, nenhum espinho estará presente para macular a comunhão de cada criatura com o seu Criador.


Ricardo Orestes Forni, médico e escritor com várias obras espíritas publicadas, reside na cidade de Tupã, no estado de São Paulo.
  
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita