O
Espiritismo e o progresso das ideias
Desde o seu surgimento na metade do século dezenove,
através das manifestações dos espíritos por meio de
diversos médiuns, em diversas localidades, obedecendo a
um planejamento maior da espiritualidade superior,
trazendo ensinos que se corporificaram num conjunto de
princípios filosóficos, científicos e de consequências
morais, o Espiritismo, como muito bem assinala Allan
Kardec, que coletou, organizou, estudou e publicou esses
ensinos, se caracteriza por ser uma doutrina
progressista ou evolucionista, não apenas acompanhando
as novas ideias, os novos tempos e os avanços
científicos, como sendo fomentador dessas novas ideias e
desse avanço científico, ao trazer de forma clara a
imortalidade da alma, a vida depois da morte, a
reencarnação, a lei de causa e efeito, a pluralidade dos
mundos habitados, a mediunidade no intercâmbio entre a
dimensão espiritual e a material, e a lei divina de
evolução que rege o universo. Também devemos assinalar o
resgate que o Espiritismo faz das verdades ensinadas por
Jesus, tirando o Evangelho da intrincada rede teológica
criada pelos homens, trazendo os ensinos morais nele
contidos como roteiro para vivermos melhor hoje e no
amanhã.
Nos
últimos tempos, apesar dos princípios espíritas serem do
alcance de todos, e estar o Espiritismo muito bem
estabelecido nas obras assinadas por Allan Kardec, tem
havido toda uma movimentação por parte de alguns adeptos
para inserir adjetivos qualificativos que, por tudo que
temos estudado, não vemos razão para tal. Referimo-nos à
polêmica entre os que defendem a existência do
Espiritismo Progressista e do Espiritismo Conservador,
que algumas pessoas insistem em trazer a público,
principalmente através de vídeos nas redes sociais.
Parece-nos uma discussão de momento, aproveitando a
polarização entre as ideologias políticas da atualidade,
que nada tem a ver com a doutrina espírita.
O
Espiritismo é uma doutrina progressista, é uma doutrina
evolucionista, mas daí a acreditar que existam tipos
diferentes de espiritismo, vai uma longa distância. Não,
não existem vários espiritismos, mas apenas o
Espiritismo ou Doutrina Espírita. Se formos por esse
caminho teremos que admitir a existência igualmente do
Espiritismo Kardecista, do Espiritismo Brasileiro, do
Espiritismo de Mesa Branca, do Espiritismo de Umbanda,
do Espiritismo de Esquerda e outras denominações que
surgem e demonstram, na verdade, falta de conhecimento
sobre o Espiritismo. Aliás, já dizia Allan Kardec na
introdução de O Livro dos Médiuns, obra lançada
quatro anos depois do surgimento da doutrina:
“Diariamente a experiência confirma a nossa opinião de
que as dificuldades e desilusões encontradas na prática
espírita decorrem da ignorância dos princípios
doutrinários.”
Temos entre os que se afirmam espíritas pessoas de muito
conhecimento e boa comunicação verbal, tornando-se
influenciadores pelas redes sociais, contudo, muitos se
perdem num intelectualismo vazio, usando de sofismas
para defender ideias pessoais, e não exatamente o que
nos diz o Espiritismo, mas o fazem de tal maneira, como
fazem os espíritos enganadores, pseudossábios, que
conseguem ludibriar os que não utilizam dos critérios de
passar todas as comunicações pelos crivos da lógica, da
razão, do bom senso e da universalidade dos ensinos, o
que vale não apenas para as mensagens dos desencarnados
através da mediunidade, mas igualmente para o que
escrevem e falam os encarnados em nome do Espiritismo.
Individualmente a pessoa pode ter ideias e pensamentos
conservadores ou progressistas, de acordo com o seu
livre arbítrio e suas experiências vivenciais, podendo
acreditar ou não acreditar no que quiser, mas em contato
com o Espiritismo, seu modo de ver e entender a vida
deve se transformar, se for o caso, pois abraçará a
realidade espiritual da vida, saindo de um pensar
materialista para um pensar espiritualista. Se seu modo
de pensar era conservador, em padrões mais rígidos e com
base numa cultura que ainda admite os preconceitos e
discriminações, terá fatalmente de modificar seus pontos
de vista; agora, se seu modo de pensar era progressista,
terá apenas de ajustar alguns pontos de vista face à
imortalidade da alma e à reencarnação, que ampliam seu
modo de entender a vida.
O
Espiritismo não necessita dos adjetivos progressista ou
conservador, e de nenhum outro adjetivo qualificativo.
Já não ocorre o mesmo com relação aos seus adeptos, pois
os espíritas podem ser classificados de verdadeiros, de
falsos, de pseudossábios, e mesmo de conservadores ou
progressistas, pois entendemos que nenhuma transformação
moral e intelectual se dá de um salto, da noite para o
dia, tudo ocorre de forma gradativa e no seu tempo. Há
os que abraçam os princípios da doutrina de forma
imediata, espantando de si as velhas ideias que até
então defendiam, e há os que mesclam as velhas ideias
com os novos princípios, numa mistura que somente o
tempo haverá de separar, assim como há aquelas pessoas
que adaptam os princípios espíritas às suas ideias e
conveniências, cegos à transformação moral que o
Espiritismo lhes solicita. Tudo isso de acordo com o
livre arbítrio que todos possuímos, e com o maior ou
menor adiantamento espiritual já realizado por cada um.
As
bases do Espiritismo estão firmemente assentadas nas
obras de Allan Kardec, todas revisadas pelos espíritos
superiores através de diversos médiuns, sendo falsa a
alegação de que devem ser revisadas por serem da metade
do século dezenove, pois obedecem a todos os critérios
filosóficos e científicos, não apenas daquela época, mas
igualmente da atualidade, quando assistimos os mais
diversos ramos científicos fazendo aproximações com o
que ensina a Doutrina Espírita.
Deixemos de lado as ideias pessoais, os pontos de vista
particulares, que tanto mal já fizeram à humanidade,
descaracterizando o Evangelho e muitas verdades
científicas, se não quisermos correr o risco de fazer
perder o Espiritismo, cuja finalidade maior é realizar a
transformação moral da humanidade através da
transformação moral dos indivíduos que a compõem, o que
somente pode acontecer por meio da aplicação da educação
do espírito imortal e reencarnado que somos.
Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante;
coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo
espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube;
é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e
apresenta programas espíritas na internet; possui 40
livros publicados.
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