Depois da separação
Mamãe e papai:
Trazendo-lhes meu coração, como acontece em todos os
dias, estou aqui reafirmando nossas preces habituais a
Jesus.
Se é possível misturar felicidade com saudade, sinto-me
infinitamente feliz.
Nosso amor venceu a morte. Nossa fé venceu a dor.
Em verdade, qual acontece ao papai, tenho lágrimas nos
olhos, contudo lágrimas de alegria porque nos
reencontramos no mundo vasto.
A Bênção Divina marcou as nossas esperanças e chegamos a
essa bendita integração espiritual em que nos
continuamos uns nos outros.
Pouco a pouco, recupero as recordações de tudo o que a
vida relegou para trás.
Nossos laços carinhosos de hoje são flores de abençoada
luz que se farão frutos de progresso na Espiritualidade,
em futuro próximo; mas, lá no fundo da linha vertical do
destino por onde nos elevamos em busca de Deus, jazem as
raízes do pretérito ditando as razões da nossa luta de
agora.
Não existe problema sem o começo necessário; não existe
sofrimento cujas causas não se entrelacem a distância.
Respeitemos a provação que nos separou e louvemo-la pelo
tesouro de claridades sublimes que nos trouxe.
Não fosse a noite e jamais saberíamos identificar a
glória do dia.
A morte pode ser a morte para muitos; mas para nós foi
ressurreição numa era nova. Dela extraímos a riqueza de
uma vida superior que naturalmente nos guia os impulsos
de conhecimento ao encontro da Humanidade Maior.
Graças a Deus tenho aprendido algo. A criança que
conheceram sente-se, hoje, companheiro e amigo, devedor
insolúvel nas estradas eternas.
A bondade do Senhor, com o carinho que recebo de ambos,
operou em mim o milagre de uma compreensão mais
enobrecida.
Somos associados de muitas empresas, batalhadores de
muitos combates, irmãos de ideal e de alegria, de
aflição e de luta em muitas jornadas na Terra…
Quisera que as energias condensadas da carne, por
instantes, fugissem à lei que as governa, a fim de
revelar-lhes, assim como na luz de um relâmpago, os
quadros imensos da retaguarda… Entretanto, as
circunstâncias são a vontade justa do Senhor e devemos
respeitá-las.
Por muito se demorem na carne, separa-nos tão somente um
breve hoje.
Das sombras que abraçam o pó do mundo, emergimos
cantando a felicidade de nossa inalterável comunhão. Até
lá, porém, é imprescindível trabalhemos.
Nossos dias de angústia e de perplexidade passaram, como
passaram as primeiras horas de ansiedade em que as
nossas notícias mútuas eram como que o único alimento
capaz de saciar-nos a alma atormentada…
Agora, temos um campo enorme à frente do coração. Campo
de serviço que em suas mínimas particularidades nos
requisita à plantação de novos destinos. Começa na
família e espraia-se, infinito, no território das vidas
diferentes que se ligam às nossas por misteriosos elos
do espírito.
Não se sintam sozinhos, não sofram, não lastimem…
Estamos juntos hoje quanto ontem, à procura de nossas
sublimes realizações.
Compreendo as dificuldades que ainda interferem com os
nossos desejos. Entretanto, rogo-lhes coragem.
Doando nossas disponibilidades espirituais ao tempo,
através da nossa aplicação incessante com o bem, do
tempo recebemos a quitação de nossos débitos, porque a
Divina Providência nos entrega, por intermédio dele, os
trabalhos que precisamos efetuar, a benefício de nossa
própria felicidade.
Confiemos no Cristo para que o Cristo confie em nós.
O sonho de solidariedade humana que nos vibra no peito
não é uma luz que esteja nascendo, de improviso, no vaso
de nossos sentimentos. Vem de longe, de muito longe… E,
tão grande é a importância de que se reveste, que a dor
veio ao nosso encontro, despertando-nos para a divina
edificação.
Saciedade no mundo é prejuízo de nossa alma.
É por isso que Jesus preferiu o madeiro do sacrifício,
com a incompreensão dos homens e com a sede de amor.
Rejubilemo-nos no calvário de nossa paixão por maiores
luzes. A subida é áspera para quem deseja o ar puro dos
cimos.
Continuemos caminhando sob a inspiração do nosso Divino
Mestre. É tudo o que poderemos fazer de melhor.
De nós mesmos, atentos à insegurança de nossas
aquisições, nosso passo seria vacilante entre a luz e a
sombra, entre o bem e o mal… Com Cristo, porém, cessam
as dúvidas.
O sacrifício de nossos desejos aos desígnios do Céu é a
chave de nossa felicidade real.
Mamãe, à vovó envio o meu pensamento muito carinhoso,
com lembranças a todos de casa.
Envolvendo-os assim, em meu coração e em meu carinho,
beija-lhes as mãos entrelaçadas com as minhas o filho
saudoso e reconhecido que, em cada dia, lhes segue
afetuosamente os passos.
Do livro Relicário de luz, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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