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por Bruno Abreu

 

O Filho do Homem


Muitos confundem a personagem do Filho do Homem com Ego, mas um não tem nada a ver com o outro.

Para podermos chegar e permanecer em consciência, temos de descobrir a tramas do Ego, pois ele despeja constantemente pensamentos, emoções, desejos, sensações, em nós.

Reparem que separei o Ego de nós, por dois motivos, apesar de muitos acreditarem que são o Ego, agarram-se a toda a força a este ser mental que existe durante a reencarnação:

1º. Nós nos lembramos das personagens ou Egos de outras vidas? Não, se nos lembrássemos veríamos claramente que são muito diferentes de nós hoje. Certamente falavam outra língua, tinham outra cultura, tinham outra religião etc. Para que o Espírito aprenda temos que passar por todas as vicissitudes.

2º. Durante a própria vida, o Ego vai alterando-se a cada dia. Nós não somos o ser psíquico de há um ano ou de há 10 anos. Este vai sofrendo alterações com as experiências, o aprendizado terreno, os problemas enfrentado, em especial os mais complicados. Então, o Ego é um ser psíquico que não tem realidade permanente, que se altera nas mínimas situações, embora não nos demos conta, e perecerá, o mais tardar, na próxima reencarnação.

Dizemos que somos eternos, mas acreditamos ser este ser psíquico limitado; esta é a maior causa de lutas e sofrimentos na Terra. Irmãos lutam pela religião, pelo país, pelas crenças e hábitos, honras, tudo em prol desse personagem fictício.

O que é comum em todas as reencarnações é o Filho do Homem, ou seja, o corpo, com toda a sua inteligência. Este corpo responde à vida com uma inteligência extrema.  Se estivermos a ler um livro para um exame, o cérebro está a gravar tudo o que lê na perfeição, a mente coloca o pensamento sobre problemas, sobre o passado, sobre o futuro, com os mais diversos conteúdos, acabando por dificultar a tarefa. São dois personagens diferentes, um está a ler, o outro está a importunar.

Se estivermos a trabalhar sem pensarmos em mais nada, o Filho do Homem trabalha, mas se tiver em constante pensamento, normalmente sobre assuntos que não têm a ver com a tarefa, este é o Ego, a parte psíquica que avalia tudo e cria o carácter. Está sempre a medir, comparar, imaginar, criar o futuro, envolvido em problemas mentais. O pensamento e todas as montagens deste, o carácter ou personalidade e tudo o que vem daí, são deste personagem. Como nós o vivemos atentamente e apegadamente, acreditamos cegamente nele e vivemos como se este fosse eterno. Passamos a vida na Terra a agradar este barulhento personagem, barulhento porque é formado pelo pensamento. Todos os seus caprichos se tornam em desejos e aparecem das formas mais dissimuladas possíveis.

Mateus 6:24:

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon.

Mamon é esse ser psíquico que vive fora do presente, constantemente envolto em problemas e imaginações do futuro. Quando estamos envoltos por este, não podemos de forma alguma estar em consciência; um nos tira do outro.

Não confundam o Ego, como ser psíquico, com toda a psique. O Ego é apenas uma parte, extremamente barulhenta, que nos tem dirigido, mas sobra muito mais. Sobram zonas da psique a que nem temos acesso por este funcionar. É como se passássemos o dia com um chapéu de chuva aberto por cima da cabeça; para onde formos, o sol está tapado e aquele chapéu parece tudo, mas no dia que o conseguimos tirar percebemos a imensidão sem ele. Platão explica isto com a sua alegoria das cavernas.

Então temos três personagens na Terra:

- O Filho de Deus, de que nos podemos aproximar e descobrir através do silêncio da oração e da vigia constante. É a Busca do Reino de Deus.

- O Filho do Homem, que é o corpo com toda a sua inteligência, onde se inclui a elaboração das tarefas e a inteligência cerebral.

- O Ego ou Mamon, que são os desejos, os certos e os errados, o carácter, o pensamento fora de tempo, as doenças psíquicas mentais, não as físicas da alteração da estrutura cerebral.

Parece-nos muito difícil a separação entre o Ego e o Filho do Homem; até eles nos parecem o mesmo, mas, através da amplificação da consciência, conseguida pelos exercícios certos, vamos percebendo na prática qual é um e qual é outro.

O Mestre e os outros Espíritos Evoluídos que passaram na Terra não tinham Mamon ou Ego, viviam o presente sem se preocuparem com o futuro ou serem perturbados pelo passado.

Mateus 6:25:

Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?

Se nos perguntassem a que mais queríamos dar força, nós responderíamos: ao Espírito.

Temos de convir: o corpo não tem futuro, envelhece a cada minuto que passa até ao dia em que perece; a mente, que é composta por todo o conhecimento desta vida e influenciada pela moral que permanece ao longo das reencarnações, também terá o seu fim. De reencarnação para reencarnação, a mente sofre um apagão para que possamos viver outro personagem. Este personagem tem um objetivo temporário, acabando quando deixa de ser necessário, o limite é a próxima reencarnação.

Sobra-nos o mais importante: o Espírito. Primeiro temos que o conhecer, não por livros, como disseram os Espíritos na resposta à pergunta 23-A, para nós nada é, ou seja, não tem definição, mas podemos desenvolver, através do desapego, sensibilidade suficiente para o conhecer e perceber. Desapego do Ego ou Mamon.

Mantenham o exercício, Jesus vigiou com seus discípulos para que eles conhecessem a verdade.

 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita