Artigos

por Eder Andrade

 

Assistencialismo ou caridade?


Nossa sociedade vem passando por uma grande transformação socioeconômica, nos levando a questionar a maneira correta de ajudar as pessoas necessitadas.

A ideia de caridade acaba sendo confundida com assistencialismo devido à crise por que estamos passando. Fica difícil em alguns momentos realizar a caridade e ao mesmo tempo promover um esclarecimento, de forma a despertar nas pessoas ajudadas a responsabilidade individual de procurar uma alternativa para as suas vidas.

O Espírito Emmanuel no livro Companheiro1, psicografado por Francisco Cândido Xavier, nos ensina: 

Quando estiveres à beira do desalento pergunta a ti mesmo

se estás num mundo em construção ou se estás numa colônia de férias.

“Não sofras pensando nos defeitos alheios; os outros são espíritos,

quais nós mesmos, em preparação ou tratamento para a Vida Maior”.

A crise vivida pelo nosso país nos últimos anos contribuiu para um aumento acentuado dos moradores de rua e das pessoas situadas muito abaixo da linha da pobreza, ou seja, da miséria. Dessa forma, em alguns casos, existe a urgência em se realizar uma distribuição de alimentos aos necessitados, sem realizar paralelamente um trabalho de conscientização do contexto social por meio de uma equipe com assistentes sociais.

Isso nos faz lembrar as palavras do sociólogo Herbert de Souza, que defendia, na década de 1990, a ideia de “quem tem fome tem pressa”.

Porém a ajuda humanitária deve ser acompanhada de um trabalho de integração do cidadão ao mercado de trabalho, uma ressocialização das pessoas abaixo da linha da pobreza.

Existe uma crítica muito exacerbada com relação ao assistencialismo, pois ele é utilizado pelos políticos numa barganha pelos votos, assim como a maneira que a distribuição de alimentos é realizada, pois não ajuda os necessitados, muito pelo contrário, acaba em alguns casos gerando uma relação de dependência.

Sabemos que o certo seria realizar previamente um cadastro com as famílias necessitadas e, através de um trabalho socioassistencial, tentar ajudar essas pessoas reintegrando-as na sociedade e não simplesmente distribuindo alimentos.

Quando Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, fazia a distribuição de cestas básicas para as pessoas da roça, realizava uma prece e a leitura de uma página do Evangelho debaixo do abacateiro, procurando exortar a todos à prática do bem e ao exercício da caridade.

Naquela época o formato do trabalho social era muito diferente do que acontece hoje nos grandes centros urbanos, onde existem bolsões de miséria que parecem invisíveis aos olhos dos moradores e principalmente dos governantes. Reflexo da necessidade reencarnatória e provacional dos grupos humanos que vivem próximos aos centros urbanos. Pessoas invisíveis ao nosso olhar, que precisam receber algum tipo de ajuda. Dessa forma, em alguns momentos fica difícil estabelecer normas ou parâmetros para distribuição de alimentos no formato do que nós entendemos como certo, sendo obrigados a realizar uma ajuda pelo menos até que a situação de necessidade seja contornada.

Muitas casas espíritas procuram cadastrar famílias para ajudar com cestas básicas, roupas e material escolar para as crianças, porém não conseguem atender à necessidade da grande maioria das pessoas, devido à desigualdade socioeconômica e à falta de oportunidade de emprego e condições básicas de sobrevivência para muitos trabalhadores. Isso acaba tornando-se um grande círculo vicioso, pois não querendo realizar o assistencialismo muitos grupos acabam sendo obrigados a fazê-lo, devido ao acentuado desequilíbrio social e à grande desigualdade de oportunidades na nossa sociedade dos últimos anos.

Segundo Allan Kardec em O Livro dos Espíritos2 no cap. XI, vamos encontrar o verdadeiro sentido da caridade, quando pergunta ao Espírito da Verdade: Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade como entendia Jesus? “Benevolência para com todos, compaixão para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”

Olhando a situação pelo lado espiritual, compreendemos que esse desafio é recíproco, pois sabemos que nada levaremos desta vida, então a ajuda pode ser feita e a grande preocupação é um controle equilibrado na distribuição para que todos possam receber uma cesta básica e que ninguém tire proveito disso, levando vantagem ou se colocando na condição de necessitado, enquanto na verdade poderia trabalhar ou realizar algum tipo de serviço.

Infelizmente existem pessoas que vivem à margem da sociedade, pela idade, pela falta de escolaridade e de qualificação, e até por problemas físicos e psiquiátricos, aumentando ainda mais o número de pessoas fora do mercado de trabalho.

Sem o esclarecimento da Doutrina Espírita, apenas teríamos uma visão socioeconômica do mundo em que vivemos, pois sabemos que a riqueza e a pobreza são provas solicitadas pelo espírito antes de reencarnar. Podemos compreender melhor a questão com a leitura da obra O Livro dos Espíritos2, com as perguntas 132 e 133 e depois das perguntas 258 a 273. Isto é uma interessante exposição sobre os diferentes casos que envolvem um processo reencarnatório, assim como as diferentes escolhas realizadas pelo espírito.

 

Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido; Companheiro; Cap. 12 – Temas de Esperança; Ed. IDE.

2) Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; 2a p.- Cap. II – Objetivo da Encarnação; Cap. VI - Escolha das provas; Cap. XI - Caridade e amor do próximo: FEB.

3) Wikipédia (Enciclopédia livre).


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita