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por Bruno Abreu

A expansão do amor


Aqueles que se preocupam em ser uma pessoa melhor, comumente chamado de crescimento espiritual, tentam perceber uma forma de se tornarem seres mais calmos. Penso que este é um dos principais motivos que levam as pessoas a permanecerem nos Centros Espíritas.

Temos uma vaga ideia de que o crescimento espiritual acontece através do amor, até acreditamos conhecer esse amor, embora vivamos de forma turbulenta. Acusamos os outros e a vida por nos distanciarmos deste, que nos oferta a paz quando, esporadicamente, aparece de forma fugidia.

Associamos este sentimento a um movimento de carinho de nós para com os outros. De forma perfeita, como o de Jesus, é amarmos todos de forma igual.

Estas ideias aparecem por vivermos de forma desatenta, não estarmos conscientes dos nossos movimentos. A mente toma conta desses assuntos tão importantes através da imaginação, não permitindo que os vivamos diretamente, por isso sermos tão enrolados em problemas.

Mesmo vivendo de forma ilusória, temos perceções reais que nos vão dando algum direcionamento do caminho que devemos tomar.

No caso da direção ao amor, podemos perceber que acontece através da serenidade e da paz interior.  Ninguém pode chegar a este reinado no meio de um turbilhão emocional. Podemos chegar à ideia dele, imaginá-lo, projetá-lo a alguém diretamente, mas não envolvermo-nos de amor se estivermos envoltos de emoções diferentes e desejos que tomem conta do nosso ser.

Funcionamos em vibrações. Podemos imaginar estas como se fôssemos uma cebola cheia de camadas. As emoções negativas e os desejos terrenos a que estamos apegados são as camadas mais superficiais. Como nos mantemos nesta vibração, através do pensamento que roda constantemente entretido com esta forma de estar superficial, não nos apercebemos da enorme imensidão que existe para além desta vibração. Desta forma, a vida vai acontecendo e nós vamos respondendo automatizadamente, alimentando esta forma de estar supérflua que nos envolve na ilusão da importância. É como olhar para o mar: só vemos a água que está por cima e todo o seu movimento, temos uma ideia de que por baixo é muito rico e enorme, mas como nunca mergulhamos, não conhecemos para além da imaginação que temos sobre este.

Quando temos alturas de paz, em que ultrapassamos este movimento desenfreado da mente, e esta abranda um pouco, podemos sentir paz e serenidade. O bem-estar que sentimos desponta uma energia de amor que nos faz harmonizar com o que está a nossa volta, simplesmente amamos, sem projeções diretas. E nos sentimos mais próximos de Deus, dos outros e integrados no universo.

O primeiro conselho que Jesus nos deixa sobre a oração é para nos recolhermos em silêncio aos nossos aposentos. Os nosso aposentos são silenciosos, mas ele insiste no silêncio porque nos indica para um silêncio mental, ou seja, para deixarmos para trás a vibração mais superficial do movimento intenso do pensamento e entrarmos no nosso interior, que se situa para lá deste turbilhão, onde está Deus e o seu enorme amor que nos caracteriza como filhos.

O Mestre incentiva-nos dizendo-nos que Deus em silêncio escuta, para mergulharmos dentro de nós, onde, numa outra passagem, nos informa que é o Reino de Deus.

A abdicação e o desapego dos desejos e emoções negativas são essenciais para podermos perceber a nossa profundidade como seres. Esta autodescoberta torna-se o motor motivador para a busca de um crescimento espiritual.

A nossa primeira verdadeira escolha acontece no plano mais superficial da consciência, como é lógico. Os desejos e as emoções aparecem e nós seguimos ou não atrás. Tem muito a ver com o nosso apego ao que aparece; se formos muito apegados, como um alcoólico ao álcool, dificilmente contrariaremos o desejo que surge, mas temos sempre uma pequena porta para o fazermos.

A escolha não está no que surge em nossa mente, como acontece com o raciocínio. Quando efetuamos um raciocínio escolhemos os pensamentos que estamos a ter, o que nos dá a ideia de que somos senhores e donos de nossa mente, mas, ao contrário disso, durante o dia, os pensamentos que surgem são aleatórios à vontade, servindo para nos testar.

Quanto mais distraídos formos, mais longe estamos da consciência e mais apegados somos aos pensamentos, seguindo atrás destes sem os questionarmos ou vigiarmos.

A escolha da consciência sobre o funcionamento da nossa mente é o maior poder que podemos ter.

Quando estamos conscientes do funcionamento de nossa mente, dificilmente somos enganados pelo movimento dos pensamentos e quando aflitos pelo apego, podemos orar a solicitar ajuda, força e coragem.

Com a prática, passamos a ter mais capacidade sobre este intenso movimento, que diminui de força, deixando espaço a um vazio que se preencherá de paz, amor e felicidade.

Desenvolvemos o silêncio que Jesus nos aconselha para oração e expandimos o Amor em nossos corações.

Como o Mestre nos alerta, não podemos agradar a Deus e a Mamon.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita