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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

O Bode expiatório


Os psicólogos sociais colocam como um dos grandes obstáculos ao autoconhecimento o papel do Bode expiatório, que consiste em transferir para outrem uma responsabilidade que é nossa. Como proteção à autoestima, recusamos encontrar em nossa própria realidade íntima as causas dos fracassos, das más escolhas e dos desvios éticos. O problema está sempre nos outros.

A tradição atribui aos antigos hebreus a expressão bode expiatório. Tratava-se de um costume pelo qual o sacerdote, durante um período de expiação de culpas da tribo, pousava as mãos na cabeça de um bode e, por meio das devidas rezas, exortações e enunciação dos pecados cometidos transferia-os para o animal que depois era abandonado no deserto para morrer, levando consigo os pecados e limpando a comunidade de seus erros. O termo ficou e hoje é usado para designar aqueles que levam a culpa de algo, ainda que sendo inocentes.

Exemplo lamentável e trágico de bode expiatório vamos encontrar na Alemanha nazista, onde, após a derrota na Primeira guerra mundial, responsabilizou os judeus pela inflação, pela recessão e pelos sentimentos de frustração então existentes.

Outro cruel exemplo: nos Estados Unidos entre 1882 e 1930 o número de linchamentos de negros aumentava fortemente, na medida em que se verificava a queda do preço do algodão nos estados sulinos.[i]

Em nossos dias, muitos médicos deparam-se com a atitude hostil de familiares ante um final indesejado de um paciente grave, culpabilizando a equipe médica, o hospital etc. Via de regra, agem assim os familiares do enfermo que se omitiram durante o tratamento.

Se almejamos, de forma sincera, o melhoramento moral, precisamos alijar de nossa atitude mental, o bode expiatório, assumindo a responsabilidade ante as más inclinações que ainda possuímos. Reconhecê-las, corajosamente, e identificar-se com uma estratégia eficaz para superá-las é algo que não pode ser postergado pelos adeptos sinceros do Espiritismo.

Ao advertir-nos quanto ao prioritário em nossa vida, Kardec colocou:

[...] tendes muitas coisas que vos tocam mais diretamente, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos desembaraçardes delas, o que vos será mais útil do que quererdes penetrar o que é impenetrável.[ii]


 


[i] Psicologia social, cap. 7, Aroldo Rodrigues e col.

[ii] O Livro dos Espíritos, item 14


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita