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por Rogério Coelho

 

A verdade


A reflexão, a inspiração e a reve­lação são as três alavancas do espírito humano


“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. 
- Jesus. (Jo., 8:32.)


Cada uma das três Revelações apresenta característica própria:

a Primeira Revelação – Moisés – Justiça;

a Segunda Revelação – Jesus – Amor; Vida Futura;

a Terceira Revelação – O Espiritismo – A Verdade.

Quando Pilatos perguntou[1] a Jesus o que era a Verdade, o Mestre silenciou... O capacho de César não possuía descortino intelectual e/ou vivencial para entender o que é a Verdade, uma vez que a sua era a “verdade” revestida pelos ouropéis mundanos.

Todas as religiões – desde as que se perdem na noite dos tempos – até às de hoje têm fragmentos da verdade. Mas, tão somente o Espiritismo a revela na magnitude que nossos parcos conhecimentos permitem abarcar. Está traçado o caminho da libertação, o caminho da alforria espiritual. Resta apenas aguardar a chegada do quinhão de boa vontade de cada um para trilhar a senda que conduz ao seu regaço confortador. Há que se ter humildade para alcançar a verdade. Enquanto estivermos entronizando o orgulho, o egoísmo e toda a coorte de seus sicários, jamais poderemos vislumbrar o alvorecer da Era Nova.

Os conceitos com que tentam traduzir a Verdade vêm desafiando a inteligência dos filósofos de todos os tempos, mas existem aqueles cujo desembaraço dos prejuízos lhes permite alcançar um maior distanciamento, redesenhando, assim os novos contornos dos limites do conhecimento sobre a Verdade.

Uma vez perguntaram a Blaïse Pascal o que ele entendia ser a Verdade, e sua resposta não se fez esperar[2]: “(...) a Verdade, meu amigo, é uma dessas abstrações para a qual o espírito humano tende, sem cessar, sem poder jamais alcançá-la. É preciso que a ela se incline, é uma das condições do progresso, mas sua natureza imperfeita, e só por isso ela é imperfeita, não saberia a ela chegar. Seguindo a direção que segue a Verdade, em sua marcha ascendente, o espírito humano está no caminho pro­videncial, mas não lhe é dado ver-lhe o fim. Compreender-me-ás melhor quando souberes que a Verdade é, como o tempo, dividida em duas partes pelo momento inapreciável que se chama o presente, a saber: o passado e o futuro. Há, pois, duas Verdades também, a Verdade relativa e a Verdade absoluta. A Verdade relativa é o que é; a Verdade absoluta é o que deveria ser. Ora, como o que deveria ser sobe por degraus até a perfeição ab­soluta que é Deus, segue-se que, para os seres criados escalando a rota ascensional do progresso, não há senão Verdades relativas. Mas de que uma Verdade relativa não é imutável, ela não é menos sagrada para o ser criado.

Vossas leis, vossos costumes, vossas instituições são essencial­mente perfectíveis e, por isto mesmo, imperfeitas; mas suas imperfeições não vos livra do respeito que lhes deveis. Não é permitido anteceder seu tempo e de se fazer leis fora das leis sociais. A humanidade é um ser coletivo que deve caminhar, senão em seu conjunto, pelo menos por grupos, para o progresso do futuro; aque­le que se destaca da sociedade humana para avançar como filho perdido, para as Verdades novas, sofre sempre, sobre vossa Terra, a pena devida à sua impaciência. Deixai aos iniciadores, inspirados do Espírito de Verdade, o cuidado de proclamar as leis do futuro submetendo-se à do presente. Deixai a Deus, que mede vossos progressos pelos esforços que fazeis para vos tornardes melhores, o cuidado de escolher o momento que crê útil para uma nova transição, mas não vos subtraiais jamais a uma lei senão quando ela tiver sido derrogada.

Porque o Espiritismo foi revelado entre vós, não creiais num cataclismo das instituições sociais; até este dia ele realizou uma obra subterrânea e inconsciente para aqueles que lhe foram os ins­trumentos. Hoje que ele aflora ao solo, e que chega à luz do dia, a marcha do progresso não deve por isso ser menos de uma lenta regularidade. Desconfiai dos Espíritos impacientes que vos levam aos caminhos perigosos do desconhecido.  A Eternidade que vos foi prometida deve vos fazer tomar em piedade as ambições tão efêmeras da vida.  Sede reservados até em suspeitar frequentemente da voz dos Espíritos que se manifestam.

Lembrai-vos disto: o Espírito humano se move e se agita sob a influência de três causas que são: a reflexão, inspiração e a revelação.

reflexão é a riqueza de vossas lembranças que agitais voluntariamente. Nela, o homem encontra o que lhe é rigorosamente útil para satisfazer as necessidades de uma posição estacionária.

inspiração é a influência dos Espíritos extraterrestres que se mis­turam mais ou menos às vossas próprias reflexões para vos levar ao progresso, é a intromissão do melhor na insuficiência da transição; é uma força nova que se acrescenta a uma força adquirida para vos levar mais longe do que o presente, é a prova irrecusável de uma causa oculta que vos impele para frente, e sem a qual permaneceríeis estacionados; porque é da regra física e moral que o efeito não po­deria ser maior do que sua causa, e quando esta chega, como no progresso social, é que uma causa ignorada, desapercebida, se juntou à causa primeira de vosso impulso.

revelação é a mais elevada das forças que agitam o espírito do homem, porque ela vem de Deus e não se manifesta senão por Sua vontade expressa; ela é rara, algumas vezes mesmo inapreciável, algumas vezes evidente para aquele que a sentir ao ponto de se sentir involuntariamente tomado de um santo respeito. Eu o repito, ela é rara, e dada comumente como uma recompensa à fé sincera, ao coração devotado; mas não tomeis como revelação tudo o que pode vos ser dado por tal. homem exibe a amizade dos grandes, os Espíritos exibem uma permissão especial de Deus, que frequentemente lhes faz falta; eles fazem algumas vezes promessas que Deus não ratifica, porque só Ele sabe o que é preciso e o que não é preciso.

Eis, meu amigo, tudo o que te posso dizer sobre a Verdade. Humilha-te diante do Grande Ser, porque tudo vive e se move na infinidade dos mundos que Seu poder rege; pense que se n`Ele se encontra toda a sabedoria, toda a justiça e todo o poder; n`Ele se encontra também toda a Verdade.”       

 

[1] - BÍBLIA, N.T. João. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 18. vers. 38.       

[2] - KARDEC, Allan. Revue spirite. Maio de 1865. 2.ed.Araras: IDE, 2000, p. 152-154.

 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita