Artigos

por Jorge Leite de Oliveira

 

Sobre a homossexualidade


Há alguns anos, um amigo demonstrou profundo respeito à questão da homossexualidade, afirmando-me que, em sua casa, era comum o encontro de dois jovens do sexo masculino se beijarem e acariciarem. Em resposta, eu disse-lhe que também tenho profundo respeito a essas pessoas, embora pessoalmente não compartilhe das ideologias de gênero que façam do tema um verdadeiro culto ao sexo livre e insistam em divulgar a homossexualidade às nossas crianças como se isso fosse algo que dependa delas decidir em tenra idade. Sou dos que ainda veem no comportamento heterossexual o normal e na homossexualidade algo que independe da decisão de uma criança, que nem mesmo sabe o que é libido e o que é atração sexual por pessoa do mesmo sexo. Elas se amam, e isto basta-lhes.

Tais reflexões surgem-me pós-leitura do seguinte artigo do professor doutor em Sociologia Francisco Jomário Pereira: A representação da homossexualidade no discurso espírita de Divaldo Franco, publicado na Revista Movimentação, Dourados, MS, V.7, nº.12, jan./jun. 2020 - ISSN 2358-9205. No segundo parágrafo das Delimitações Teóricas e Metodológicas de seu artigo, seu autor se diz "homossexual e praticante do espiritismo".

O emissor do texto enviado a mim, que não é o autor, propõe-me opinar sobre o assunto. Esta não é a primeira e talvez também não seja a última vez que abordo o assunto. A obra trata principalmente da homossexualidade masculina.

O professor parece não ter entendido que o Espiritismo não é obra nossa e, sim, dos Espíritos; por isso afirma que sua "análise da representação da homossexualidade" baseia-se no "discurso espírita contemporâneo, a partir de uma corrente específica que nasce dos discursos e obras do médium e intelectual espírita Divaldo Pereira Franco". Seu texto utiliza o seguinte corpora: "obras escritas por intermédio de guias espirituais, palestras, e discursos proferidos com repercussão nacional". Critica o médium, entretanto, como se tudo o que este diz e escreve fosse produto de sua mente.

A seguir, recorto e comento algumas de suas frases:

 

Divaldo concebe a homossexualidade como uma condição, mas não na mesma esfera que a condição masculina ou feminina. Não seria uma opção nascer gay, mas um fato que ocorre devido a fatores anteriores ao nascimento, podendo ou não, posteriormente ao nascimento, desencadear as experiências da homossexualidade. Os fatos anteriores ao nascimento derivam de uma programação ou reencarnação não tão bem-sucedida, os posteriores estão atrelados as (sic) condições morais do indivíduo e da sociedade, especialmente em sua educação (p. 42).

 

O Espírito não tem sexo, como o entendemos quando estamos encarnados. O fato de uma mulher demonstrar, por vezes, características varonis, e de um homem, as feminis não significa que ambos tenham atração por pessoas do mesmo sexo.

No último parágrafo da página 48 do artigo, lemos que:


O espiritismo pode ser pensado enquanto efeito, não podendo a­ afirmar (sic) se positivo ou negativo, desejado ou não, mas estabelece uma relação contraditória com as demais religiões cristãs, não é à toa que foi combatida pelo catolicismo durante o século XIX e XX. Observamos a junção de elementos heterogêneos como a filosofia,­ ciência positivista, psicanálise, psicologia e a própria religião, que são combinados e recombinados, assim nasceu o espiritismo, e ao chegar no Brasil ganhou nova roupagem, adicionado a ele o aspecto da caridade e do personalismo.

 

Conforme expliquei acima, o Espiritismo é obra dos Espíritos, e não nossa. Sua elaboração cabe aos homens, que gozam de livre-arbítrio, mas são influenciados pelas entidades espirituais que também podem ou não ser de alta elevação. Kardec deixa isso muito claro em suas obras. Por outro lado, os que o combatem se baseiam exclusivamente em teóricos encarnados. Alguns deles com problemas psicológicos graves, como é o caso dos filósofos citados: Marx, que foi perseguido cruelmente e renegou a religião, bem como o capitalismo em sua época, e Foucault, professor jovem, muito inteligente e imaginativo, homossexual, que influenciou multidões. A escolha de qual teoria nos satisfaz ao sentimento e à razão cabe a cada um de nós. Fico com a dos Espíritos, como Emmanuel e Philomeno de Miranda...

Com todo o respeito ao professor Francisco, seu último parágrafo contradiz o que criticara antes e também se contradiz:

 

Por ­ fim, devemos ressaltar que, a homossexualidade não pode ser vista, na doutrina proposta por Divaldo Franco, como uma transgressão a conduta moral. Devemos esclarecer que ser homossexual na Doutrina Espírita é algo normal, o erro existe na prática sexual, ou no homossexualismo como reforça Alírio de Cerqueira Filho. A sublimação é a saída mais acertada para que a evolução moral e espiritual ocorra. Essa lógica diverge das demais religiões que se dizem cristãs, é um avanço considerável, mas reforça o estereótipo em relação ao homem gay, de que ele é um ser sexualizado e de que tudo se resume ao sexo. O discurso proferido não rompe com os binarismos, os conceitos cristãos adaptados, reinterpretados e contidos na doutrina espírita, se ancoram no heterossexismo onde se pauta, orientando as identidades e as representações coletivas que devem gerir as relações sociais dentro da religião, ou dentro do espaço público religioso, ainda, a partir de uma lógica patriarcal, se percebe claramente que os discursos são orientados pelo modelo heterossexual ancorado na lógica reprodutiva, familiar e religiosa. A partir das análises, no que se refere as (sic) obras investigadas, percebemos a doutrina espírita como um dispositivo normativo, dotado de múltiplas estratégias de produção de sujeitos normalizados. 


Toda filosofia e crença tem por base normas, sejam estas provenientes dos homens, sejam do plano espiritual. O Espiritismo ou Doutrina Espírita não difere basicamente das normas cristãs, porque se evidencia, justamente, no que prescreve o contido na Bíblia, tirado o aspecto simbólico do seu texto, mas, por vezes, claramente exposto na Escritura Sagrada. Nesse sentido, criticar o Espiritismo e sua Doutrina sobre o assunto aqui desenvolvido é criticar o que está no Decálogo recebido por Moisés e o que o próprio Jesus falou, em resposta aos seus inquisidores, como lemos no capítulo 19 do Evangelho de Mateus, ao lhe ser perguntado se seria lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo: "[...] Não tendes lido que no princípio o Criador os fez macho e fêmea e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne?" (Mateus, 19:4 e 5).

Todo espírita esclarecido deve conhecer muito bem o contido no Antigo Testamento, revelação divina, assim como a do Cristo, que anunciou o surgimento do Espiritismo (o Consolador) para nos relembrar suas palavras e "ficar eternamente conosco". Mas também deve estudar as obras de Allan Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, entre outros, e seus continuadores contemporâneos, além das obras mediúnicas complementares. O que passar disso nada mais é do que má-fé ou ignorância derivada de estudo incompleto ou de ideias preconcebidas e preconceituosas em relação à obra anunciada por Jesus, que tem entre seus grandes representantes Espíritos como Emmanuel, André Luiz, Maria Dolores, Joanna de Ângelis, Victor Hugo, Manoel Philomeno de Miranda... Todos esses e outros numes tutelares estão muito bem representados por Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco, aos quais prestamos nosso mais profundo respeito e gratidão.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita