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por Bruno Abreu

 

A conquista da paz


Como todos já percebemos, a paz não é algo fácil de conquistar e, em especial, de manter.

A visão que a maioria de nós tem, deste estado de espírito, é completamente deturpada. Começa por acharmos que é uma emoção ou um sentimento.

A paz é um estado de espírito ou um estado do ser, como preferirem.

Imaginem uma guerra no tempo medieval, onde tentamos conquistar um castelo, que representa a paz, que está completamente rodeado por militares que nos impedem de passar para este castelo.

Essas forças militares que rodeiam totalmente o castelo, ainda longe deste, e que nos mantêm à distância do objetivo, são as emoções, os desejos desmedidos e os sentimentos de aversão. Dentro destes, encontramos a raiva, o egoísmo, a ira, o orgulho, a avareza, a angústia, os desejos e por aí afora.

Quando nos deparamos, frente a frente, com estas unidades militares, na tentativa de chegar ao castelo, acontece uma luta enorme, à semelhança do nosso interior.

Esta luta aumenta a desestabilização e é nesta altura que mais queremos ter paz, tal como o desejo da paciência nasce da impaciência, se não tivermos impacientes, não desejaremos estar pacientes.

Para chegarmos ao castelo da paz, pensamos que temos de combater as unidades militares das emoções atrás mencionadas porque temos a noção de que no estado mental agitado não nos podemos ficar serenos.

A conquista da paz passa pela conquista de nós próprios, acabando com as nossas tendências negativas que nos levam ao conflito interno.

Quando mencionamos conquista, parece que estamos a falar de uma autêntica luta, mas também não poderia estar mais errado. Como é que iríamos conquistar a paz com uma luta? Será que alguma luta, mesmo que interna, nos poderá trazer paz?

Onde nascem as emoções? As emoções nascem em nós. Parte do ser que quer a paz cria as emoções, os desejos desmedidos e os sentimentos de aversão.

Podemos perguntar a nós próprios: se queremos a paz, por que criamos o que nos afasta desta?

Estas emoções, sentimentos negativos e desejos desmedidos fecham a visão da paz tal como as nuvens fecham o sol.

Com esta visão é fácil percebermos que a luta da conquista passa para uma luta de abdicação, ou, como Cristo mencionou, desapego.

Temos de desapegar, isto quer dizer deixar de dar valor ao nosso estado de ser que cria as emoções negativas, os desejos desmedidos e os sentimentos de aversão, desapegar das vontades errôneas terrenas, como seres.

O nosso modo habitual de funcionamento é:

- Surge a raiva, sou agressivo com a outra pessoa, vejo o mal que fiz e arrependo-me, pensando que tenho de alterar aquela forma de estar. Aqui nasce a luta, parte agiu de forma errada e outra parte a critica e tenta ser melhor.

Esta é uma luta perdida, porque toda a luta é um conflito que nos afasta da paz interior.

O melhor seria não criarmos o que nos tira a paz, logo, não existiria luta, porque não precisaríamos de mudar o que não criamos. Como poderemos chegar aqui?

Jesus aconselha uma atenção sobre nós quando ensina “Vigiai e orai”, ou seja, atenção ao que surge em nós; a seguir, quietude ou oração para não cairmos em tentação. Desta forma, não chegaremos ao conflito e desenvolveremos o desapego que encurta o caminho para a paz.

Permanecer em paz ou ser puros de coração não é combater os defeitos, mas abdicar destes para que não haja lugar para a criação de conflitos.

Na imagem do castelo da paz e suas tropas envolventes, a única coisa que teríamos de fazer, para chegar ao castelo, era deitar as armas fora e caminhar sem iniciar uma única luta. Em nós, não há forma de exigir ser perfeitos sem que haja nascimento de más tendências; a perfeição acontece por não nos apegarmos a estas, e elas morrem como nasceram, sem nos movimentar ou influenciar.

Mateus 26:39 - Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: "Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice”, e ficou por uma hora.

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita