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por Temi Mary Faccio Simionato

 

Qual legado estamos deixando?   


Desde os primórdios da humanidade passamos por dores e adversidades. Vivemos envoltos por problemas dos mais variados tipos, pois ainda somos Espíritos imperfeitos, com débitos a sanar.

A Doutrina Espírita nos mostra que os momentos de alegrias e de dificuldades se alternam na nossa caminhada: ora temos momentos felizes e ora temos momentos de decepções e dores. Como estamos estagiando em um mundo de provas e expiações, as alegrias eternas não pertencem ainda ao mundo atual, mas num futuro próximo poderemos, com certeza, vivenciá-las, desde que entendamos a realidade da nossa existência e passemos a trabalhar-nos intimamente, visando ao progresso e à evolução constantes. Para que isso aconteça precisamos viver de acordo com a Lei Divina.

Numa sociedade marcada por provas e expiações faz-se necessário que entendamos as raízes dos conflitos, pois ainda estamos atolados na lama e na pobreza de um mundo expiatório, atrelados ao ressentimento, às mágoas, à inveja, ao egoísmo, sentimentos fortes e dominantes que não nos conduzem a um crescimento mais sólido. Porém, quando conseguirmos vencer as dificuldades, a teimosia, o querer em benefício próprio, aí sim, teremos dado um passo consistente ao nosso progresso e desenvolvimento espiritual.

Lembremos, deste modo, do autor espiritual André Luiz, no livro Ação e Reação, psicografado pelo saudoso médium Francisco Cândido Xavier, mostrando que em todas as ações que engendramos na vida, somos impactados por uma reação. Quando nossas ações forem positivas e edificantes, receberemos da Espiritualidade Maior reações saudáveis e equilibradas. As dores, os sofrimentos, as dificuldades sempre existiram, no entanto, a forma como as encaramos é fundamental para que consigamos extrair delas os instrumentos de progresso e de aprendizado, construindo assim, um mundo íntimo mais consistente, vinculado a nobres sentimentos.

O apóstolo da gentilidade, em sua segunda Carta aos Coríntios, capítulo 4, versículo 8, esclarece: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados”. Compreendemos, então, que ser atribulado é enfrentar sempre aflições, adversidades, sofrimentos morais com bom ânimo, perseverança e confiança. Não nos permitamos agoniar cedendo a aparentes forças irresistíveis das influências perversas a nos desviar do caminho em direção à conquista da felicidade. Fica claro, assim, que o minuto a ser trabalhado em cada dia não deve ser desperdiçado por invigilância e ociosidade.

Embora, ainda, não nos reconheçamos como leais seguidores do Cristo, já iniciamos os esforços para corrigir as mazelas espirituais, a fim de conquistarmos virtudes que nos propiciem integração na equipe de trabalho do divino Amigo.

Nunca como nos tempos atuais houve tanta necessidade do Evangelho Redivivo ao Espírito sedento de consolo e esclarecimento. Poderemos encontrar a paz, a serenidade, o bom senso, o discernimento e não nos perdermos na direção do bem, se não nos deixarmos envolver pelas ilusões passageiras do mal e pelos desejos e tentações de um mundo ilusório. Vivemos momentos decisivos de renovação em Espírito e Verdade para a nossa transformação moral. É nesta hora que Jesus nos chama para o serviço da redenção de nós mesmos, pelo auxílio aos irmãos em maiores necessidades que as nossas. Este é o período da despedida gradativa do Orbe em que somos convocados a atuar. Estagiamos no tempo de fazer a leitura da realidade, ter olhos de ver a verdade e compreender que a Terra é a nossa escola de iluminação, o hospital de reabilitação e a morada de trabalho e de libertação de nossos Espíritos, para o encontro do Pai em nós. Temos a grande oportunidade de iniciar a reparação dos nossos erros do pretérito e também do presente; por isso, precisamos ter vontade firme, empenho para aproveitar o momento de estarmos encarnados e iniciarmos a regeneração moral.

Devemos amar nossa existência de lutas e de amarguras temporárias, tendo como base o autoconhecimento. É onde encontraremos a nossa maior dificuldade: a de admitir para nós mesmos a natureza de nossos sentimentos, abrindo uma porta para aprender a ter autocontrole e iniciar o processo de mudança e vencer esta batalha íntima, como dizia o apóstolo Paulo, na segunda Carta a Timóteo, capítulo 4, versículos 7 a 9: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”.

Conviver fraternalmente deverá ser a essência de nossa causa e isso é uma questão de escolha. Portanto, escolhamos o caminho da fraternidade para habitarmos a Terra em sua nova etapa. Para tanto, precisamos possuir qualidades que nos assemelhem ao servidor que multiplicou os talentos recebidos de Deus, produzindo inúmeros frutos, espalhando a boa semente dos ensinamentos pelo campo do mundo. Pratiquemos com fidelidade os princípios doutrinários que abraçamos, aprendendo a resignação, a indulgência, fazendo renúncias e sacrifícios para o bem do outro. Assim, mais livres das impurezas, poderemos escolher o que gostaríamos de fazer, como o exemplo do livro Renúncia, ditado pelo benfeitor espiritual Emmanuel, através do médium Francisco Cândido Xavier: Alcione, uma das personagens, não tinha mais necessidade de reencarnar, mas, por amor, retorna à Terra, sacrificando-se e renunciando para trabalhar em benefício por quem ela se sentia responsável.

Qual legado estamos deixando? E as vitórias que estamos alcançando para nós e para os que convivem conosco? Saibamos acender a luz de serviço e do amor que farão da nossa consciência um lago límpido e tranquilo para que possa refletir a luz e a paz Divina. O objetivo da evolução, a razão de ser da vida não é a felicidade da Terra, mas sim, o aperfeiçoamento de cada um que deve ser realizado por meio do trabalho, do esforço, de todas as alternativas da alegria e da dor, da renúncia, do bem conviver, até que tenhamos nos desenvolvido completamente para podermos ser elevados a Espíritos puros.

Na vida Espiritual, teremos missões que serão proporcionais ao nosso progresso e com as quais ficaremos felizes porque fornecerão ocasiões de nos tornar úteis e fazermos o bem.

A obra humana, reflexo da obra Divina, expande-se em formas cada vez mais perfeitas para que nos tornemos imagem e semelhança de Deus. Portanto, servir ao Pai no trabalho é a verdadeira conquista da nossa existência. Sejamos verdadeiros semeadores do Amor! E o semeador saiu a semear...

 

Bibliografia:

DENIS, Léon – O Problema do Ser, do Destino e da Dor – 1ª edição – Editora FEB – Rio de Janeiro/RJ – capítulo 9 – 2008.

KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos – 16ª edição – Editora FEESP – São Paulo/SP – Questão 558 – 2015.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita