Artigos

por Eder Andrade

 

“Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”


Historicamente todos conhecem essa frase anotada pelo evangelista Lucas (cap. 23:34), quando o Cristo disse em prece se dirigindo a Deus, nosso Pai, que perdoasse a humanidade, pois nós não sabíamos o que estávamos fazendo. Essa expressão muito oportuna para os tempos atuais, nos mostra o quanto de comprometimento amealhamos ao longo de muitas encarnações, mesmo tendo a percepção de que nossa consciência nos alertava o contrário do ato que estávamos praticando, agíamos de forma imprudente, acumulando compromissos ao longo de várias encarnações, tendo que agora saldar lembranças e culpas para com nossa própria consciência, quitar dívidas morais e estar em paz com nós mesmos.

“A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória” (Gálatas 6-7-8 Bíblia.)

Seria ingenuidade de nossa parte afirmar que o conhecimento das vidas anteriores poderia nos ajudar a não recair nos mesmos pontos que falhamos em vidas passadas e que, se tivéssemos acesso a esses acontecimentos, teríamos mais recursos para lidar com nosso passado e nossas infelizes escolhas. Com a evolução da humanidade, uma grande parcela da população passou a ter acesso ao conhecimento, ao estudo e à educação. Esses fatores conjugados e associados a nosso mundo íntimo fortalecem a nossa perseverança em lutar contra as más inclinações, impulsos e vícios que trazemos nessa encarnação e que vão desabrochando à medida que temos consciência e maturidade para lidar com nossas questões mais íntimas, que não se cristalizaram de uma hora para outra, mas sim ao longo de várias encarnações, sedimentando más inclinações que passaram a fazer parte da nossa personalidade, se fazendo necessário uma renovação de valores morais, através de uma mudança de atitude e uma reforma íntima homeopática, um trabalho individual nosso como Espíritos imortais.

“E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará." (João 8:32)

O cerne da grande questão do desconhecimento da verdade está ligado à falta de uma visão espiritual sobre nossa verdadeira existência enquanto Espíritos imortais. Diríamos que o sofrimento e as imprudências poderiam ser minimizados através de uma melhor compreensão da realidade. Os Iluministas em pleno século XVIII já afirmavam que apenas a educação poderia mudar os rumos da sociedade e do próprio homem, pois, recebendo uma educação apropriada, passariam a ter mais consciência das suas atitudes. O impressionante dessa afirmação é sua contemporaneidade, pois, nos dias de hoje, no século XXI, percebemos a necessidade imediata de educar o homem para salvar o planeta Terra do aquecimento global, assim como promover nossa evolução para um Mundo de Regeneração.

Os depoimentos contidos no livro “O Céu e o Inferno” nos ajudam, assim como nas outras obras do Pentateuco, a ter uma visão mais apurada dos acontecimentos. Segundo os Espíritos relatam, aqueles que já possuem uma maior vivência do mundo espiritual, têm mais facilidade de compreensão, ou seja, o conteúdo das obras passa a fazer mais sentido, facilitando o entendimento, embora isso não seja nem sempre o suficiente para mudar nossa conduta, nós é que vamos aplicar o que já sabemos e estamos aprendendo em nossa atual encarnação!

Encontramos depoimentos de Espíritos que ao desencarnarem se deram conta do que poderiam ter feito, mas por diversos motivos e alegações acabaram adiando uma reforma moral em suas vidas e com isso relatam para Kardec a fim de que ele alertasse os homens para não recaírem nos mesmos erros, reincidindo nos mesmos círculos viciosos de ordem moral, onde o arrastamento pelas paixões nos leva a tormentos que se transferem de uma encarnação para outra.

Como vivemos numa sociedade mediana e a natureza não dá saltos, o ideal seria fazermos o que está ao nosso alcance, promovermos paralelamente à nossa vida um esclarecimento moral e uma visão holística, desenvolvermos uma maior percepção da realidade espiritual na qual estamos inseridos. O autoconhecimento e uma reeducação de sentimentos tornam-se importantes instrumentos para lidarmos com nossas dificuldades pessoais, porém, é preciso que o indivíduo aceite suas limitações e busque se capacitar de um conhecimento que possa ajudá-lo a lidar melhor com sua própria dor. À medida que a sociedade evolui e o homem amadurece seu senso moral, vai se reeducando, percebe que muitas coisas passam a fazer um sentido diferente e assim muda a +sua conduta diante dele próprio e dos semelhantes. A partir desse momento sua consciência libera lembranças equivocadas de um passado distante para poderem ser saneadas, gerando desconforto, culpa e dor. Algumas pessoas vivem angústias inexplicáveis e, outros, depressões que se arrastam por uma existência física inteira, como um reflexo de uma lembrança doentia que afeta a consciência e esta, amadurecendo, exigindo reparação e reequilíbrio. Por conta dessa revelação é que os benfeitores espirituais nos oferecem obras como O Céu e o Inferno, onde temos a História de Letil 3, personagem esse que solicita uma nova encarnação para quitar com a sua consciência culpada as faltas cometidas. Com base nesse exemplo e sua história, percebemos a dimensão das palavras do Cristo ao dizer que não temos consciência dos atos imprudentes que muitas vezes cometemos contra o nosso próximo ou contra nós mesmos, quando o próprio Letil nos deixou em depoimento que o O esquecimento aí é um benefício, porque a lembrança aqui é uma tortura”, em outras palavras o esquecimento do passado na condição de vigília é um benefício, enquanto a lembrança na erraticidade é um sofrimento, pois a lembrança precisa dos atos cometidos gera um desconformo moral, pior, segundo os Espíritos, do que a dor física, seria a “dor moral da alma”.

O estudo da doutrina espírita não nos deixa remidos de viver experiências reparadoras, o que de fato percebemos é que a capacitação do conhecimento doutrinário facilita o processo pelo qual precisamos passar para quitar conosco os equívocos cometidos e, dessa forma, como Letil, poderemos vivenciar um sofrimento, porém teremos uma resignação interior diferente, fruto de uma ressignificação dos sentimentos, o que vai refletir um amadurecimento nosso enquanto Espíritos imortais.

Se conhecêssemos a verdade, poderíamos ter um pouco mais de prudência, evitando um comprometimento mais grave, teríamos mais facilidade de lidar com as nossas limitações, arrastamentos e inclinações, poderíamos evitar de cometer um ato imprudente ou dizer uma palavra ofensiva contra um companheiro de caminhada, evitando dessa forma anos de sofrimento e dor e às vezes uma encarnação ou duas para reparação do ato cometido.


Referências:

1) Kardec, Allan; O Evangelho segundo o Espiritismo; FEB.

2) ___________; O Livro dos Espíritos; FEB.

3) ___________; O Céu e o Inferno; FEB; Cap. VIII – Expiações terrestres.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita