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por Bruno Abreu

 

Por onde começamos?


Para os espíritas, a evolução humana e espiritual é um assunto importante e muitas vezes nos perguntamos: por onde começamos?

Essa resposta é simples, começamos pelo início e por onde temos acesso, nós próprios.

Todos os conflitos que temos são internos. Mesmo aqueles em que nos parece que estamos em confusão com os outros, acontecem dentro de nós. Logicamente, para os resolvermos, tem que ser em nós próprios, os outros não têm grande importância.

Com isto, não quero dizer que com os outros se encontra tudo bem, que devemos fazer olhos cegos àquilo que chega através de outras pessoas. Ninguém quer estar em um quintal com um cão que morde, a solução é nos afastarmos, mas não temos que maltratar o cão. O afastar-me é uma forma de defesa, que deve ocorrer sempre que nos sentimos em perigo físico ou psíquico, mas o maltratar é uma forma de carácter e desenvolver uma forma de estar agressiva é um sofrimento atroz no futuro.

O início é em nós próprios, se é importante estarmos bem com os outros, mais importante ainda é estarmos bem conosco próprios. Na verdade, é indispensável a uma vida serena e sem conflitos.

O Mestre da Vida ensina-nos isto quando deixa os mandamentos como regras essenciais à humanidade. Nos seus mandamentos, Ele entrega-nos dois conselhos, “Ama a Deus acima de tudo e ao próximo…“, mas entrega uma diretriz para o segundo “… ao próximo como a ti próprio”. Nós somos a diretriz.

Se não nos amamos, como poderemos servir de diretriz correta para a vida?

No amor, está a base de toda a melhoria humana. Com ele podemos terminar com a fome planetária, as diferenças sociais, as guerras e todas as epidemias mentais do vírus do egoísmo e do orgulho, que têm comandado a humanidade. É um fato que temos que aprender a amar, se queremos um planeta melhor, uma vida mais serena e feliz, por isso, o Mestre da Vida diz-nos que estes dois mandamentos substituem todos os outros.

Não há dúvida que a humanidade tem tido muita dificuldade em descobrir esta energia vibrante que incluímos nos sentimentos. Chamo de energia porque faz parte da natureza humana, embora só apareça quando existem as condições necessárias à sua existência.

Estas condições são a simples abstinência ou desapego dos conflitos terrenos e defeitos humanos.

Como exemplo:  O erro não acontece quando eu tenho dez carros, pois isso é uma consequência de um desejo egoísta e de orgulho, o errado é desejar os dez carros, por isso Jesus nos alerta que antes de fazermos já pecamos dentro de nós.  Não deveríamos ter que chegar ao quinto carro para colocar em causa a forma acumulativa exagerada que existe em ter vários carros, para uma satisfação pessoal, mas perceber no desejo interno do acumular, o distanciamento dos valores humanos. Tudo acontece dentro de nós, muito antes de se tornar físico, material ou em uma ação.

Para amarmos os outros, com a diretriz do amor que sentimos por nós, temos que nos amar.

Confundimos o amor com o orgulho, com o merecimento do egoísmo, com o desempenho da vaidade ou com a agressividade da defesa da honra, mas não poderia estar mais errado.

O que nos acontece quando amamos alguém?

Queremos, simplesmente, estar ao pé daquela pessoa. Sentimo-nos bem ao pé dela, acarinhamos, amamos, rimos até dos seus defeitos, não julgamos, tentamos ajudar no que podemos, somos benevolentes, pacientes e estar sentados ao lado dela torna-se tão importante. Nestas fases, o mundo nos parece tão bonito e demora a tirar-nos da paz, pois esta é alicerçada na felicidade.

Se colocarmos a nossa pessoa no lugar da outra, do parágrafo anterior, isso é amarmo-nos, com a vantagem de estarmos sempre conosco, independentemente de para onde formos.

A nossa paz é a paz com que lidamos com o mundo, ninguém pode usar ou dar o que não tem.

Aqui é o início de todo o crescimento humano ou espiritual

Olharmos para dentro, ver o que acontece conosco, tirarmos 10 minutos de vez em quando para estarmos com o nosso próprio ser, como estaríamos com uma pessoa que muito amamos, sem telemóveis ou televisão, rirmos com nós próprios, aprendermos a estar em paz e sem conflitos internos. Facilmente concordamos com o que falo, mas dificilmente o fazemos, pois temos muitos medos que despontam quando estamos em silêncio interior, ou seja, conosco.

Ao início é necessário percebermos o que nos impede de estar conosco, o que nos tira a paz quando sentamos, as mazelas mentais que aparecem, os dogmas mentais de ideias que nos parecem certas e que deixamos de questionar. Muitas, nem temos consciência do porquê, pois vêm de vidas esquecidas, mas podemos perceber que são impedimentos de estarmos de forma agradável e em paz com o nosso próprio ser. A honestidade com que olhamos para a nossa mente, sem medo, sem fugas, sem julgamentos, como se olhássemos para uma pessoa que muito amamos, é de extrema importância para nos percebermos e aprendermos a amar.

Conforme desenvolvemos o autoamor e vamos pacificando o nosso coração, distribuímos esta energia maravilhosa por todos os outros seres, pois, se já temos, podemos usar e oferecer.

Este entendimento sobre nós próprios, chamado de autoconhecimento, o caminho à paz e à serenidade interior, é o crescimento humano e espiritual.


 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita