Especial

por Ely Matos e Ricardo Baesso de Oliveira

Ensino do Espiritismo: Uma linguagem para o século XXI (Parte 2 e final)

8.          Responsabilidade com a vida

Todos nós temos imensa responsabilidade em relação a todos os seres vivos do planeta e com a condição de habitabilidade da Terra. Se a progressão espiritual implica a passagem pelos organismos menos complexos da natureza, e se os animais estão destinados, um dia, a fazer parte da humanidade, todos temos o dever de auxiliar o cumprimento dessa lei natural, evitando tudo o que possa contrariá-la.

O Livro dos Espíritos, item 132

[...] por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.

9.          A questão do mérito

Ao conceito de mérito pessoal, devemos associar sempre o de mérito coletivo: a evolução é solidária. Ninguém cai sozinho! Ninguém se ergue sem apoio! Tudo o que favorece ou retarda a evolução de outrem e a evolução geral favorece ou retarda a evolução de qualquer membro da coletividade.

O Livro dos Espíritos, item 132

[...] concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.

O Livro dos Espíritos, item 889

[...] se uma boa educação moral lhes tivesse ensinado a praticar a Lei de Deus, não teriam caído nos excessos que ocasionaram a sua perdição. É disso, sobretudo, que depende a melhoria do vosso globo.

10.       Indulgência com o próximo

Precisamos desenvolver uma fala mais compassiva ante os que “caíram”. Nenhum de nós dispõe de recursos mentais para ajuizar corretamente sobre a real responsabilidade de cada indivíduo em suas escolhas e atitudes. Nós não dispomos de uma adequada compreensão das motivações do ato, de seus agravantes e atenuantes. Precisamos sempre lembrar que no mundo há muito mais ignorância do que culpabilidade.

O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. 10, item 13

“Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado”, disse Jesus. Essa sentença faz da indulgência um dever para nós outros, porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.

11.       Linguagem esperançosa

Podemos evitar o uso de uma linguagem pessimista, focada no mal, nos vícios e paixões. As evidências de que a humanidade está melhorando moralmente estão indiscutivelmente estabelecidas. O discurso de que vivemos tempos onde os vícios e paixões predominam, além de apresentar um conceito equivocado, dissemina o pessimismo, que estimula um estado de espírito sombrio.

O Livro dos Espíritos, item 784

Bastante grande é a perversidade do homem. Não parece que, pelo menos do ponto de vista moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos?

Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que o homem se adianta, pois que melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos.

O Livro dos Espíritos, conclusão, item IV

Desde que é incontestável o movimento progressivo, não há que duvidar do progresso vindouro.

12.       Questões sociais

Há necessidade de desenvolver um discurso proativo, no que se refere às questões sociais. É preciso assumir profundo desprezo pelas desigualdades sociais e divisões fictícias da sociedade; podemos e devemos contribuir para a desaparição completa dos preconceitos de gênero, casta, religião, etnias e fronteiras. Como nos mostra o estudo espírita, a pobreza e a miséria são problemas humanos e a solução desta absurda e inaceitável condição social passa pelas mudanças no comportamento e nas instituições humanas.

Obras Póstumas – parte II - Futuro do Espiritismo

O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele reformará a legislação ainda tão frequentemente contrária às leis divinas; retificará os erros da História.

O Livro dos Espíritos, conclusão, item IV

Quando, porém, conseguir a soma de gozos que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificará que não está completa a sua felicidade. Reconhecerá ser esta impossível, sem a segurança nas relações sociais, segurança que somente no progresso moral lhe será dado achar.

O Livro dos Espíritos, conclusão, item VI

É exato que elas [ideias espíritas] se erguem contra os abusos que nascem do orgulho e do egoísmo. Mas, se é certo que desses abusos há quem aproveite, à coletividade humana eles prejudicam. A coletividade, portanto, será favorável a tais ideias, contando-se lhes por adversários sérios apenas os interessados em manter aqueles abusos.

13.       Conhecimento limitado

Na apresentação do conhecimento espírita, é importante libertar-se da pretensão de tudo conhecer e da tentação de responder a todas as questões. Reconhecer a própria ignorância não apenas demonstra modéstia intelectual, mas dá confiabilidade ao discurso. É certo que há questões que o Espiritismo não pode responder de forma absoluta e definitiva. Constatar a incapacidade relativa de nossas faculdades atuais de saber e de compreender demonstra nobreza de caráter.

O Livro dos Médiuns, item 110

Longe estamos de considerar como absoluta e como sendo a última palavra a teoria que apresentamos. Novos estudos sem dúvida a completarão, ou retificarão mais tarde.

14.       O perigo do ufanismo

Nós, espíritas, precisamos nos precatar contra o perigo do ufanismo. Muitos caminhos conduzem a Deus e o melhoramento da humanidade é um processo coletivo movido por forças distintas; o Espiritismo é mais uma destas forças. Acreditar ingenuamente que todos se tornarão espíritas no futuro é desconhecer a diversidade inerente dos seres humanos, nas suas experiências sociais, culturais e religiosas.

O Livro dos Espíritos, item 982

A crença no Espiritismo ajuda o homem a se melhorar [...], mas ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida.

15.       Relacionamento com as ciências e religiões

O Espiritismo, enquanto campo que estuda o ser humano como um ser espiritual, não combate nem substitui as ciências e religiões existentes. Assim, é preciso cuidado ao apresentar o relacionamento do Espiritismo com estes outros movimentos humanos. A Doutrina Espírita tem um objeto e um método próprios de estudo – o Espírito e a mediunidade; assim não deve ser considerada nem “superior” nem “inferior” a outras ciências ou religiões. Pelo contrário, seu objetivo é apresentar conhecimentos que ampliem nosso entendimento sobre nós mesmos e nossa realidade.

O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 1 item 8

A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se.

16.       A diversidade dos espíritas

Naturalmente o Espiritismo é um só, com uma unidade de princípios básicos que são apresentados claramente nas obras de Allan Kardec. No entanto, é preciso reconhecer que há uma diversidade muito grande entre os espíritas. Essa diversidade é natural, considerando as diferenças pessoais, sociais, culturais e intelectuais daqueles que estudam o Espiritismo. Reconhecer e respeitar esta diversidade é fundamental no discurso espírita, como caminho para diminuir as dissenções desnecessárias no movimento. Não se trata de aceitar pontos de vista antidoutrinários, mas de entender as diferentes interpretações (e práticas) dos pontos considerados doutrinários.

 O Livro dos Espíritos, Conclusão, item VII

O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que deles decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos: 1º) os que creem nas manifestações e se limitam a comprová-las; para esses, o Espiritismo e uma ciência experimental; 2º) os que lhe percebem as consequências morais; 3º) os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral.

Conclusão

Certamente as propostas apresentadas não esgotam o tema. Muitas outras questões importantes podem ser levantadas e acreditamos que cada espírita, com a sua própria experiência, tem contribuições a oferecer neste sentido. Além disso, cada proposta poderia ser desenvolvida em várias direções.

Esperamos, no entanto, que estas ideias possam servir de ponto de partida para reflexões por todos que estão na tarefa de apresentar e compartilhar o excelente conhecimento espírita, bem como por todos que se dedicam ao estudo do Espiritismo.

 

  

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita