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por Temi Mary Faccio Simionato

 

Já não é tempo de renovar?


Este Evangelho do Reino será proclamado em toda Terra habitada, para testemunho a todas as nações. E então virá o fim.” (Mateus, 24:14.)


Ao anunciar que “este Evangelho será proclamado”, Jesus esclarecia aos discípulos sobre o contexto difícil em que a suprema Luz da Verdade se revelaria. Poderemos assim entender que o Evangelho será pregado para que as criaturas compreendam e alcancem os fins superiores da vida. O casulo da condição de animalidade será quebrado aos Espíritos encarnados que souberem perseverar. No entanto, ninguém se furtará impune à percentagem de esforço que lhe cabe na obra de aperfeiçoamento próprio.

Muitos desanimam e preferem estacionar, séculos a fio, todavia, os bons trabalhadores que conseguem persistir até atingirem as finalidades divinas do caminho terrestre continuarão em trajetória sublime para alcançarem a perfectibilidade.

Encontramos no Evangelho de Lucas, capítulo 12, versículo 49: “Vim trazer fogo à Terra”. Estas palavras podem induzir-nos, se estivermos invigilantes, aos mais estranhos pensamentos, entretanto, para entendermos melhor é preciso tirar o espírito da letra, buscar o entendimento do verdadeiro significado dela para que sejamos alimentados pelo pão da Vida. Jesus trazia e traz até os dias atuais calor ao Espírito enregelado na indiferença e no vício de séculos incessantes.

O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 23, item 16, esclarece: “(...) Então, quando o campo estiver preparado, Eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas”. Desta forma, os homens mais esclarecidos compreenderão e terá fim a luta fraticida que divide os filhos de um mesmo Deus. Cansados de um combate sem resultado, que arrasta atrás de si somente desolação, os homens reconhecerão onde estão os seus verdadeiros interesses para esse mundo e para o outro. Todos se abrigarão sob a mesma bandeira: a da “caridade”, e as coisas serão restabelecidas sobre a Terra segundo a verdade e os princípios que o Mestre nos trouxe.

Se a manjedoura e a cruz constituem ensinamento inesquecível, muito mais devem representar-nos os exemplos do divino Mestre, no trato com as vicissitudes da vida no Orbe. Pode parecer que as conquistas do verdadeiro Cristianismo ainda sejam remotas, em face das doutrinas imperialistas da atualidade, mas é preciso reconhecer que mais de dois mil anos já giraram sobre a palavra Divina. Mais de dois mil anos em que os homens se estraçalharam em Seu nome, inventando bandeiras de separatividade e destruição. Contudo, o século que passa deve assinalar uma transformação visceral nos departamentos da vida. A dor completará as obras generosas da verdade cristã, isto porque os homens repeliram o amor em suas cogitações de progresso.

Trazendo o assunto para os dias de hoje, vamos compreendendo que as dores vêm talhando, como fazem as ondas do mar nos rochedos, o amortecimento das resistências e do interesse pessoal em relação ao Evangelho redentor. A transição pela qual passa a humanidade intensifica a revisão dos hábitos e viciações herdadas de eras remotas e primitivas, obrigando os homens e suas instituições a profundas mudanças que sinalizam a moral evangélica, em sua essencialidade, como o único caminho a ser percorrido.

Todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram a consolação na fé no futuro e a confiança na justiça de Deus que o Cristo veio nos ensinar. Aquele que não espera nada depois desta existência ou apenas duvida, as aflições se abatem com todo o seu peso e nenhuma esperança lhe suaviza a amargura. Eis o que levou Jesus a dizer: ‘Vinde a mim todos vós que estais fatigados e eu vos aliviarei’ (Mateus, 11:28-30).

Mas, a Boa Nova, expressando boas notícias, não poderia ser proclamada em terra desabitada, por isso, a encarnação é necessária ao progresso moral e intelectual do Espírito. Terra habitada, deste modo, representa o campo mental de cada um de nós, com os valores que já agregamos e que, por si só, não nos bastam. O trabalhador ciente das suas responsabilidades não se desvia dos caminhos retos. Há muita aflição e amargura nas oficinas do aperfeiçoamento terrestre, isso porque, antes de tudo, apenas cuidamos dos ganhos materiais e imediatistas. Enquanto isso ocorre, intensificam-se projetos e experimentos, mas falta sempre a edificação justa e necessária. A cada nova existência de volta à matéria, entra o Espírito com o cabedal adquirido nas encarnações anteriores, em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Assim, cada reencarnação é um passo avante no caminho do progresso.

Jesus falou à alma imortal. Provou não ser necessária a evidência social ou econômica para o serviço de utilidade a Deus.  Bastarão os princípios edificantes e simples, pois o portador da Boa Vontade sabe que foi com esse material que o Cristo iniciou a remodelação da vida na Terra.

Cumprir-se-á o objetivo supremo da evolução: os homens se regerão pelo senso moral, que é o coroamento de todas as faculdades em desenvolvimento, através das reencarnações. Todavia, a luta é sempre inevitável ao desenvolvimento do Espírito, pois ainda estamos longe da perfeição. As grandes partidas coletivas que estamos vendo não têm por único fim ativar as saídas do orbe terrestre; têm igualmente o de transformar mais rapidamente o Espírito da massa, livrando-a, com partidas coletivas, das más influências e o de dar maior ascendente a novas ideias. Por muitos estarem, apesar das imperfeiçoes, maduros para a transformação, é que muitos partem, a fim de apenas se retemperarem em fonte mais pura. Uma estada no mundo dos Espíritos bastará para lhes descerrar os olhos, por isso que aí veem o que não podiam ver na Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista poderão voltar com ideias inatas de fé, benevolência e liberdade.

O apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso, na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 15, versículos 28 a 54, aclara: “Nem todos dormiremos”, ou seja, nem todas as criaturas caminharão a esmo, nas regiões mentais da semi-inconsciência, nem todas serão arrebatadas às esferas purgatoriais obscuras, e ainda que tais ocorrências sucedam, ouçamos o abnegado amigo do Evangelho, quando assevera: “Mas todos seremos transformados”. (I Coríntios, 15:51.)

Já vivemos vidas incontáveis e trazemos na essência do Espírito as conquistas alcançadas em longo percurso de experiências na ronda de milênios. Nossa mente já possui, na caverna da memória recursos enciclopédicos da cultura de todos os grandes centros do Orbe. Nosso perispírito já se revestiu com porções da matéria de todos os continentes. Nossa voz já expressou o bem e o mal em todos os idiomas. Nossos ouvidos já registraram todos os tipos de sons e linguagens existentes no mundo. Nossa pele, em cores diversas, já foi beijada pelo sol de todas as latitudes. Nossa emoção já passou por todos os transes possíveis de renascimentos e mortes.

Pois bem, já não é tempo de renovar? Sem renovação, que vale a vida humana? Sejamos, pois, a labareda da fé renovadora, suscetível de purificarmos o sentimento e soerguer-nos à prática da caridade genuína, a fim de que possamos penetrar, como filhos de Deus, o santuário de nossa sublimação para a divina imortalidade.

 

Bibliografia:

KARDEC, Allan - O Evangelho segundo O Espiritismo - 365ª edição – Editora IDE – Araras/SP - capítulo 6, item 2 – 2009.

XAVIER, Francisco, Cândido – Pão Nosso - ditado pelo Espírito Emmanuel - 29ª edição – Editora FEB – Brasília/DF – lições 28 e 36 – 2010.

XAVIER, Francisco, Cândido - A Caminho da Luz – ditado pelo Espírito Emmanuel - 38ª edição – Editora FEB – Brasília/DF - capítulo 12, subtítulo A Palavra Divina – 2013.

Idem - Caminho, Verdade e Vida – ditado pelo Espírito Emmanuel -28ª edição – Editora FEB – Brasília/DF - capítulo 134 – 2011.

KARDEC, Allan - A Gênese - 28ª edição – Editora FEB – Brasília/DF – capítulo 3, item 24 e capítulo 18, itens 31 e 32 - 1985.

GOMES, Wagner - O Evangelho por dentro – ditado pelo Espírito Honório Abreu – 1ª edição – Editora Grupo Espírita da Prece – Vila Ondina/MG - lição 43 – 2016.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita