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por Teresa Cristina M. Malburg

 

Um sorriso (*) e o plano perfeito de Deus 


“Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo.” 
(**) 


Era primeiro de julho de 2021, estava com a Isabel no colo, a neta de apenas 4 meses, corajosa, não se importou de chegar durante a pandemia. Eu conversava com ela, do jeito que as avós aprendem a fazer na intimidade com os seus pequenos. Falava sobre o Carlinhos, o avô que desencarnara antes de sua chegada, e sobre a vida dos Anjos, quando perguntei a ela (e a mim mesma) se teria conhecido o avô, lá no mundo espiritual. A cada comentário ou pergunta, Bebel me respondia com um sorriso. Aprendeu muito cedo e, desde então, vem nos presenteando com seus sorrisos iluminados. 

Naquela tarde eu estava especialmente conectada ao Carlinhos, meu companheiro de 50 anos, que se despedira de mim e dos nossos três filhos, deixando como último gesto o seu doce e encantador sorriso. E, então, num relance, compreendi que a minha neta sorria para mim como ele fazia, trazendo de volta, no aqui e agora desta encarnação, o mesmo gesto - o sorriso generoso de que tanto sentimos saudade. 

Como consegui enxergar para além do visível? Allan Kardec, professor e pesquisador francês, foi quem ampliou minha visão, tornando-me capaz de reconhecer no sorriso da Isabel uma mensagem espiritual. Entrelaçadas à beleza e doçura daqueles sorrisos estavam as ideias consoladoras da Doutrina Espírita: a imortalidade da alma, a existência da comunicação entre o mundo material e o espiritual e, também, Jesus, o Mestre sábio e paciente que nos prometeu o Reino de Deus. Um Reino que se faz visível e alcançável através da dádiva da reencarnação. Nascer, morrer, nascer de novo e progredir sempre. O plano perfeito de Deus, pensei. E emocionada recebi a mensagem amorosa que o Carlinhos me enviara. 

Foi em 2018 que conheci Kardec, quando buscava consolo e entendimento a respeito do sofrimento, do destino e da dor humana.  No atendimento fraterno, na Casa Rita de Cássia (Leblon,RJ), ouvi frases que me marcaram: “a doença e o sofrimento do seu marido têm uma razão de ser, são parte da história de suas vidas pregressas. Não se angustie em demasia” e, completou me dizendo, “confia e segue, vocês nunca estarão sós. Leia, estude, assista às reuniões públicas e faça o tratamento espiritual com os passes”, me sugeriu. 

Novata no Espiritismo, segui os conselhos, mas foram muitos meses, páginas e palestras depois, até que tudo fizesse sentido. A reencarnação sucessiva e a Lei do Progresso me trouxeram o primeiro consolo, pacificaram a minha alma e me encorajaram a enfrentar o imenso sofrimento que minha família vivenciava. Um ano se passou e o Carlinhos desencarnou. Alívio misturado à profunda dor e tristeza. Em meio às lágrimas eu conseguia imaginá-lo em sua nova vida no plano espiritual, andando sem bengalas, livre das dores da artrite que o acompanharam desde os 13 anos e sem as limitações impostas pelos tumores cerebrais. Eu já havia entendido que a morte é uma separação temporária. E que somos cercados por uma espiritualidade amorosa, que a cada encarnação nos intui, apoia e ilumina. Eu não podia vê-los, mas ao compreender as leis divinas e confiar na sua infinita bondade e misericórdia comecei a pressenti-los e não mais me senti só. 

Sem compreender é impossível aceitar, aprendi. Toda criação de Deus é perfeita, útil e boa. Assim é com as dores e sofrimentos terrenos. Mas, sob a ótica da lógica material, Carlinhos parecia ter sofrido uma injustiça: uma doença limitante e dolorosa desde a adolescência, seguida por um câncer cerebral e o desencarne. Como poderia ser o entendimento das aflições humanas sem acreditar na vida futura, sem crer em um Deus supremo de inteligência com infinita bondade e justiça, que oferece aos homens ilimitadas chances de aprender e evoluir através da reencarnação? E mais, como entender as grandes desigualdades que existem no mundo, as grandes dificuldades e os grandes problemas sociais da humanidade? Essas são questões inexplicáveis pela lógica estreita da materialidade que entende nossa vida atual como sendo única. Os pilares do Espiritismo são a chave para a compreensão das vicissitudes da vida. Unindo Filosofia, Ciência e Religião, a obra de Kardec traz a compreensão que as dores que enfrentamos hoje são necessárias ao nosso desenvolvimento espiritual e também compromissos que assumimos em vidas passadas. 

O caminho para a construção do conhecimento da Doutrina dos Espíritos não nos é dado de pronto quando chegamos em uma Casa Espírita. Mas, por que não pavimentar esse caminho de modo a facilitar a acessibilidade para os “calouros” no Espiritismo? 

Já em 2021, certo dia abri minha caixa postal e lá encontrei uma mensagem do Formiga. Meu mestre, aquele que me iniciou e orientou no campo da Microbiologia, com o objetivo de formar uma cientista. Na época, com seu jeito sério, agravado pelo bigode negro, se transformou em um amigo e um apoio importante.  

Nada acontece por acaso. Reencontrei-o justo quando acabara de perder para a Covid outra professora notável e grande incentivadora na Psicopedagogia. Ela um dia me disse: “você agora é uma terapeuta”. Formiga me supervisionou e estimulou a publicar artigos científicos, antes mesmo de me graduar. Fiquei grata a Deus e à espiritualidade por esse reencontro.  

Relatei ao meu amigo Formiga que o Carlinhos havia desencarnado em 2019, o processo de sua doença, um câncer no cérebro, minha conversão ao Espiritismo e as mudanças internas que haviam se operado em mim, e ele, do seu jeito simples, escreveu os Indrisos – Trigêmeos (1) e os enviou em meio a outros que já escrevera. Não me avisou, paciente, apenas esperou. Emocionei-me com a homenagem que fez ao meu marido.  

Tenho clareza de que, planejado pelo plano superior, fui conduzida a esse reencontro. E, agora, voltei a me sentir aprendiz, de volta ao abraço amigo, quando ele me escreveu: “os reencontros também são programados; quando o aprendiz está pronto a tarefa aparece”. E que tarefa! Escrever um artigo para ajudar na divulgação do Consolador Prometido. 

Sou caloura ainda, mas fui convidada a dar esse passo e cumprir a tarefa, ou melhor, o desafio. Lembrei-me do tal artigo publicado (2) numa revista médica nos anos oitenta, o qual “sofri” muito para escrever, pois não confiava em mim mesma. Mas ele confiava e isso bastou. “Você terá ajuda espiritual”, ele me disse, provavelmente já imaginando o quanto seria difícil.  

Desafio aceito, juntei-me a ele no trabalho de aplainar e pavimentar o caminho da construção do conhecimento e divulgação da Doutrina para os recém-chegados. Para isso, Formiga vem escrevendo indrisos, uma nova teoria literária na forma de um poema com oito versos. Organizou-os em uma sequência notável, através da qual pretende despertar a curiosidade sobre o Espiritismo, abordando de forma leve, poética e objetiva, os seus conceitos fundamentais. Os indrisos aqui citados compõem esse caminho preparado para guiar os novatos no Espiritismo em meio aos doces, profundos e consoladores ensinos da Terceira Revelação. Formiga chamou-os de Estudos Resumidos, objetivando a formação do “Homem de Bem” e os relacionou na publicação dos indrisos, Enfatizando e Diminuto. (3)

Decidi que relataria a minha experiência pessoal, conectando-a aos Estudos do Formiga, juntando assim emoção e conhecimento sintetizado. Precisei da ajuda da espiritualidade, que veio em meu socorro para me guiar e orientar quando eu não encontrava o caminho conclusivo. Ela chegou através do culto do lar virtual que assisto todas as 6ª feiras. O tema era uma lição de Kardec sobre a justiça divina, as aflições terrenas e, em especial, dos aflitos que, como o Carlinhos, não murmuram. (4) São aqueles aflitos que recebem o sofrimento, as dificuldades e as tribulações como benditas, como honrosas oportunidades de aprender com o Cristo e de progredir. Essa foi a lição que aprendi com meu marido durante os 42 anos de nosso casamento. Ele nunca se queixava de sua doença, dando um testemunho diário de resignação e resiliência para meus filhos e para mim.  

Carlinhos continuou nos ensinando a cada dia que o visitávamos no leito do hospital - nos recebia com um sorriso. (5) Esse era o único movimento que seu cérebro continuava sendo capaz de coordenar, certamente com a ajuda dos Espíritos de bondade que sempre estiveram ao seu lado. Carlos foi o sal da terra (**). Um dia uma convulsão tirou sua consciência e ele desencarnou. Havia cumprido sua missão de forma brilhante. (6) 

Exatos dois anos se passaram e dias antes daquela tarde do início de julho, em minhas preces, eu pedira ao plano espiritual uma comunicação com meu marido. “A resposta sempre vem”, me ensinaram na Casa Espírita. E ela veio: os sorrisos alegres e vibrantes da Isabel. Graças à comunicabilidade, minha prece chegou ao mundo espiritual e o Carlinhos me enviou a mais bela resposta que eu poderia receber aqui e agora, encarnada no mundo material. Nossa neta Isabel e seu sorriso revelador da perfeição do processo da Criação de Deus, da Sua justiça e do Seu amor infinito por Suas criaturas.     

Bem-vindos ao Espiritismo. 

 

SAIBA MAIS:  

(*O sorriso na dor. clique aqui-1

Depoimento Esposa. Sobre resiliência e espiritualidade. clique aqui-2

(**) Sal da Terra (Evangelho de Mateus 5,13-16) - clique aqui-3

(1) Paciente terminal/ Indrisos – Trigêmeos 

clique aqui-4

(2) Anais Bras. Dermatol. Vol. 58. Número 1. 198. 

(3) O Homem de BemIndriso - Enfatizando 

clique aqui-5

Diminuto. clique aqui-6

(4)  Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 5. clique aqui-7

(5)  A Magia do Sorriso  clique aqui-8

(6) Paciente terminal, espiritualizado, hospitalizado.  clique aqui-9


Teresa Cristina M. Malburg é Biomédica e Psicopedagoga


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita