Internacional
por Isabel Porras

Ano 15 - N° 738 - 12 de Setembro de 2021

Faz 133 anos que se realizou o 1º Congresso Espírita Internacional


O congresso, de importância marcante na história do Espiritismo, ocorreu numa semana como hoje - de 8 a 13 de setembro de 1888 – na cidade de Barcelona, Espanha. E nunca será demais lembrar que a doutrina espírita, cujo marco inicial foi o lançamento d´O Livro dos Espíritos em 18/4/1857, contava pouco mais de 31 anos desde o seu advento.

Organizado pela Federação Espírita dos Vallés e pelo Centro de Estudos Psicológicos de Barcelona, a "Alma Mater" do evento foi o Visconde de Torres Solanot, uma grande figura do Espiritismo Hispânico, um homem que uniu em uma feliz comunhão uma intelectualidade de primeira ordem e grandes dons como organizador.

O local escolhido foi o Salón Eslava, localizado na Ronda de São Pedro, única opção disponível na ocasião em face da aglomeração causada pela Exposição Universal realizada na mesma época em Barcelona.


Comitê organizador

O comitê foi composto pelas seguintes pessoas:

Presidente: Visconde de Torres Solanot.

Presidente honorário: José María Fernández Colavida.

Secretário: Luis P. Romeu.

Membros: Facundo Usich, Miguel Vives y Vives, Antonio Almasqué, Valentín Vila, Fermín Sánchez, Eduardo Dalmau, Sebastián Roquet, Amalia Domingo Soler, Augusto Vives, Miguel Escuder, Modesto Casanovas.

A presença da grande médium, jornalista e escritora Amalia Domingo Soler foi muito importante, porque era incomum para as mulheres daquela
época poderem destacar-se nos eventos espíritas realizados na Europa. Ela foi a fundadora e diretora da Revista La Luz del Porvenir, em que havia publicado, de 1880 a 1884, as Memórias do Padre Germano, algum tempo depois reunidas em um livro que se tornou um dos clássicos da literatura espírita mundial.


Organizações representadas

Setenta sociedades espanholas, dezoito sociedades sul-americanas, cento e vinte e quatro sociedades francesas e duas federações belgas: a União Espírita de Liège e os Grupos Belgas da Flandres, e três outras sociedades.

Além delas, participaram a Academia Internacional de Estudos Espiritualistas e Magnéticos de Roma, representando todas as sociedades italianas, a Sociedade Espiritualista de Bucareste e a Sociedade Espiritualista de Odessa.


Delegações presentes

O Congresso foi composto por 52 delegados espanhóis, 8 delegados sul-americanos, 3 delegados franceses e 4 delegados italianos, tendo como presidente honorário José María Fernández Colavida.

A imprensa da época fez eco ao evento e uma das reportagens mais extensas sobre o congresso foi publicada em La Vanguardia, em 10 de setembro do mesmo ano. Registre-se que em todas as noites o salão, com capacidade para mais de duas mil pessoas, ficou completamente cheio.


A fala de Torres Solanot

Eis um pequeno trecho da alocução feita na oportunidade por Torres Solanot, que presidiu brilhantemente o congresso:

“Nosso Primeiro Congresso Internacional, portanto, será registrado como uma grande etapa, não apenas nos anais do Espiritismo ou Espiritismo Moderno, mas nos fatos da história do desenvolvimento humano, para o qual contribuirá mais do que qualquer outra ideia filosófica ou religiosa, aquela que tem como lema fundamental: Rumo a Deus pelo Amor e pela Ciência."


Discurso de Miguel Vives y Vives

Miguel Vives y Vives (1842-1906), notável médium espanhol de Tarrasa (Barcelona), autor do libro “Guia prático do espírita”, publicado no Brasil com o título O Tesouro dos Espíritas, graças à tradução feita por J. Herculano Pires, foi também personagem marcante no congresso.

É dele o discurso abaixo, pronunciado no importante evento:

“Senhores da mesa, senhores delegados:

Antes de nenhuma outra coisa, seja-me permitido manifestar a minha gratidão a Deus, por ter criado este espaço infinito, cheio de sóis, de mundos, de satélites, de cometas e de maravilhas sem fim, que com a sua ordem, harmonia e previsão, constituem a expressão mais viva do grande poder do seu Criador e a admiração de todos os seres pensadores que povoam o Universo. Seja-me permitido manifestar a Ele a minha gratidão por esse eu que sinto dentro de mim mesmo, certo de que deverá progredir eternamente e encontrar novas manhãs, novos dias, novos espaços, novas famílias, novos progressos e novas virtudes, e que, seguindo pelo caminho do infinito, aprimorará todas as faculdades, até chegar a um grau elevadíssimo de perfeição; seja-me permitido ainda admirar esse poder divino, poder que vejo manifestado no ato que estamos realizando.

Ah, senhores delegados! Há muitos anos, quando saudastes a revelação e pronunciastes a palavra Espiritismo, o mundo vos recebeu com uma gargalhada; e vendo que não conseguia vos derrubar, quando voltastes a pronunciar a palavra Espiritismo, então vos lançaram ao ridículo e ao escárnio; e vendo que persistíeis, levantou-se contra vós uma perseguição moral, que vos divorciou da sociedade e da família, até o ponto de vos tachar de loucos. Mas a opinião geral, tão poderosa quando trata de quebrar grilhões e estabelecer princípios de liberdade; quando se opõe à lei do progresso, quando se opõe à palavra de Deus, primeiro se agita, mais tarde cala-se, e por último, deixa-se convencer, e aquilo que ao princípio fora uma grande loucura, é então uma suprema verdade que vem a todos regenerar.

Cumpri um dever de gratidão ao meu Deus, ao meu Pai, ao meu Tudo, agora devo cumprir com outro dever de gratidão aos meus irmãos. Estou vendo, Srs. delegados, ao redor, insignes notabilidades do Espiritismo; estou vendo os filhos da França, representados pela pessoa ilustradíssima de Mr. Leymarie; eu o saúdo, e a todos os seus correligionários; saúdo os filhos da pátria de Víctor Hugo, de Thiers e de Gambetta, aos filhos dessa pátria, que depois de ter sofrido grandes catástrofes e grandes evoluções, içaram a sua liberdade ao pedestal das liberdades europeias e hoje são a esperança de todos os oprimidos do velho mundo. Saúdo os filhos da pátria de Bellini, os filhos dessa terra que tem enchido o mundo com a sua arte e a sua harmonia; os filhos dessa pátria que sofreram tantos séculos sob o poder teocrático, e que viram a liberdade justiçada pela sentença de Tonetti, porém mais tarde souberam realizar a sua unidade, e como símbolo do livre-pensamento, erigiram a estátua de Giordano Bruno diante do mesmo Capitólio.”

 

Nota da Redação:

O discurso de Miguel Vives y Vives está reproduzido no blog do confrade Bruno Tavares. Para acessar, clique aqui

 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita