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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

Irmãos, é preciso coragem!


Passados cinquenta anos da telenovela “Irmãos Coragem”, exibida pela TV Globo, de junho de 1970 a julho de 1971, escrita pela talentosa Janete Clair e com a trilha de abertura interpretada pelo também saudoso Jair Rodrigues, resgatamos essa peça da dramaturgia para trazer algumas reflexões sobre o texto “A coragem da fé”, Itens 13 a 16 do capítulo XXIV, de O Evangelho segundo o Espiritismo, que se ancora nestes trechos evangélicos:

 

13. Aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, Eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos céus; e aquele que me renegar diante dos homens, também Eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus. (Mateus, 10:32 e 33.)

14. Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos. (Lucas, 9:26.)


A interpretação clássica desse trecho do Evangelho remete aos cristãos, que se mantinham fiéis à fé diante da perseguição, nos circos romanos ou na crucificação, situação derivada de lutas pautadas por diferenças religiosas. Uma situação que se repete ainda hoje, com perseguições de diversas ordens, algumas, inclusive, patrocinadas pelos mesmos cristãos.

Esse trecho pode gerar interpretações curiosas, se levadas de forma isolada em relação ao resto da mensagem do Cristo, como se Jesus necessitasse de defensores incontestes da condição de seus seguidores frente a terceiros, ignorando que se pode ter uma visão mais aprofundada dessa questão, em especial na seara espírita.

Cabe uma outra abordagem, não das dificuldades exteriores que nos hostilizam na defesa de nossa fé, mas das montanhas interiores que precisamos atravessar para nos mantermos coerentes com a nossa crença. Dentro de nós habita um homem velho, arraigado a um passado nada glorioso, e que se impõe como a grande limitação ao progresso. Como dizia Paulo de Tarso: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico”.

As dificuldades interiores nos demandam testemunhos diferentes dos circos e seus leões. Testemunhos cotidianos, não só de palavras, mas de atos, que refletem mudanças profundas no nível espiritual. Mudanças que são postas à prova em decisões que dizem muito de nós, do que somos e do que desejamos ser nessa reencarnação. Ações que convencem ou não à nuvem de testemunhas que nos acompanha.

Para vencer esses leões interiores, é preciso entender as nossas fraquezas e limitações. Pedro negou Jesus três vezes. Somos pequenos, e vamos fracassar várias vezes. Mas, também somos grandes às vezes, e avançaremos diante dessas dificuldades do aprimoramento espiritual. Somos humanos, Espíritos em evolução, e quando a perfeição é grande, a sombra do embuste se faz. Fazemos a nossa caminhada sozinhos, mas com a ajuda dos que nos cercam, e ajudando os que nos acompanham.

Aí, chegamos à coragem necessária que embala as primeiras linhas desse texto. A coragem da fé é importante nas lutas exteriores, nas quais precisamos nos posicionar, com personalidade, em relação ao que acreditamos, mas atentos para não tornar um fanatismo.

Entretanto, a coragem de esposar nossas convicções doutrinárias nessa agenda renovadora trazida pelo Espiritismo, com valores como o perdão e a caridade, demanda coragem para uma luta silenciosa travada por nós contra nós mesmos, convencendo aquele homem velho de roupa nova, em que ele precisa se modificar.

Essa coragem nos faz abraçar as oportunidades benditas que somos contemplados na atual reencarnação, e fazer delas instrumentos de nossa evolução real. Essa coragem nos faz romper a ideia de sermos apenas “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície”, como nos alertou Jesus, para podermos avançar realmente sobre as nossas imperfeições, dentro do possível.

E de forma inspiradora para essa coragem cotidiana, necessitamos viver no mundo sem ser do mundo. Assim é um trecho da canção de abertura da novela Irmãos Coragem: “Manhã, despontando lá fora. Manhã, já é sol, já é hora. E os campos se abriram em flor. E é preciso coragem. Que a vida é viagem. Destino do amor”.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita