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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Por que não elogiar?


A doutrina espírita nos previne – com acerto, diga-se – a evitar os elogios que poderiam, eventualmente, nos desviar da missão abraçada. De fato, tal ponderação faz sentido tendo-se em vista que não poucos se perdem completamente ao dar azo aos arroubos do ego (terrível inimigo do bom senso e do equilíbrio humanos). Quantos médiuns, expositores e dirigentes de centros já tombaram dramaticamente sob o acicate do orgulho e da vaidade? Certamente muitos. Nesse sentido, é indiscutível que Espíritos malévolos, profundos conhecedores das nossas vulnerabilidades, exploram com indiscutível proficiência nossas fraquezas. Por isso, é preciso se precatar contra tais investidas das trevas pela via da conduta humilde e modesta. Além disso, é mais prudente deixar o mérito das realizações à espiritualidade maior, que, cumpre ressaltar, nos guia nas tarefas redentoras às quais nos propusemos a realizar. 

Se tais cuidados são vitais para o enfrentamento sadio das nossas obrigações espirituais, nada nos impede, por outro lado, de aplicarmos o estimulante recurso do elogio (sincero) em outros contextos. O coração humano, convenhamos, anda muito árido e a insensibilidade emocional grassa praticamente em todas as latitudes do planeta. De fato, muitos artigos jornalísticos e acadêmicos, sem falar nos comentários cotidianos que coletamos aqui e acolá, revelam essa face obscura que tomou conta dos ambientes terrenos.

Já não bastassem as mazelas geradas pela pandemia, bem como as constantes disrupções em nossa sociedade, que tornam, a propósito, a vida desnecessariamente mais complicada, ainda temos de conviver com a secura predominante no coração dos indivíduos. Com efeito, não tem cabimento destilar frieza sentimental em nossas interações e conexões diuturnas. Ao contrário. É pertinente recordar que a hora presente é altamente apropriada à expansão dos bons sentimentos, da solidariedade, do espírito de fraternidade e das emoções positivas. Todos nós temos condições de externar em profusão esses atributos do Espírito. Então, deixemo-los brotar de dentro de nós naturalmente no contato com os outros.

Pensando assim, creio que a prática do elogio possa ser empregada para tal finalidade. Mais ainda, o recurso do elogio pode ajudar a dissipar as asperezas que eventualmente guardamos no imo do ser devido a inúmeros fatores existenciais. Ademais, a alegria de ser apreciado por outrem sempre nos faz bem. Quem não gosta de ser ressaltado? Então usemos a nossa inteligência emocional para levantar o moral dos companheiros(as) de estrada nesse momento crítico. Usemos o elogio para ajudar as pessoas a apagar as lembranças tristes advindas das perdas irreparáveis.

Miremos no que os indivíduos têm de melhor e os exaltemos. Eles, tanto quanto nós, podem estar precisando de algo que os faça se sentir mais acolhidos. Há tanta coisa boa a observar nesse mundo; no entanto, damos muita atenção às negativas. Assim sendo, atilemos nossa capacidade de olhar para ressaltar o que cada um tem de mais apreciável. Um pequeno e ínfimo gesto nessa direção pode animar a alma de alguém em silencioso desespero ou dor. Lembremos que Jesus sempre elogiava os seus seguidores quando esses demonstravam entendimento às suas imorredouras lições.

É inegável que há muita coisa nos puxando literalmente para baixo na atualidade. Notem quantas notícias, informações e conversas depreciativas são produzidas diariamente. A impressão que causam é desesperadora, uma vez que disseminam apenas pessimismo e desesperança. Diante disso, poder-se-ia indagar se o mundo e a vida só se resumem em tais coisas? Absolutamente não. É verdade que estamos sob uma intensa experiência expiatória de caráter coletivo. As imagens da miséria e da violência são verdadeiras e não podemos apagá-las de nossa civilização num passe de mágica.

Mas, felizmente, há algo mais acalentador que não tem sido devidamente valorizado. Ou seja, a nossa incrível capacidade de recuperação e sobrevivência. Por que, então, não elogiamos os fortes, os misericordiosos, os justos, as medidas acertadas e os indivíduos de boa vontade? É hora de acendermos a luz dentro de nós para avançarmos. Usemos, enfim, as palavras de maneira elogiosa para contribuir para um quadro melhor.


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita