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por José Lucas

 

Allan Kardec e a pandemia

A Humanidade vive uma pandemia que já ceifou mais de 4 milhões de pessoas. Como sempre existem teorias da conspiração, dúvidas, desconfianças, erros de análise e de ação por parte dos dirigentes, para além dos interesses econômicos em que alguns ganham milhões com a desgraça alheia. Mas esses argumentos servem para se negar uma realidade, fatos, números? E os espíritas são diferentes ou não?

A Humanidade passa por uma verdadeira revolução material e de ordem ético-moral, que, por sintonia, acarreta auto-obsessões e obsessões de índole espiritual, por vezes verdadeiras infestações sobre países e regiões do globo terrestre.

Quando era suposto a Humanidade dar as mãos, ser mais cordata, colaboradora, fraterna, durante uma pandemia que nos atingiu e vai atingir mais um ou dois anos, nós, seres humanos, optamos por ações violentas físicas, verbais, mentais, tudo porque estamos a viver muitas contrariedades e dificuldades.

Nesse contexto de desarmonia mental, foge a amizade, zangam-se as comadres e instalam-se obsessões espirituais cruéis, colocando uns contra os outros (in “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec).

Uma história conta o caso de uma mãe que foi assistir ao juramento de bandeira do seu filho e ficou de tal maneira obcecada pela sua vaidade materna, que dizia, posteriormente, às amigas, que o filho era o único que ia a marchar bem, no pelotão de 30 pessoas, todos os outros (que iam com o passo acertado) iam mal…

Numa época em que a medicina é verdadeira bênção divina, em que a tecnologia existente permite comunicações e partilha de dados a distância, em segundos, conseguiu-se em tempo récorde a criação de vacinas contra a COVID-19.

Várias estratégias foram montadas, medidas de prevenção, umas acertadas outras disparatadas, mas, como se costuma dizer na gíria militar, “em tempo de guerra não se limpam armas”, isto é, temos de nos focar no essencial: o bem comum de toda a Humanidade e salvar o maior número de vidas.

Embora os inúmeros erros de análise e de ação ocorridos pelo mundo inteiro, embora as questões que se venham a colocar no futuro para serem corrigidas, ninguém no seu são juízo pode, em abono da verdade, negar que as vacinas contra a COVID-19 tiveram um impacto brutal na diminuição do número de mortes com esta doença.

E os espíritas como pensam?

Infelizmente pensamos como os outros, ignorando os nossos conhecimentos e convicções, baseados na experiência do quotidiano. Preferimos, assim, opiniões avulsas, ora injetadas por “hackers” russos (entre outros) nas redes sociais, procurando desestabilizar a Europa para daí tirarem dividendos políticos, ora inventados por defensores das mais estúpidas teorias da conspiração que, em nada, abonam a favor do bom senso e da inteligência do ser humano.

Allan Kardec se refere na Revista Espírita de Novembro de 1865 à existência de uma pandemia de cólera. Entre 1845 e 1860 ceifou milhares de vidas no mundo. Segundo alguns historiadores, essa pandemia causou o maior número de mortes no século XIX.

Allan Kardec, pedagogicamente, afirmou que o ser espírita não nos livra da pandemia, mas o conhecimento espírita aumenta a força moral do espírita, o que se repercute no sistema imunológico do Homem.

Kardec comentou a necessidade da serenidade, da oração, da mudança de hábitos, do não ter medo e seguirmos as medidas sanitárias decretadas pelo poder público, pois é dever do espírita prolongar a vida, não por medo da morte ou apego, mas pelo desejo de aproveitar bem o tempo para progredir intelectual e moralmente.

Kardec em “O Livro dos Espíritos” diz que o egoísmo é a raiz de todos os males, todos os defeitos.

Quando se diz, sem qualquer conhecimento científico, baseado em conversas de pé de orelha ou das redes sociais que temos o direito à opinião, nos esquecemos de que, como espíritas, temos mais obrigações que os demais cidadãos que desconhecem a imortalidade, a reencarnação e a lei de causa e efeito.

Não tem o espírita o conhecimento da Lei de Sociedade?

Não fazem parte da convicção espírita a caridade, a solidariedade, a colaboração, a fraternidade, e fazer ao próximo o que desejamos para nós?

Não devíamos, nós, espíritas, pensar em primeiro lugar no bem comum ao invés de pensarmos em nós mesmos?

Não estará a imunidade de grupo em nível mundial à frente da postura mesquinha e egoísta de ficar à espera de ver se os outros morrem, ou não, para decidir apanhar a vacina que tem salvo milhões de vida, apesar dos mais de 4 milhões mortos?

É que o egoísmo não se coloca só ao nível pessoal, também existe o egoísmo social.

E nós, espíritas, como estamos?


 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita