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por Ricardo Orestes Forni

 

O que não deve faltar


“Quantos pães tendes?” – Jesus.  (Marcos, 8:5)


Vou completar a pergunta do título: o que não deve faltar quando pedimos algo a Deus por meio da oração?

A fé? Claro que sim! Mas existem duas coisas mais que também não devem faltar. Você saberia dizer?

Quando Jesus terminou a sua fala a uma multidão considerável no Sermão da montanha, a população muito grande que o ouvira estava faminta. Essa necessidade foi levada até Ele pelos apóstolos. É interessante observarmos mais atentamente a resposta de Jesus colocada abaixo do título desse artigo: quantos pães tendes? Ou seja, Ele não apanhou um punhado de pedras e transformou em pães e peixes para alimentar os famintos. Não! Indagou o que os seus discípulos tinham a oferecer para que Ele trabalhasse sobre alguma coisa ofertada por seus seguidores, mesmo que fosse muito pouco como realmente foram os raros pães e peixes. A partir desse recurso apresentado pelos seus companheiros de apostolado, Jesus multiplica o recurso pequeno, fazendo-o suficiente para atender a um número elevado de pessoas.

Desse posicionamento do Mestre podemos inferir que quando pedimos algo a Deus, precisamos demonstrar que a parte que nos cabe fazer foi feita. Esperar que “tudo caia do céu” como um maná é uma concepção antiga, anterior aos ensinamentos de Jesus. Aliás, o que caiu realmente do céu não foi o alimento para o povo que atravessava as agruras do deserto, mas a inspiração a Moisés para onde caminhar naquela solidão extrema sem nenhum recurso para sua orientação, a não ser exatamente o socorro da inspiração que orientou seus passos em direção ao alimento que estava disponível sobre o solo por onde jornadeava.

E a outra coisa que não deve faltar quando pedimos algo é a nossa colaboração em favor daqueles a quem podemos ajudar de alguma maneira, mesmo que esse auxílio seja muito pequenino. Quando nos colocamos com a disposição de mitigar a dor alheia, adquirimos créditos no banco da Providência Divina. E esses créditos falarão em nosso favor na hora das necessidades que tivermos.

Quem ensina isso muito bem é Emmanuel no livro Palavras de Vida Eterna, no capítulo 9: Não vale rogar as concessões do Céu, alongando mãos vazias, com palavras brilhantes e comoventes, mas sim pedir a proteção de que carecemos, apresentando, em nosso favor, as possibilidades ainda que diminutas de nosso esforço próprio.

E continua ele: Não adianta solicitar as bênçãos do pão imobilizando os braços no gelo da preguiça, como é de todo impróprio rogar os talentos do amor, calcinando o coração no fogo do ódio.

Quantas pessoas não rogam pela saúde do corpo e continuam a comer exageradamente? A beber e a fumar? A repetir noites maldormidas?

Quantas não rogam pela paz no lar, mas são verdadeiras bombas de pavio curto sempre aceso para detonar a discussão e implantar o desequilíbrio nos familiares?

Quantas não reclamam de melhores recursos financeiros, mas esperam de braços cruzados a ajuda do Alto sem ter a menor iniciativa de procurar um emprego melhor?

Buscam um milagre de Deus que não tenha nenhuma cota de trabalho próprio. A Providência Divina não entende as coisas dessa maneira. Ecoará em nossas consciências o quantos pães tendes na hora em que suplicarmos por socorro.

Quanto à segunda condição que envolve o nosso trabalho em favor daqueles que necessitam mais do que nós mesmos, encontramos a seguinte colocação de Emmanuel nesse mesmo capítulo: Não te esqueças, pois, de que no auxílio aos outros não prescindirá o Senhor do auxílio, pequenino embora, que deve encontrar em ti.

Tenho a impressão de que essa condição é a mais difícil de ser cumprida. Acomodados nos momentos de tranquilidade passageiros, julgamos que o barco da nossa existência sempre seguirá por águas calmas sem enfrentar as tempestades que se levantam de uma hora para a outra na vida de qualquer Espírito reencarnado.

Ao lado da fé que a Deus nada é impossível como diz o ditado popular, verifiquemos também se temos feito a parte que nos é possível e necessário fazer para que o aparentemente impossível se torne realidade em nossos momentos de necessidades maiores.

Consultemos nossas consciências para analisar quantos pães temos oferecido à Providência Divina em nossos momentos de necessidades maiores.




 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita