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por Hugo Alvarenga Novaes

 

Ressurreição do Espírito ou simplesmente Reencarnação

Muitos espíritas famosos defendem a tese da RESSURREIÇÃO DO ESPÍRITO, ou seja, que esta seria o mesmo que dizer REENCARNAÇÃO.

Ora! A nosso ver “não existe” o chamado primeiro termo narrado acima, o que aprendemos e “afirmamos com toda a certeza do mundo” é que apenas encontramos o segundo.

Certamente esses indivíduos cresceram e tiveram, até em parte da sua vida adulta, ligados a religiões não reencarnacionistas, para só depois da madureza se converterem ao Kardecismo.

Esquecem ou simplesmente passam por cima do magistral ensinamento que Kardec nos dá a esse respeito quando fala:

4. A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As ideias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo. Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo termo ressurreição, o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. Com efeito, a ressurreição dá ideia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos. A reencarnação é a volta da alma ou Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo. A palavra ressurreição podia assim aplicar-se a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros profetas. Se, portanto, segundo a crença deles, João Batista era Elias, o corpo de João não podia ser o de Elias, pois que João fora visto criança e seus pais eram conhecidos. João, pois, podia ser Elias reencarnado, porém, não ressuscitado.[1]

Se essas pessoas, profitentes incautos da Doutrina Espírita que são, fossem mais atentas, já teriam visto na obra inaugural da Codificação Kardeciana, as duas questões seguintes escritas pelo Espírito São Luís:

1010. O dogma da ressurreição da carne será a consagração da reencarnação ensinada pelos Espíritos?

“Como quereríeis que fosse de outro modo? Conforme sucede com tantas outras, estas palavras só parecem despropositadas, no entender de algumas pessoas, porque as tomam ao pé da letra. Levam, por isso, à incredulidade. Dai-lhes uma interpretação lógica e os que chamais livres pensadores as admitirão sem dificuldades, precisamente pela razão de que refletem. Porque, não vos enganeis, esses livres pensadores o que mais pedem e desejam é crer. Têm, como os outros, ou, talvez, mais que os outros, a sede do futuro, mas não podem admitir o que a ciência desmente. A doutrina da pluralidade das existências é consentânea com a justiça de Deus; só ela explica o que, sem ela, é inexplicável. Como havíeis de pretender que o seu princípio não estivesse na própria religião?”2

Assim, pelo dogma da ressurreição da carne, a própria Igreja ensina a doutrina da reencarnação?

“É evidente, demais essa doutrina decorre de muitas coisas que têm passado despercebidas e que dentro em pouco se compreenderão neste sentido. Reconhecer-se-á em breve que o Espiritismo ressalta a cada passo do texto mesmo das Escrituras sagradas. Os Espíritos, portanto, não vêm subverter a religião, como alguns o pretendem. Vêm, ao contrário, confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. Como, porém, são chegados os tempos de não mais empregarem linguagem figurada, eles se exprimem sem alegorias e dão às coisas sentido claro e preciso, que não possa estar sujeito a qualquer interpretação falsa. Eis por que, daqui a algum tempo, muito maior será do que é hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e crentes.”[2]  SÃO LUÍS[3]

Para corroborar as duas questões propostas acima, Allan Kardec nos dá um esclarecedor comentário a seguir:

Efetivamente, a Ciência demonstra a impossibilidade da ressurreição, segundo a ideia vulgar. Se os despojos do corpo humano se conservassem homogêneos, embora dispersos e reduzidos a pó, ainda se conceberia que pudessem reunir-se em dado momento. As coisas, porém, não se passam assim. O corpo é formado de elementos diversos: o oxigênio, hidrogênio, azoto, carbono, etc. Pela decomposição, esses elementos se dispersam, mas para servir à formação de novos corpos, de tal sorte que uma mesma molécula, de carbono, por exemplo, terá entrado na composição de muitos milhares de corpos diferentes (falamos unicamente dos corpos humanos, sem ter em conta os dos animais); que um indivíduo tem talvez em seu corpo moléculas que já pertenceram a homens das primitivas idades do mundo; que essas mesmas moléculas orgânicas que absorveis nos alimentos provêm, possivelmente, do corpo de tal outro indivíduo que conhecestes e assim por diante. Existindo em quantidade definida a matéria e sendo indefinidas as suas combinações, como poderia cada um daqueles corpos reconstituir-se com os mesmos elementos? Há aí impossibilidade material. Racionalmente, pois, não se pode admitir a ressurreição da carne, senão como uma figura simbólica do fenômeno da reencarnação. E, então, nada mais há que aberre da razão, que esteja em contradição com os dados da Ciência.

É exato que, segundo o dogma, essa ressurreição só no fim dos tempos se dará, ao passo que, segundo a doutrina Espírita, ocorre todos os dias. Mas, nesse quadro do julgamento final, não haverá uma grande e bela imagem a ocultar, sob o véu da alegoria, uma dessas verdades imutáveis, em presença das quais deixará de haver cépticos, desde que lhes seja restituída a verdadeira significação? Dignem-se de meditar a teoria espírita sobre o futuro das almas e sobre a sorte que lhes cabe, por efeito das diferentes provas que lhes cumpre sofrer, e verão que, exceção feita da simultaneidade, o juízo que as condena ou absolve não é uma ficção, como pensam os incrédulos. Notemos mais que aquela teoria é a consequência natural da pluralidade dos mundos, hoje perfeitamente admitida, enquanto que, segundo a doutrina do juízo final, a Terra passa por ser o único mundo habitado.[4]

Ainda no primeiro parágrafo do referido e elucidativo comentário Kardeciano que acabamos de ver, não podemos deixar de lado as frases: "Efetivamente, a Ciência demonstra a impossibilidade da ressurreição, segundo a ideia vulgar". E fala mais: [...] "Há aí impossibilidade material. Racionalmente, pois, não se pode admitir a ressurreição da carne, senão como uma figura simbólica do fenômeno da reencarnação".

Sinto, sinto muito nós ainda contarmos em nossas fileiras, com os chamados “Espiritólicos” (Espíritas e Católicos) ou “Espiritantes” (Espíritas e Protestantes).

Obs.: Aqui não vai nenhum comentário pejorativo a essas religiões citadas.

Uma certeza tenho: “com o tempo e consequentemente com a reencarnação, todos, absolutamente todos, serão Espíritas por inteiro”.

 


[1] ESE, (PDF), FEB, 112ª. Ed. Cap. 4, it. 4.

[2] LE (PDF), FEB, 76ª. Ed., q. 1010-1011.

[3] Protetor da Sociedade Espírita de Paris.

[4] Comentário de Allan Kardec após as questões 1.010 e 1.011.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita