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por Altamirando Carneiro

 

Da negação de Pedro ao nosso dever de servir


Eu lhe digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes você me negará. 
(Lucas, 22-34)


Coragem não faltava a Pedro. Ainda minutos antes havia dito a Jesus que estava disposto a morrer com Ele. Em outra ocasião, com a espada havia enfrentado um soldado, merecendo de Jesus a célebre orientação: "Cuidado, Pedro, pois quem fere com a espada, com a espada será ferido". Apresentava Jesus à humanidade, pela primeira vez, a lei de causa e efeito.

Sabemos que não há acaso na obra Divina. Cristo havia trazido o Cristianismo para a Terra, porém a sua consolidação requeria continuidade de esforços de seus seguidores e a Pedro estava designada tarefa hercúlea, após a desencarnação do Mestre. Que teria acontecido ao Cristianismo nascente se Pedro não tivesse corajosamente regido a Casa do Caminho em plena Jerusalém, cidade onde Jesus foi condenado? 

A chama da fraternidade foi por muito tempo heroicamente ali mantida acesa, por Pedro e pelos que o assessoravam, apesar dos riscos imensos que correram. Muitos foram socorridos e muitas dores foram mitigadas, apesar das constantes ameaças que os apóstolos receberam. Pedro, que nega Jesus, posteriormente coloca o coração na edificação da obra gigantesca, com a bravura de seu amor, a fim de que o maior acontecimento na Terra após a implantação da vida pudesse ocorrer, ou seja, a implantação do Evangelho redentor.

Somos todos nós, hoje, aqueles a quem cabe a responsabilidade de dar continuidade à manutenção do Cristianismo. Façamos por nossa vez uma análise introspectiva, para vermos se, de forma desnecessária, não temos negado Jesus. Quantas vezes somos por Ele visitados na pessoa de nosso próximo, sem nos dignarmos a atendê-Lo? "Cada vez que ajudares a um destes meus pequenos é a Mim que o estás fazendo...", disse-nos o Mestre.

E no campo do apaziguamento? Quantas vezes Ele espera que sejamos os conciliadores e, no entanto, agimos inversamente? E os melindres? "... Perdoai não uma, mas setenta vezes sete vezes..." - Perdoar é esquecer a ofensa feita pela pessoa que nos ofendeu. E a traição? "... Sede mansos como as pombas..." A pior ação que podemos fazer é negá-Lo nas nossas ações. 

Seguir a Jesus - E seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e o lamentavam. (Lucas, 23-27)

Muitos seguiam Jesus, desta vez não mais para se beneficiarem de Seus ensinamentos, mas pelo espetáculo desumano que lhes era propiciado. Oscilavam entre o amor do Mestre e a esperança de algo poderem Dele receber, e os instintos mórbidos não bem controlados. 

Oscilamos também, ainda nos dias de hoje, entre a luz nas decisões com amor e as trevas das decisões menos nobres. Seguimos o Mestre por sabermos que nos pode socorrer nas necessidades por que passamos, porém Dele nos esquecemos quando, no fragor das lutas redentoras, tomamos decisões que prejudicam aqueles com quem convivemos. 

Seres em evolução, ainda conservamos a incoerência dentro de nós. Quantas vezes, quando a oportunidade de exercitarmos o perdão é colocada à nossa frente, tal como fez a turba enfurecida que sentenciou Jesus à morte, passamos a exigir a pena máxima? quantas vezes, com problemas de relacionamento, se somos solicitados a exemplificar o amor, quase sempre recordamos aquele fato desagradável, e modificamos nosso íntimo e passamos a emitir desejos de vingança?

Temos dificuldade em entender a traição de Judas, mas muitas vezes, quando o momento requer silêncio, passamos a denúncias descabidas. Pedimos ajuda ao Alto, mas se surge a oportunidade de servir, ajudando o nosso próximo, pretextamos falta de tempo para modificar a rotina de nosso comportamento. 

Seguir a Jesus de forma correta e sem vacilações requer decisão firme de nossa parte. Não basta sermos por Ele atendidos, é necessário que o atendamos também. A obra Divina necessita de nossa colaboração constante e segui-Lo significa estarmos atentos a todos os Seus convites para que nos ajudemos mutuamente. 

Como Jesus, sejamos hoje aqueles que dão de comer a quem tem fome, de beber aos sedentos, os que mitigam as dores do corpo e da alma, os que socorrem sem esmorecimentos. 

Jamais deixemos que o lado negativo de nossa personalidade prevaleça. Observemo-nos sempre para que de nós saia apenas o que de melhor tivermos. Sejamos os trabalhadores incansáveis enquanto estivermos a caminho. Que as necessidades pessoais não se sobreponham ao trabalho no campo do bem que devemos realizar; que nenhum melindre seja tão forte que nos faça desistir; que o orgulho não nos ofusque a visão da Luz. 

Seguir a Jesus é, portanto, passarmos de solicitantes a colaboradores, em que pese necessitarmos de Sua ajuda constante.
  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita