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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

O crime não compensa


“Ladrão que rouba ladrão merece cem anos de perdão” e “a ocasião faz o ladrão” são expressões frequentemente empregadas no Brasil e que procuram justificar o roubo, ou reduzir a sua gravidade. Ou ainda a expressão, “jeitinho brasileiro”, que por um lado revela a habilidade de sair de situações complicadas, e, por outro, mostra que a malandragem aparece e pode prejudicar terceiros. Ou também a “lei do Gerson”, segundo a qual se deve levar vantagem em tudo, não importando se estamos agindo de forma correta ou equivocada.

A verdade é que temos muitas dificuldades em levar uma vida honrada. Aí estão o empresário e o político que enriqueceram através de propinas e desvio de dinheiro público, os guardas e fiscais que aceitam uns trocados para facilitar as coisas, ou os ladrões comuns, os traficantes, os assaltantes de banco. Diante de tudo isso há quem acredite que não vale a pena ser honesto. Quando homens reconhecidamente desonrados desfilam em seus carros de luxo, ou são vistos em suas mansões, podemos ter a impressão de que o crime compensa.

Grande engano pensarmos assim. Não podemos acreditar nas aparências e precisamos examinar essas condições com mais profundidade.

Primeiro, esses homens não conhecem o contentamento real: vivem atormentados pelo medo de serem pegos pela polícia e ficarem – eles e seus familiares – desmoralizados pela opinião pública. Muitos acabam se viciando em drogas e álcool, tomando altas doses de calmantes e sendo obrigados a lidar com outros tantos bandidos que, muitas vezes, vivem de chantagens e de exigências absurdas. Seus filhos, por outro lado, muitas vezes, só lhes trazem aborrecimento, pois, seguindo o exemplo dos pais, se perdem nas trilhas do crime.

Segundo, muitos deles são descobertos, mortos na flor da idade ou passam longos anos na cadeia, afastados da família. É curioso notar que a população carcerária, em maioria esmagadora, é formada de pessoas jovens, o que nos leva a pensar que bandidos raramente envelhecem, pois morrem antes.

Terceiro, em algum momento, a consciência vai cobrar deles as atitudes más. Eles tomarão ciência do sofrimento ocasionado e só encontrarão a paz quando repararem todo o mal feito. Nossa consciência é um juiz implacável. Durante algum tempo conseguimos resistir aos seus apelos, sempre à custa de muita angústia e desespero, mas o momento do despertamento surge sempre. Só o bem tranquiliza a alma e dá a alegria de viver. Quando lesamos o outro, lesamos a nós mesmos, pois todos estamos interligados na teia do amor divino.

Existe a história de um homem que começa a fazer um furo no barco onde ele se encontrava. Reprovado pelos demais passageiros, retrucou que nada tinham a ver com sua atitude, pois fazia o buraco sob seu próprio assento.

Consciência coletiva não é mero jogo de palavras, ou frase de efeito político, mas representa a nossa própria sobrevivência. É infantilidade de nossa parte acreditar que nossas ações não têm consequências. Tudo na vida tem as suas consequências. Se não conseguimos identificá-las na atual existência, certamente, as veremos nas existências seguintes. Apenas quando jogamos dentro das regras damos significado profundo à nossa vida. Somente o que adquirimos através do trabalho honesto nos pertence de verdade.

Anotou Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, item 884:

Propriedade legítima só é aquela que foi adquirida sem prejuízo de outro.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita