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por Jane Martins Vilela

 

Consolação


“Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho-lhes dizer que elevem sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor estava presente no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos consoladores virão enxugar suas lágrimas.”
 - O Espírito de Verdade (O Evangelho segundo o Espiritismo).


O lado mais belo do Espiritismo é a consolação que prodigaliza aos aflitos, em todos os sentidos. O conhecimento da reencarnação é esclarecedor. Nele, a justiça divina se revela com toda a sua beleza, com todo o seu amor.

Léon Denis, em seu livro Depois da Morte, ainda hoje conquista os leitores dada a atualidade do que ali expõe. Revela ele que a dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo para as imperfeições, para as enfermidades da alma. Sem ela, não é possível a cura. Assim como as moléstias orgânicas são muitas vezes resultantes de nossos excessos, assim também as provas morais que nos atingem são consequências das nossas faltas passadas. Cedo ou tarde, essas faltas recairão sobre nós, com suas deduções lógicas. É a lei de justiça, de equilíbrio moral. Saibamos, diz ele, aceitar seus efeitos, como se fossem remédios amargos, operações dolorosas que devem restituir a saúde, a agilidade ao nosso corpo. Embora sejamos acabrunhados pelos desgostos, pelas humilhações e pela ruína, devemos sempre suportá-los com paciência.

No livro Boa Nova, pela mediunidade de Chico Xavier, o Espírito Humberto de Campos revela de modo belo uma conversa de Jesus com Tiago e André, que estiveram presentes em seu encontro com Nicodemos. Ali, Jesus demonstra a eles a beleza do amor de Deus e sua justiça.

Diz ele a Tiago que a maioria dos homens examinou o texto dos profetas antigos com a visão exígua. Investigaram as revelações do céu de acordo com seu próprio egoísmo e organizaram a justiça como o edifício mais alto do idealismo humano. E, entretanto, disse a Tiago, coloco o amor acima da justiça do mundo e tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados.

Precisamos cuidar-nos, para que também nós não apenas enxerguemos a justiça e sua necessidade, mas, sim, todo o amor divino que age sobre tudo e sobre todos.

Em tudo viceja o amor. Nas maiores dores vejamos a expressão do amor, das oportunidades de escolha, e das chances de reparação do passado doloroso. A reencarnação é a grande chave. Com ela abre-se o portal do entendimento e o raciocínio se aclara, a fé surge e o conhecimento liberta.

O Espiritismo consola, no momento em que esclarece e demonstra os fatos que os próprios Espíritos nos fornecem. A dor torna-se remédio e a resignação um sustentáculo da fé que se agiganta.

Temos conhecido pessoas maravilhosas, verdadeiros heróis da resignação. Pessoas que mesmo em dor sorriem, vivem bem.

Jerônimo Mendonça, “O Gigante Deitado”, um desses grandes, não anônimo, pois conhecido no Espiritismo, cantava a dor, sua enfermeira amiga. De modo intenso, exemplificou a resignação.

Como ele, e em escala menor, temos visto tantos! Exemplos de coragem para o mundo onde estagiam.

Há uns três meses conversamos com uma jovem senhora paraplégica, que teve poliomielite na infância, pouco tempo antes de esta ser erradicada do Brasil. Que sorriso lindo o dela! Qual sua religião? Não perguntamos e ela não mencionou. Não importa. Ela estava corajosa. Não tinha o conhecimento do Espiritismo, pois os espíritas facilmente se reconhecem por seus apontamentos feitos no diálogo. Pensamos conosco que maior ainda seria sua consolação se o conhecesse, mas respeitamos, pois não nos inquiriu. Um bom humor incrível! Fez-nos lembrar do Jerônimo, o gigante que mencionamos. Perguntamos-lhe se ela sempre tem o humor alegre. Ela disse que sim e emendou com esta observação: - Acredita que há pessoas que me falam que, como sou sempre alegre, não sei o que é sofrer!... Acho que elas estão cegas no seu egoísmo, não enxergam que estou paraplégica, na cadeira de rodas. Mas só estou paraplégica, não estou paralisada do cérebro e, enquanto viver, serei assim, agradecida a Deus pela vida e pelo que me proporciona.

Isso é ensinamento. Pessoas em condições difíceis dando valor à vida e exteriorizando a alegria de viver.

O Jerônimo era assim. Inteligência, bom humor, resignação, capacidade incrível de trabalho no bem e palestras de grande profundidade e beleza, que ele realizava sob a inspiração de benfeitores elevados. Tinha tudo para se acomodar no leito e ficar inoperante, mas trabalhou como seareiro de Jesus até a véspera de sua morte. O retrato da resignação.

Vale a pena analisar como estamos nós. Conhecimento espírita é consolação. Pois que estejamos consolados, aumentemos nossa fé.

Os tempos estão difíceis. Sabemos, no entanto, que o amor há de vencer e que o bem triunfará. Consolemo-nos e consolemos aos demais, por nossa vez, pois a bondade de Deus está sempre colocando ao nosso lado, para exemplificar, aqueles que estão em situação pior que a nossa e que estão sorrindo e amando a vida.

Coloquemos nossa casa assentada sobre a rocha e sigamos em paz, com paciência e coragem, nossa jornada terrena.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita