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por Pedro de Campos

 

O Mensageiro da Verdade


A Terra gira no espaço infinito como escola secundária de aprendizado e evolução dos Espíritos sedentos de alcançarem os mundos mais adiantados do cosmos

A Doutrina Espírita em seu aspecto geral trata do conhecimento do homem sobre Deus, do relacionamento humano com inteligências espirituais e seu modus operandi, dos ensinos de Jesus Cristo em passagens testamentárias e do que se relaciona à evolução do espírito em uma pluralidade de mundos habitados do universo. O educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail codificou a moderna doutrina tomando para distinção o codinome Allan Kardec.

Em seu aspecto teológico, a Doutrina Espírita compreende tudo quanto se relacione aos propósitos divinos mencionados na primeira e segunda revelação religiosa, respectivamente no Antigo e Novo Testamento, e na terceira revelação, exarada em O Evangelho Segundo o Espiritismo e demais livros da codificação espírita. A Doutrina dos Espíritos em seus postulados sintoniza também os fatos históricos e os avanços das ciências propriamente ditas.

No amplo conjunto literário em que se erguem os fundamentos doutrinários, cada analista espírita procura sorver os conhecimentos que satisfaçam os seus anseios mais íntimos. Então, imbuído de moderna visão espiritual, interpreta o que fora escrito inclusive no passado mais longínquo. Contextualiza os preceitos doutrinários, agrega subsídios literários e mensagens espirituais de real valor elucidativo, harmoniza tais ensinos e deles extrai os princípios morais e filosóficos capazes de instruir e formar melhor o homem de bem.

Ao articular a teologia espírita com raciocínio profundo, o pensador serve-se da ciência, da filosofia e dos preceitos religiosos da Nova Revelação para interpretar as coisas de Deus e os aspectos devocionais das coisas divinas com fé raciocinada, exigindo de si mesmo ponderação, bom senso e uso contínuo da razão.

Foi com esse estado de alma que em áureos tempos passados uma voz espiritual venerável se fez retumbante, contando aos filhos de sua abrangência uma fábula antiga para tocar o mundo da modernidade.

Disse essa voz venerável que uma antiga lenda conta que uma formiga, ainda muito pequena, vivia em região boa para uns, mas ruim para outros. Certo dia, a formiguinha ouviu dos homens que passavam por aquelas campinas sobre a existência de um planeta lindo. A pequena formiga ficou pensando: “Onde será que fica essa coisa tão linda chamada planeta azul? Onde fica essa beleza?”.

Foi então que passou por ali uma formiga grande e bem mais velha. A formiguinha lhe perguntou: “Você, que é mais velha e tem mais experiência, pode dizer-me onde fica aquilo que os homens chamam de planeta azul? Eu acho que ele deve ser muito bonito e quero conhecê-lo”.

A velha formiga torceu o corpo com dificuldade, olhou para trás e disse: “O planeta azul? Ah, querida, você está pisando nele agora. Está nos seus pés”.

“Claro que não, senhora – rebateu a formiguinha muito aborrecida – isto aqui é terra, apenas terra, nada mais que terra!” E afastou-se triste, desiludida, indo procurar em outro lugar seu lindo planeta azul. Na verdade, faltava a ela algo em seu interior para ver a beleza que só pode ser notada pela alma.

Após contar essa história, a voz venerável ainda prosseguiu. Falou aos filhinhos que num passado distante, ela mesma estagiando então em um antigo mosteiro, dissera aos internos daquela comunidade que a miopia da formiguinha era característica daqueles que não percebem Deus dentro de si. Assim, ficam longe do que os olhos da carne não podem ver e, como céticos, não percebem a felicidade que emana das coisas mais simples.

A voz venerável, num relâmpago de memória, recordou-se então de um poema de Davi, um dos que o salmista declamara fervoroso no Antigo Testamento:

“Guardai-me, ó Deus, porque em vós procuro refúgio. Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim. Quão admirável tornastes o meu afeto para com os que estão na Terra. Vós tendes nas mãos o meu destino. Diante dos meus olhos sempre vos coloco, pois se estais comigo, nunca vacilo. Assim, o meu coração se alegra e a minha alma se rejubila, enquanto o meu corpo descansa seguro, porque sei que não me abandonareis, e que me serão abertas as estradas da vida, a fartura da alegria e as delícias eternas enquanto comigo estiveres” (Sl 15).

A voz da venerável alma ainda prosseguiu instruindo aos espíritos cheios de fé para que, ouvindo essa prece do salmista, rogassem ao Pai para estar sempre com eles, pedindo que lhes concedesse sabedoria para reconhecer na Terra monótona em que pisam a Sua presença sutil e magnânima. Assim, eles haveriam de notar o belíssimo planeta azul da criação divina, Terra que gira no espaço infinito como berço a oferecer-lhes escola de aprendizado e evolução do espírito. Então, embalados na Sua presença e envolvidos em Seu puro e sempiterno amor, estariam seguros, pois quem está com Deus jamais está sozinho. E “se Deus está conosco, quem estará contra nós?”, indagara antes o apóstolo Paulo (Rom 8,31).

“Estejam certos, meus filhos – continuou a voz venerável –, que se sentires uma presença elevada falando ao vosso interior, é Ele que sutilmente vos fala por intermédio de um espírito mensageiro. Então, em vosso íntimo, havereis de enxergar as belezas deste planeta azul. Estareis sempre cheios de alegria, dispostos ao trabalho e confiantes no futuro, porque o aprendizado e a evolução jamais cessam nesta escola planetária azul”.

E a venerável voz aduziu que no profundo azul do espaço, desde as regiões mais obscuras até às mais próximas à glória celestial encontram-se infindáveis estâncias de vida, porque “na casa de Deus há muitas moradas” (Jo 14,2). Disse que as moradas mais elevadas do cosmos estão ali radiantes e pacientes, preparadas que foram por Ele (Jo 14,3) para acolher seus irmãos.

Aconselhou a voz da Verdade para que se procure a todo o momento por Jesus, pois dia chegará a que se haverá de encontrá-lo e depois, por acréscimo, serão trilhados os caminhos da casa de Deus na amplidão. E para chegar a tal glória, observou que o Cristo dissera em seu tempo que era preciso caminhar por Ele para chegar a essas moradas radiantes: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14,6). Caminhemos então com a Verdade para chegar ao Cristo e adentrar aos caminhos que levam a Deus em gloriosos planetas habitados do universo.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita