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por Rogério Coelho

 

Da nossa grandeza e do nosso futuro


Para penetrarmos no domínio do desconhecido e infinito das leis, precisamos de guias


“(...) Erguendo a lápide dos túmulos vazios, a reencarnação triunfa da

 morte e revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio intelectual.” - Lázaro[1]


Quando Catherine entrou pela primeira vez em seu consultório, o Dr. Brian Weiss, notável psiquiatra norte-americano, nunca podia imaginar que em alguns meses suas convicções iriam virar de ponta cabeça, visto que o horizonte que sua cliente – de maneira inconsciente – lhe abriu, era por demais vasto e assustador: vidas passadas, reencarnação, comunicabilidade dos Espíritos, imortalidade da alma... Ele não estava acadêmica e/ou psicologicamente preparado para isso! E o dilema logo se apresentou: como tornar conhecidas essas revelações?! Colocaria em risco a respeitabilidade do seu nome?  Desafiaria a ortodoxia da psiquiatria? Ele hesitava entre o dever de propagar ou a comodidade de deixar tudo como dantes no castelo de Abrantes!... Venceu o dever!...

Mal sabia ele que outra coisa não fazia senão “revelar” o que os Espíritos já haviam há dezenas de anos revelado a Kardec. Nem por isso, se reveste de menor importância o seu best-seller: “muitas vidas, muitos mestres” e outros que se seguiram.

O estranhamento do Dr. Weiss se deveu ao fato de que ele desconhecia completamente as obras de Allan Kardec e Léon Denis.  Como sabemos, aquele trouxe a lume o inigualável best-seller espírita “O Livro dos Espíritos” e este o “O Problema do ser, do destino e da dor”, no qual lemos o seguinte: “(...) podemos julgar as mensagens medianímicas principalmente por seus efeitos moralizadores, que inúmeras vezes têm melhorado muitos caracteres e purificado muitas consciências. É esse o critério mais seguro de todo o ensino filosófico.

(...) O que mais impressiona, e convence, são as conversas travadas com os nossos parentes e amigos que nos precederam na vida do Espaço. Quando provas incontestáveis de identidade nos têm dado a certeza da sua presença, quando a inti­midade de outrora, a confiança e a familiaridade reinam de novo entre eles e nós, as revelações, que nestas con­dições se obtêm, tomam um caráter dos mais sugestivos. Diante delas, as últimas hesitações do ceticismo dissipam-se forçosamente, dando lugar aos impulsos do coração.

É possível, na realidade, resistir às vozes, aos cha­mamentos daqueles que compartilharam a nossa vida, cer­caram os nossos primeiros passos de terna solicitude, às vozes, aos chamamentos dos companheiros da nossa in­fância, da nossa juventude, da nossa virilidade que, um por um, se sumiram na morte, deixando, ao partir, mais solitário, mais desolado o nosso caminho?  No transe, eles voltam com atitudes, inflexões de voz, evocações de lembranças, com milhares e milhares de provas de identidade, banais nas suas particularidades para os estranhos, tão comovedoras, entretanto, para os interessados! Dão-nos ins­truções relativas aos problemas do Além, exortam-nos e consolam-nos. Os homens mais fleumáticos, os mais doutos experimentadores não puderam resistir às influências de além-campa.

Demonstra isso que no Espiritismo não há tão so­mente, como o pretendem alguns, práticas frívolas e abusivas, mas que nele se encontra um móvel nobre e generoso, isto é, a afeição pelos nossos mortos, o inte­resse que temos pela sua memória. Não é esse um dos lados mais respeitáveis da natureza humana, um dos sen­timentos, uma das forças que elevam o homem acima da matéria e estabelecem a diferença entre ele e a alimária?

Depois, a par disso, acima das exortações comovidas dos nossos parentes, devemos assinalar os surtos pode­rosos dos gênios do Espaço, as páginas escritas febril­mente, na meia obscuridade, por médiuns do nosso conhecimento, incapazes de compreender-lhes o valor e a beleza, páginas em que o esplendor do estilo se alia à profundeza das ideias, ou, então, os discursos impressio­nantes.

(...) Na presença desses Espíritos que por momentos desceram ao nosso mundo obscuro e atrasado para nele fazerem brilhar uma fulguração do seu gênio, o criticismo mais exigente turba-se, hesita e cala-se...

Quantos outros Espíritos eminentes não espalharam assim os seus ensinamentos pelo mundo, na intimidade de alguns grupos! Quase sempre anônimos, revelam-se apenas pelo alto teor das suas concepções. Foi-me dado soerguer alguns véus que encobriam a sua verdadeira personalidade. Devo, porém, guardar segredo, porque a fina flor dos Espíritos se distingue precisamente pela particularidade de se esconder sob designações emprestadas e querer ficar ignorada. Os nomes célebres que subscrevem certas comunicações, vazias, não são, na maioria dos casos, mais do que um engodo.

Quis com estes pormenores demonstrar uma coisa: que esta obra não é exclusivamente minha, que é, antes, o reflexo de um pensamento mais elevado que procuro interpretar. Está de acordo em todos os pontos essenciais com as vistas expressas pelos instrutores de Allan Kardec”.

As seguintes palavras de Léon Denis coincidem bem com a corajosa atitude do Dr. Brian Weiss de publicar o resultado de suas sessões com Catherine, navegando contra a violenta e preconceituosa correnteza do status quo vigente:

“(...) Considerei como um dever conseguir que destes ensi­namentos tirassem proveito os meus irmãos da Terra. Uma obra vale pelo que é. Seja o que for que pensem e digam da Revelação dos Espíritos, não posso admitir que, quando em todas as Universidades se ensinam sistemas metafísicos arquitetados pelo pensamento dos homens, se possa desatender e rejeitar os princípios divulgados pelas nobres Inteligências do Espaço.

O estimarmos os mestres da razão e da sabedoria hu­mana não é motivo para deixarmos de dar o devido apreço aos mestres da razão sobre-humana, aos representantes de uma sabedoria mais alta e mais grave. O espírito do homem, comprimido pela carne, privado da plenitude dos seus recursos e percepções, não pode chegar de per si ao conhecimento do Universo invisível e de suas leis. O círculo em que se agitam a nossa vida e o nosso pensa­mento é limitado, assim como é restrito o nosso ponto de vista. A insuficiência dos dados que possuímos torna toda a nossa generalização impossível. Para penetrarmos no domínio desconhecido e infinito das leis, precisamos de guias. Com a colaboração dos pensadores eminentes dos dois mundos, das duas humanidades, é que alcançare­mos as mais altas verdades, ou pelo menos chegaremos a entrevê-las, e que serão estabelecidos os mais nobres prin­cípios.  

Muito melhor e com muito mais segurança do que os nossos mestres da Terra, os do Espaço sabem pôr-nos em presença do problema da vida e do mistério da alma, e, igualmente, ajudar-nos a adquirir a consciência da nossa grandeza e do nosso futuro”.  


 

[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XI, item 8, § 2º.

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita