Artigos

por Bruno Abreu

 

Vou cair!!!

Imagine você que está num barco, na corrente forte de um rio, em direção a uma grande queda de água.

Uma imagem um pouco assustadora que nos leva a perceber facilmente como as nossas hipóteses de sobrevivência são complicadas.

Todos nós nos encontramos nesta posição mais vezes do que podemos imaginar: uma imagem criada para muitas das situações que ocorrem no desenrolar da existência terrena.

Troquemos o rio pela vida, a corrente pelos problemas, o barco pelo Ego, a pessoa pela nossa consciência - o nosso ser mais puro que, embora não seja o espírito, é influenciado diretamente e moralmente por este - e a cascata é fácil de perceber que é a nossa queda diante do problema.

O rio é a vida e todo o seu fluxo é o que vamos nos deparando de bom e de mau, onde vamos pescando e nos alimentando, por vezes mais atarefados, outras com um leito mais calmo onde podemos aproveitar e descansar, mas nunca parado. Este fluxo mistura-se com o crescimento do ser tornando-se num só, é de um movimento bidirecional, sendo influenciado por nós, pelos nossos atos, mas também nos influenciando e ajudando a crescer.

O barco que vai dentro do rio, influenciado e movimentado diretamente por este e pelas suas correntes, é o Ego.

O que é o Ego? O Ego é aquele ser que nasceu na Terra, tem toda a influência do seu crescimento, do seu aprendizado, da sua família, da sua escola, profissão etc…; é onde se faz toda a movimentação terrena, incluindo a  da tentação que Jesus nos alerta em “Vigiai e Orai para que não entreis em tentação”. Uns afirmam que é o corpo mental, outros que é o cérebro; a Psicologia o chama de Ego.

A pessoa que vai no barco é a consciência profunda, porque todos nós que estamos reencarnados temos em nós o “ser” em sua essência, que normalmente se revela em forma de consciência. Quando paramos e nos permitimos, dá-se um fluxo de movimento saudável e restaurador entre esta nossa essência e o ser que construímos na Terra. Conforme vamos permitindo o desenvolvimento deste fluxo e aumentando-o através da sabedoria, do autoconhecimento, o Ego vai se reestruturando e harmonizando, e, como “consequência”, o aumento do fluxo, a compreensão, e o desenvolvimento das virtudes latentes em todos nós, como filhos de Deus, não fosse o “Reino de Deus“ existente dentro de nós. As “virtudes” alicerçadas no Ego, construídas pelo conhecimento das palavras, são temporárias e fúteis, aumentando o autovalor quando  cavalga em direção ao Orgulho e, por isso, há os doutores da Lei que continuam a viver entre nós cheios de uma “sabedoria” que só eles conseguem ver, por não alcançarem um pouco mais que suas palavras, vivendo com ações miseráveis.

Quanto ao fluxo do rio que é problema quando aumenta e nos deixa embaralhados, sendo mais difícil raciocinar quanto maior nos parecer a tribulação.

E quanto maior a agitação, mais o barco se abana e mais difícil é controlá-lo; o barqueiro vai deixando de o ter sob controle, perdendo a capacidade de raciocínio ou de ver claramente a situação.

Parece-me que esta imagem é comum na vida, ocorrendo repetidamente ao longo dos dias, principalmente nas alturas mais tenebrosas da vida.

O que vai acontecendo com o barco ao longo da vida?

Esta é a parte mais interessante. Embora muitas das vezes tudo nos pareça escuro, na verdade, o que tanto nos assusta é a completa destruição - apenas uma imagem ilusória, como a do Papão. O pior que nos pode acontecer é a desencarnação, e aí se dará a libertação do barqueiro e a hora da revisão da viagem. É claro que nenhum de nós quer “abandonar” a família, a vida terrena e o que nos prende aqui, mas a boa noticia é que, em cada vida terrena, isso só acontece uma vez.

Então, colocando de lado a total destruição, que será uma raridade, sobra, na pior das hipóteses, umas mazelas. Assim, por que ficamos tão maltratados?

Nós não ficamos maltratados pelas quedas que damos, mas pelo sofrimento que nos infligimos. É como a criança que vai tomar uma vacina: chora 30 minutos antes, com medo de sofrer, não percebendo que este é o próprio sofrimento. Entra em pânico, tem que ser segurada pelos pais e tudo termina em segundos. No final, fala consigo mesma: “afinal, doeu pouco”, “na próxima vou ser mais forte”. E o que acontece na próxima vez?

Por falta de atenção, só nos apercebemos dos problemas quando sentimos a água a puxar-nos; nossa cabeça começa a trabalhar incessantemente, e, tal como o barco que não para de mexer, tentamos fazer de tudo para virá-lo, entramos em pânico, batemos nas rochas, maltratamos o casco, sofremos antecipadamente como a criança da vacina,  até que chegamos à queda. Aí já não se vê solução, sentamo-nos no barco e oramos. O barco cai e continua seu caminho, dia após dia, anos após anos. Podemos perceber isto facilmente quando nos viramos para trás e vemos o caminho percorrido - o nosso passado -, compreendendo que não poderíamos ter tido uma outra forma de passar pela tribulação, sendo que muitas delas foram criadas ou aumentadas por nós.

O maior problema deste barco é que nós o carregamos com orgulho, egoísmo, raiva, ódio, e vamos ficando sem espaço para o barqueiro; tantas vezes quase que o anulamos. Só não o fazemos porque não nos é permitido, uma vez que faz parte de um ser eterno. Às vezes sentimos que nos chamam a atenção e, à semelhança dos bons conselhos que não queremos ouvir, simplesmente desaparecem, não se impondo nem em tom, nem com insistência. Esta surdez traz-nos complicações no presente, estamos constantemente envolvidos em problemas psicológicos criados por nós e, no futuro, surgem as consequências mais graves, onde se inclui a reparação daquilo que estragamos, seja nas relações familiares ou de amizade, seja em nós próprios. Na altura do desencarne passaremos a viagem em revista e eu acredito que a maior frustração será ao percebermos que fomos vencidos por nós mesmos, pelas nossas más tendências, e que poderíamos ter feito algo diferente, sem um grande esforço.

Como podemos tornar a nossa viagem mais agradável?

Jesus pediu-nos para amarmos uns aos outros e ter Fé, e é fácil perceber que o Amor e a Fé são os medicamentos indicados para não sofrermos tanto agora, nem nos frustrarmos no futuro.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita