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por Rogério Coelho

 
Provações antecipadas


A resignação e a confiança em Deus transformam nossas expiações em provas


“O estudo sistematizado e tranquilo da Codificação Espírita fornece exuberante material de esclarecimento para qualquer dificuldade.” - 
Vianna de Carvalho[1]


Voluntarioso, atrabiliário, egoísta, embrutecido, violento e extremamente ignorante...  Era o protótipo da imperfeição encarnado. Não obstante, tudo lhe corria às mil maravilhas: era temido mais do que respeitado, tinha sucesso nos negócios, esposa dedicada, filhos boníssimos e inteligentes... A vida transcorria com suas vicissitudes próprias, mas a “boa estrela” nunca o abandonava.  Sabia superar os obstáculos e estava sempre no “topo do mundo”. Até que um dia... começou a ler a Bíblia! Ficou encantado com seu teor, e especialmente com os conteúdos Neotestamentários, onde estão registradas as imarcescíveis instruções de Jesus. A partir daí, começou a frequentar, com assiduidade, um dos segmentos evangélicos do Cristianismo.   Então as coisas começaram a mudar: para pior!... A esposa, que até então era tão dedicada e dócil, abandonou-o iludida pelos encantos de um jovem sedutor; os negócios foram fracassando a olhos vistos e a breve tempo a ruína ganhou contornos de triste realidade...

Certo dia viajou para o Rio de Janeiro onde residia um irmão que lhe emprestou um dinheiro para socorrer a algumas necessidades mais prementes e... foi assaltado, perdendo tudo... 

Ele suportava os abundantes reveses e vicissitudes com paciência, tolerância, resignação e com uma incondicional fé em Deus.... As pessoas ficavam admiradas, sem compreender.... Antes, tudo lhe sorria; agora, com mais razão, tudo deveria estar melhor.  Mas não estava; ia de mal a pior...

O Espiritismo explica facilmente a história dessa criatura. É um caso de antecipação de provas. Agora que ele havia se deixado penetrar pelos lúcidos e esclarecedores ensinamentos de Jesus, vislumbrando mais amplos horizontes, foi-lhe outorgado, a próprio pedido durante a emancipação pelo sono, a antecipação das provas a que deveria submeter-se em encarnações futuras, para sua ascensão espiritual e também como expiação gerada por seus passados desatinos.

Segundo Kardec, a resignação e a confiança em Deus transformam nossas expiações em provas. E todo sofrimento resignado denota uma alma que escolheu suas vicissitudes e sofre-as com coragem porque sabe que quanto mais inditoso e resignado for agora, mais ditoso será no porvir.

Aprendemos com Vianna de Carvalho1“(...) as pessoas cujas dores lhes pareçam adição de provas são, ao contrário, bênçãos...  Porque se encontram mais bem municiados pelo conhecimento espiritual para a vida, merecem ter as provações futuras antecipadas, e eles próprios, quando parcialmente desprendidos do corpo, pelo sono fisiológico, em lucidez, rogam-lhe seja-lhes facultado o resgate das dívidas que estavam destinadas à liberação futura. A consciência da responsabilidade amadurece o homem e o capacita para realizações hercúleas. Além disso, o grau do sofrimento está em relação à quota e ao tipo de emoção que se lhe aplica na condição de suporte e reação.   Sob o guante do desespero e envolvido pelo açodamento da revolta, as dores parecem mais superlativas, insuportáveis... De outro modo, ao amparo da confiança em Deus e do otimismo, com o espírito lenido pela fé, a dor é estímulo nobre para a ascensão, convidando o ser à libertação. Sob sua injunção, os fatores éticos adquirem profundidade, propondo beleza, criando valores educativos e fixando a aprendizagem superior, nos centros profundos da sensibilidade espiritual.

Sabendo que a vida na Terra tem objetivos específicos como: adquirir experiências, exercitar fraternidade, cultivar o amor, praticar a caridade, lapidar arestas morais e imperfeições; aqueles que têm conhecimento da Vida Espiritual, sem qualquer nota de frustração ou complexo de fuga, transferem para o Mundo Espírita, o verdadeiro, porque o das causas, as esperanças de conforto e felicidade, aproveitando-se da ensancha da reencarnação para ensementação do bem no solo do próprio ser...

Não têm, pois, nenhuma razão os que debandam, apoiados a justificativas injustificáveis, nem os que asseveram que o exercício do bem atrai o sofrimento.

Jesus, que não tinha nenhuma dívida a pagar, de forma insofismável, mesmo sofrendo, ensinou que o processo da dor é o de lapidação e crescimento, até que o homem compreenda que, somente pelo amor, a paz se lhe aninhará nos recessos do ser em definitivo”.

A presença do amor na vida das pessoas faz a grande diferença, pelo singelo motivo assinalado na suave expressão do Evangelista[2]“Deus é amor”.

Segundo Fabiano de Cristo aí está a síntese de tudo, porquanto[3], “(...) em tudo e em toda parte, palpita, em gérmen, o amor de Deus.

Sem o amor a vida não existiria, porquanto, o primeiro gesto do Criador, no rumo da Criação, é uma exteriorização do Seu Amor.

É o amor que emula o santo para perseverar no sacrifício. É o amor que imprime no herói as marcas da mansidão e da justiça. É o amor que levanta o campeão do trabalho, na edificação do bem geral.   É o amor que penetra a alma abrasada pela beleza e pelo bem, fazendo-a crucificar-se no ideal a que se afervora em regime de totalidade...

Quando o homem não o sabe identificar para lhe viver a expressão sublime, brutaliza-se.  

Vinculado às paixões primeiras, ao longo dos embates pelo amor, disciplina-se e se levanta para as mais alcandoradas manifestações da felicidade. (...) O sábio que não ame, tornar-se-á um monstro, por aplicar indevidamente os conhecimentos de que se enriquece.  

A inteligência destituída de amor é arma perigosa nas mãos da impulsividade e do desequilíbrio. Quando a razão não sabe como conduzir o homem, o amor aponta-lhe a rota a seguir, facilitando-lhe o empreendimento ditoso.

Graças ao amor, a jornada, mesmo áspera, se torna ditosa, concitando o caminhante a não desanimar, nem desistir, nem parar, prosseguindo intimorato até o momento final da luta. O amor de Deus, que tudo vitaliza, é o apelo para que o nosso amor vitalize uns aos outros nesta maravilhosa aventura de evolução”.


 

[1] - FRANCO, Divaldo. Sementes de vida eterna. 2. ed. Salvador: LEAL, 1989, cap. 3.

[2] - I João, 4: 8.

[3] - FRANCO, Divaldo. Terapêutica de emergência. 5. ed. Salvador: LEAL, 2002, cap. 30.



 


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita